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BRASÍLIA - Envergando o insubstituível terno de linho branco e alpercatas de couro, o ex-senador Ney Maranhão, ex-chefe da tropa de choque e um dos únicos quatro votos que o ex-presidente Fernando Collor teve contra seu impeachment no Senado, passeou na quinta-feira pelo plenário aconselhando aliados da presidente Dilma Rousseff sobre o que ela deve fazer para não ter o mesmo destino do senador alagoano: se não tratar muito bem o “boi manhoso” do Senado, não se segura no cargo.

Conhecido pelo apelido de “senador boiadeiro”, Ney Maranhão (PRN-PE), o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e o ex-senador Áureo Melo (PRN-AM) continuaram com Collor até o dia de sua queda. Em conversa com o vice-presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO) , Maranhão lhe contou que durante o processo de impeachment, aconselhou Collor a tratar melhor os políticos, mas ele não o ouviu e acho que podia governar apenas com o apoio do povo.

Segundo Maranhão, Dilma não deve perder tempo com os deputados nem com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), porque o processo de impeachment é aberto naquela Casa, mas o Senado “ com seus cabeças brancas” é quem tem a palavra final e pode barrar a cassação do mandato presidencial.

— Collor caiu porque eu chegava para ele e dizia: presidente , trate bem os boi manhoso do Senado! Se botar ferrão ele deita e nem com fogo no rabo se levanta. Dizia que se ele não fizesse isso teria cinco votos, teve quatro. Dilma ainda tem tempo de fazer isso, tem que cuidar dos boi manhoso do Senado. Se tiver o voto de 45 senadores, escapa. Tem que esquecer a Câmara. Lá ela não vai conseguir nada — aconselha Ney Maranhão.

Ele diz que fala com conhecimento de causa, porque atravessou e votou contra três processos de impeachment como deputado e senador: em 1954, como vice-líder de Getúlio Vargas, votou contra cassação de Café Filho; em 1964, contra o pedido de Castelo Branco para intervenção em Goiás e cassação de Mauro Borges, e em 1992, contra o impeachment de Collor.

Na conversa com as lideranças no Senado, Ney Maranhão argumentou que o PMDB teria de ser o ponto de equilíbrio para impedir a derrocada do País. E disse que ninguém deve confiar no PT, que já está morto e “só estão jogando um salzinho para não feder muito”. O ex-chefe da tropa de choque de Collor, que confidenciou ter acompanhado o ex-aliado na despedida do Planalto com sua garrucha no bolso, disse que nunca gostou do PT, o partido que comandou a queda do grupo collorido do poder.

— Comi o pão que o diabo amassou com o PT como líder de Collor. Só tinha um petista que eu respeitava, Suplicy, mas esse era meio doido. O PT é como formiga de roça: come tudo e só deixa o talo. Temos agora que fazer uma limpeza. Os que pegaram na botija do governo estão em casa tomando Valium (calmante) , mas vão ser pegos mais cedo ou mais tarde — sentencia Ney Maranhão.

No bolso do terno de linho branco o ex-collorido carrega um cartão plastificado já amarelado que traz a inscrição: Jiang Zemin. É a relíquia que carrega onde vai, a lembrança dos áureos tempos de poder, quando, como líder da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China para o Mercosul e Pacífico, liderou delegações de empresários mais de uma dezena de vezes aquele País. Em 1992 liderou uma delegação no encontro com o presidente e líder do Partido Comunista da China.

— Esse povo da esquerda diz que sou de direita, mas olha aqui esse cartão, veja o que está escrito: Jiang Zemin. Pela aproximação de Brasil e China, sou considerado senador honorário chinês — contou Maranhão.

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