
Após a Polícia Federal fazer operações de busca em empresas de sua filha, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa aceitou fechar ontem um acordo de delação premiada com procuradores que atuam na Operação Lava Jato para deixar a prisão. Ele é considerado uma bomba política pelos contatos que tinha quando era diretor da Petrobras.
Costa foi indicado em 2004 pelo PP, obteve depois o apoio do PT e tinha trânsito no PMDB. Ficou no cargo até 2012. Ao mesmo tempo, tinha contato com a cúpula das maiores empreiteiras do país. Ele teria dito na prisão que se contasse tudo o que sabe não haveria eleições neste ano.
Delação premiada é um recurso pelo qual um réu fornece informações para a Justiça em troca de uma pena menor. Uma nova advogada, especializada em delação premiada, foi enviada pela família a Curitiba, onde Costa está preso, para discutir os termos da delação. Beatriz Catta Preta, a defensora escolhida, já cuidou da colaboração dos doleiros Raul Srour e Richard de Mol van Otterloo. O advogado que defendia Costa, Nelio Machado, deixou o caso por discordar da estratégia. "Estão trocando uma defesa certa por uma aventura", disse Machado.
Acusação
O ex-diretor da Petrobras foi preso pela segunda vez no dia 11 de junho, após as autoridades da Suíça informarem à Justiça brasileira que ele tinha contas com US$ 23 milhões naquele país. Costa havia sido preso inicialmente em 20 de março sob acusação de ocultar provas, mas foi liberado pelo Supremo Tribunal Federal.
Ele é réu em um processo sob acusação de ter superfaturado contratos da refinaria Abreu e Lima, que está sendo construída em Pernambuco. O valor a mais teria retornado a ele como propina. O doleiro Alberto Youssef, preso com Costa, é acusado da lavagem desse dinheiro.
A decisão sobre a delação ocorreu no mesmo dia em que a PF fez operações de busca e apreensão em 13 empresas no Rio de Janeiro que pertencem a uma filha, um genro e um amigo de Costa (leia mais ao lado). A suspeita da PF e da Procuradoria é de que elas servissem para "justificar o repasse de propina" a Costa. Elas tinham contratos com fornecedoras da Petrobras que participaram da construção da refinaria Abreu e Lima e de outras obras no Rio.
O procurador da República Carlos Fernando Lima diz que todas tinham uma característica comum: "Nenhum empregado, nenhuma expertise e pagamentos de empreiteiras que prestaram serviço à Petrobras sem justificativa." Muitas não tinham funcionários registrados. Algumas receberam até R$ 3 milhões de fornecedoras da Petrobras.
A maioria das empresas está em nome de sua filha, do genro, Humberto Sampaio de Mesquita, e de sua mulher. A conexão principal entre elas, porém, é o empresário Marcelo Barboza Daniel, amigo de Costa. Ele está nos EUA, mas prometeu colaborar.
PF faz buscas em empresas de Costa
Katna Baran, com agências
As empresas alvos de mandados de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) ontem no Rio de Janeiro são suspeitas de receber dinheiro desviado de obras da Petrobras por meio de contratos com empreiteiras e consócios ligados à estatal. Segundo investigações, as verbas foram repassadas ao ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e pessoas próximas a ele.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), as investigações da Operação Lava Jato chegaram aos nomes das corporações por meio de análises de transações financeiras descobertas a partir da quebra de sigilos de Costa e seus parentes. As transferências e os trabalhos contratados são similares aos de outras empresas ligadas ao doleiro londrinense Alberto Youssef, também suspeito de envolvimento no esquema.
Conforme a PF, foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão em dez empresas e uma residência, todos no Rio. Oito empresas funcionavam no mesmo local. As corporações eram ligadas a Paulo Roberto, sua mulher, sua filha, seu genro e um sócio do genro. Este último, Marcelo Barboza Daniel, também era alvo de um mandado de condução coercitiva (levado a prestar depoimento), mas estava em viagem aos Estados Unidos.
Segundo a delegada Erika Marena, Daniel foi contatado e se colocou à disposição da Justiça. A data e o local do depoimento já estão definidos, mas não foram divulgados. O nome do empresário já havia sido citado em documentos da Operação Lava Jato, já que a empresa dele e do genro de Costa, Humberto Sampaio de Mesquita, firmou contrato de R$ 2,5 milhões com a Petrobras para prestar serviço de qualificação e capacitação.
A quebra de sigilo bancário de Costa indicou que ele movimentou numa única conta R$ 3 milhões em quatro meses de 2013 e parte desse dinheiro foi repassado por Daniel. "Foi verificado um pico de movimentação no mês de 02/2013, no valor de R$ 1 milhão, proveniente de TED recebida de Marcelo Barboza Daniel", diz relatório da PF. No mesmo documento, Barboza é citado como sócio de sete empresas com sede no mesmo endereço no Rio. Os dois genros e as filhas de Costa também são réus em um processo, acusados de destruir documentos que seriam coletados pela PF, em março.
Fachada
A suspeita do MPF é que as empresas envolvidas no esquema são de fachada. O MPF preferiu não informar a quantia total recebida pelas empresas, pois ainda não se sabe se todos os recursos foram desviados e se os serviços foram prestados.