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A megaoperação realizada por policiais civis nesta sexta-feira levou à detenção de pelo menos duas mil pessoas em apenas 13 dos 25 estados envolvidos, mas foi acusada de ser uma estratégia de divulgação da Polícia Civil. O ex-secretário Nacional de Segurança Pública, coronel José Vicente da Silva Filho, disse que a operação se assemelha mais à uma peça de marketing do que a uma ação que dê resultados no longo prazo.

Para o presidente da Federação dos Policiais Civis do Centro-Oeste e Norte, Divinato Ferreira, trata-se de uma manobra de delegados contrários ao projeto de lei orgânica das polícias, que está em discussão na Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp).

Para José Vicente, que hoje é consultor em segurança, o impacto sobre a criminalidade é limitado.

- Você tem um resultado naquele dia, mas esse tipo de ação contraria a lógica de trabalho da polícia. Há muitas realidades diferentes no país. O Rio Grande do Sul e o Paraná têm fronteiras problemáticas, São Paulo e Rio de Janeiro têm outro tipo de problema. Cada estado merece um tipo de ação diferente, em momentos diferentes - afirma o coronel.

O delegado geral da Polícia Civil de São Paulo, Mario Jordão Leme, que coordenou a operação, disse que o objetivo em todo o país era agir contra quadrilhas, mas o policial e sindicalista Divinato Ferreira também criticou duramente a ação coordenada. Segundo Ferreira, a megaoperação foi uma tentativa de aumentar o poder da categoria frente ao Ministério da Justiça.

Ainda na sexta-feira, o delegado Celso Ferro, diretor do Departamento de Atividades Especiais da Polícia Civil, em Brasília (DF), disse que o objetivo da Polícia Civil era chamar a atenção das autoridades sobre a atuação da Polícia Civil. Mas Mario Jordão - que, além de coordenador da operação, há 45 dias é também o presidente do Conselho Nacional dos Chefes de Polícia - negou que a iniciativa fosse um protesto.

Paciência, articulação e inteligência

Para o coronel José Vicente, o trabalho policial em todo o mundo depende de paciência. José Vicente diz que o que deve chamar a atenção da população e da imprensa é o trabalho resultante do uso da inteligência e da articulação das polícia.

- E isso só acontece um ano ou mais depois de iniciado esse tipo de trabalho articulado - diz o especialista, acrescentando que a população não conhece o trabalho da Polícia Civil.

José Vicente alega que o esforço de contenção da violência e dos crimes deve ser combinado entre as polícias civil e militar, que no Brasil são organizações separadas, diferentemente do que ocorre na maior parte dos países.

- Essa megaoperação da Polícia Civil foi organizada por uma entidade - o Conselho dos Chefes de Polícia Civil - que não tem nada a ver com a estrutura oficial da Segurança Pública do país. Não há o menor sentido ter uma espécie de ONG organizando uma operação desse tipo - diz José Vicente.

Segundo o ex-secretário, a função do Conselho dos Chefes de polícia Civil é pensar em alternativas para aperfeiçoar a legislação de Segurança Pública do país.

- Deflagrar uma operação dessa é responsabilidade dos secretários de segurança de cada estado - diz.

Para José Vicente, um dia depois, a população se pergunta: vamos depender de uma megaoperação anual para combater a criminalidade ou este trabalho acontece no dia-a-dia?

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