O que a cassação de Demóstenes significa para a ética na política?
Para a opinião pública, a cassação pode até parecer uma punição. Quem conhece a política, no entanto, sabe que o julgamento teve mais a ver com o jogo partidário e a disputa entre governo e oposição. Há indicativos claros de que houve mais políticos envolvidos, é só ver o andamento da CPI do Cachoeira. Mas por que só o Demóstenes tem de pagar? Demóstenes foi imolado, mas não por uma preocupação ética do Parlamento.
Então ele foi mesmo um "bode expiatório"?
Lembra quando o Collor disse ao povo "não me deixem só" em meio ao impeachment? É a mesma situação. Quando um político entra num processo irreversível de execração pública, ele é abandonado à expiação pelos colegas.
Se ele fosse de um partido grande, como PT ou PMDB, o critério de julgamento seria o mesmo?
Se ele estivesse em um partido do governo, talvez a situação fosse um pouco mais confortável. Mas vale lembrar que ministros também caíram recentemente, mesmo sendo de partidos grandes. O que está em jogo é a mensuração do estrago político, a análise de até onde um aliado vale a pena.
Por que os escândalos são tão comuns e as cassações tão raras no Congresso?
Há escândalos porque algumas vezes é interessante para um grupo político denunciar outros. Além disso, o controle da sociedade é cada vez maior. Quanto às cassações, lembre-se de que 19 senadores disseram que o Demóstenes não deveria perder o mandato. Muitas vezes deixar um possível aliado ser queimado significa perder espaço político. Há também o espírito de corpo: se eu punir hoje, posso ser punido amanhã.



