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Marquinhos Roque (esq.) ao lado do prefeito Mário Roque: pai e filho acreditam que proximidade é positiva para a cidade | Oswaldo Eustáquio/ Gazeta do Povo
Marquinhos Roque (esq.) ao lado do prefeito Mário Roque: pai e filho acreditam que proximidade é positiva para a cidade| Foto: Oswaldo Eustáquio/ Gazeta do Povo

Risco

Oposição questiona independência entre os dois poderes

Um dos opositores do governo municipal, o vereador Márcio Costa (PRP) discorda da família Roque, que não vê problemas na ligação familiar entre Executivo e Legislativo. Para ele, a proximidade entre o prefeito e o presidente da Câmara coloca em risco a independência e a imparcialidade dos poderes. "O poder Legislativo é o fiscalizador do prefeito. Dificilmente o filho vai discordar do pai", acredita. Além de ter o filho como chefe do Legislativo, Mário Roque deverá ter apenas dois dos 17 vereadores como oposição ao seu governo.

Prática comum

Cientista político e professor da UFPR, Ricardo Oliveira afirma que o caso de Paranaguá é recorrente em âmbito nacional. "É uma situação muito frequente na política brasileira, o prefeito no Executivo e o filho no Legislativo. Seria interessante que na democracia houvesse pluralidade e que pudesse haver uma fiscalização maior. Quando se tem um caso desses é uma relação mais problemática", avalia.

Oliveira acabou de lançar o livro Na Teia do Nepotismo, obra que aborda a relação entre poder e parentesco no Brasil e no Paraná. Ele cita a cidade de Paranaguá como exemplo histórico dessa prática. "Famílias tradicionais da cidade ocupam várias esferas do poder. São exemplos as famílias Guimarães e Maron. Esta última já teve membros no poder Legislativo, no Judiciário e na APPA [Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina]", cita.

Pela primeira vez na história, pai e filho comandam os poderes Executivo e Legislativo da principal cidade do litoral do estado. Mário Roque (PMDB), de 72 anos, foi eleito prefeito de Paranaguá e seu filho, Marquinhos Roque (PMDB), de 44 anos, foi escolhido pelos pares como presidente da Câmara Municipal. Outro filho do prefeito, Marcelo Roque assumiu uma espécie de supersecretaria que une duas pastas: a de Serviços Urbanos e Meio Ambiente.

Roque pai acredita que todo esse poder pode ser administrado com cautela e respeito à população e garante que a relação com o filho será positiva. "Eu acho que o Marquinhos é um bom verea­­­dor, goza de prestígio junto à população e aos colegas. Isso torna-se perigoso para nós dois porque, se o filho faz algo errado, respinga no pai e vice-versa. Mas tenho certeza que nós vamos mostrar a Paranaguá que somos de confiança e temos responsabilidade", afirma.

Derrota

Apesar dos laços familiares, a relação entre os poderes pode não ser tão harmônica quanto se imagina. Foi realizada na última quinta-feira uma sessão extraordinária para votar uma emenda que possibilitaria ao prefeito gastar até 25% do orçamento do município sem pedir autorização à Câmara. Devido à pressão popular, no entanto, a emenda foi rejeitada por 13 votos contra duas abstenções.

Mesmo com a derrota, o poder da família Roque ainda é grande. Marquinhos Roque comandará o orçamento de 6% do município como presidente do Legislativo e Marcelo Roque terá em suas mãos o orçamento de duas pastas, o que representa em torno de 10% da receita municipal.

O novo presidente da Câmara acredita que o fato de ter o pai prefeito não causa nenhum prejuízo à fiscalização do Executivo. "A Casa é formada por 17 vereadores, todos com poder de fiscalização. Além disso, como filho do prefeito, tenho intimidade para apontar problemas e ajudar a resolver. Nada vai se sobrepor ao interesse público e o resultado será o melhor para a população de Paranaguá", garante Marquinhos.

A situação inusitada é questionada por especialistas e pelos vereadores da oposição."Esse fato praticamente anula a principal função da Câmara, que é fiscalizar o Executivo. Como o filho vai contra o pai?", diz Antônio Ricardo dos Santos (PP). O cientista político Ricardo Oliveira, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), acredita que a atual legislação é tolerante com o fenômeno de relação familiar na política."Não é uma prática ilegal, no entanto, ela pode ser considerada nepotismo no sentido sociológico da palavra", explica.

Uma história que começou nos anos 50

A história da família Roque em Paranaguá começa no fim da década de 1950 quando o angolano Mário Manuel das Dores Roque chegou ao Brasil em um momento em que seu país passava por uma crise. Trabalhou alguns anos como vigia portuário e logo assumiu a presidência do Sindicato dos Vigias portuários de Paranaguá.

Roque se destacou como sindicalista e em 1992, com o apoio dessa classe de trabalhadores, foi eleito vereador em Paranaguá. Em seu primeiro ano de mandato conquistou a presidência do Legislativo, cargo ocupado hoje pelo filho Marquinhos Roque. E já em 1996 foi eleito prefeito, sendo reeleito em 2000.

No sangue

Marquinhos Roque cresceu vendo o pai fazer política. Não era o mais velho dos seis filhos de Mário Roque, mas era o que mais se interessava pela política e desde jovem acompanhou o pai na vida pública. A recompensa foi a Secretaria Municipal de Esportes, da qual foi o titular no segundo mandato do pai. Marquinhos também foi presidente do time do Rio Branco, cargo também ocupado por Mário Roque. Em 2008 foi eleito pela primeira vez vereador de Paranaguá.

O novo presidente do Legislativo parnanguara lembra fisicamente o prefeito quando era mais jovem. "Sou parecido com ele em quase tudo. Tenho orgulho de dizer que aprendi a fazer política com o meu pai. Desde os tempos de sindicato acompanho ele. Por isso o desejo de ter uma vida pública foi despertado em mim", avalia Marquinhos.

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