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| Foto: OrlandoBrito/Coligação Muda Brasil

A disputa entre o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é inevitável em 2017. Mas setores do partido acham que, se o Congresso realmente concluir a aprovação do fim da reeleição, defendida por Aécio desde quando era governador de Minas, em 2007, a disputa poderá ser amenizada. Isso porque eles poderiam chegar a acordo para que o outro disputasse o pleito seguinte mesmo em caso de vitória.

‘Reeleição matou uma geração’, diz o tucano Luiz Carlos Hauly

Para ele, instituto privou muitos que tinham condições de chegar ao poder

Há 40 anos na vida pública, o tucano Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) admitiu em sua declaração de voto em plenário, nesta semana, que estava amargamente arrependido de ter apoiado a criação da reeleição na década de 90. Ao ajudar agora a enterrar a possibilidade, ele argumenta que o instituto trouxe enormes malefícios para o país pelo uso abusivo da máquina e por prejudicar uma geração inteira de políticos que deixou de ocupar cargos no Executivo.

Por que o senhor votou pelo fim da reeleição?

Minha avaliação agora é que a reeleição é um instituto para dar certo em países prontos, como os da Europa ou os Estados Unidos. O Brasil é um país em construção, ainda muito precário. Os governantes, no segundo mandato, tendem a se encastelar, ficam num palco de vaidades e se acham no direito de não receber parlamentares, ministros ou prefeitos. Por fim, a reeleição matou uma geração inteira que tinha condições de chegar ao poder. Com uma janela de oito anos, com chances de quem está no comando da máquina eleger o sucessor, perdemos 50% das possibilidades de disputar e ganhar a eleição para esses cargos.

Mas foi o PSDB que articulou a aprovação da reeleição.

Aprovamos por causa da implantação do Plano Real. Mas a História mostrou que isso era muito pouco diante da importância da alternância de poder.

Mas o que impedirá o governante de usar a máquina para fazer seu sucessor?

É diferente quando ele trabalha para se reeleger e para eleger outros. O Ministério Público e entidades de fiscalização da sociedade estão fazendo marcação cerrada. Ninguém vai bancar o bobo de usar a máquina para eleger uma pessoa que não seja ele. Quem vai para a cadeia é ele.

A ideia no partido é que se chegue a uma composição a partir da análise de qual dos dois será o candidato na eleição com grandes chances de derrotar o PT, que poderá, mesmo combalido, ter o ex-presidente Lula na disputa. Aécio tem a seu favor o recall de 51 milhões de votos da última eleição e é visto como alguém com uma visão mais “nacional”, que tem interlocução boa em todas as regiões. Alckmin, por sua vez, sobreviveu à crise hídrica, deu a Aécio votação maciça em São Paulo e vem com força para a disputa em 2018, tendo em mãos uma provável aliança com um fortalecido PSB, que virá da fusão com o PPS — além do fato de controlar o segundo orçamento do país.

As duas principais lideranças do partido começam a medir forças desde já na articulação para escolher a nova Executiva, em julho. Aécio será reconduzido até 2017, quando se dará a disputa do candidato a presidente. Mas a ala paulista do PSDB quer ocupar postos-chave no comando, como de secretário-geral e tesoureiro.

— E a nova Executiva tem que refletir isso; quanto mais plural, melhor — diz Aécio.

Os aecistas apostam na sua habilidade de negociador para levar o partido unido até 2018, e lembram que ele conseguiu pacificar o partido e resolver sequelas existentes com o senador José Serra e Alckmin na eleição passada. Sobre a composição da nova Executiva e sua recondução como presidente do PSDB, em julho, ele diz que está ouvindo os companheiros “exaustivamente” para evitar qualquer tipo de conflito.

— A grande vantagem é que Aécio não é obcecado. Na eleição passada, várias vezes perguntou a Alckmin se ele queria ser o candidato. Está muito cedo. Tudo vai ser levado em banho-maria até lá — diz o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB).

Mas a emenda constitucional, já aprovada em primeiro turno na Câmara e com apoio explícito de lideranças de todos os partidos no Senado, não é consenso dentro do PSDB. Ao defender a aprovação da PEC, Aécio admitiu que o fim da reeleição não é um dogma, mas que essa não é a posição oficial do PSDB, apesar de a maioria da bancada da Câmara ter votado a favor. Em 2014, como candidato a presidente, Aécio repetiu o que vinha defendendo desde 2007, quando era governador de Minas, e disse que o mandato de cinco anos sem reeleição daria oportunidade a novas lideranças.

Candidato a vice-presidente em sua chapa, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) disse não saber se o fim da reeleição terá algum impacto numa composição de Aécio e Alckmin daqui a dois anos. Mas não concorda que os abusos por uso da máquina justifiquem o fim da reeleição e adianta que votará contra.

— Os abusos dos candidatos se combatem com mais fiscalização, leis rigorosas, tribunais independentes. Abusos também ocorrem nas candidaturas de parlamentares à reeleição: com suas emendas impositivas, gabinetes oficiais convertidos em comitês eleitorais e, às vezes, com arrecadações de recursos instalados na máquina do governo. Vamos, por causa disso, abolir o direito dos parlamentares à reeleição? — questiona Aloysio Nunes.

O trabalho da Executiva do PSDB agora, antes de pensar em 2018, estará em estimular a organização dos diretórios para ter candidatos competitivos nas 300 maiores cidades do país. A ideia é montar em todas elas coligações fortes contra o PT, ainda que o candidato escolhido para encabeçar a chapa não seja do PSDB.

— Temos que compreender que o que levou Aécio a ter um excelente desempenho, e quase vencer as eleições em 2014, foi a unidade do partido. 2018 ainda está longe, mas Aécio e Alckmin estão muito afinados e terão maturidade para encaminhar esse processo da forma mais tranquila possível — disse o secretário de Transportes de São Paulo, Duarte Nogueira, um dos aliados de Alckmin cotados para integrar o comando do partido a partir de julho.

Secretário-geral do PSB, o ex-governador Renato Casagrande (ES) considera o fim da reeleição um facilitador:

— O fim da reeleição facilita para os partidos que têm mais de um líder que pode ocupar espaço nas eleições para o Executivo. Mas não resolve tudo — avalia, sem entrar no mérito da disputa no PSDB.

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