
As Forças Armadas instauraram comissões de sindicância para investigar práticas de tortura dentro de instalações militares. A iniciativa foi tomada a pedido da Comissão Nacional da Verdade, que apura crimes cometidos contra os direitos humanos no período entre 1946 e 1988, abrangendo a ditadura militar. O coordenador da comissão, Pedro Dallari, foi informado da notícia ontem pelo ministro da Defesa, Celso Amorim. "É um gesto muito importante das Forças Armadas, que pode representar um grande avanço para a apuração das graves violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar", diz Dallari.
A Comissão da Verdade havia solicitado as sindicâncias no dia 18 de fevereiro, quando entregou ao Ministério da Defesa um relatório parcial que apontava o uso sistemático de sete instalações das Forças Armadas para a tortura e morte de opositores durante a ditadura.
As instalações envolvidas são os Destacamentos de Operações de Informações do Exército (DOIs) do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Recife, além da 1.ª Companhia da Polícia do Exército da Vila Militar, no Rio de Janeiro, o Quartel do 12.º Regimento de Infantaria do Exército, em Belo Horizonte, a Base Aérea da Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, e a Base Aérea do Galeão, também no Rio.
Não foi desta vez, porém, que Amorim respondeu ao apelo do grupo para abrir os arquivos dos centros de inteligência relativos às violações de direitos humanos no período do regime miliar. Desde que foi criada em maio de 2012, a comissão tenta ter acesso aos documentos oficiais.
Ato contra o golpe termina em conflito no Rio
Agência EstadoCom maioria de estudantes, um ato convocado por centrais sindicais, movimentos sociais e partidos políticos reuniu, no fim da tarde de ontem, cerca de 400 pessoas no centro do Rio e terminou em conflito com a PM. Acompanhados por mais de 50 policiais, elas caminharam pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia, reprisando o trajeto das manifestações de resistência à ditadura nos anos 60, 70 e 80. Em frente do Clube Militar, houve o embate com a PM. Manifestantes jogaram tinta vermelha nos policiais, simbolizando sangue, e eles responderam com bombas de efeito moral. Até as 19 horas de ontem não havia registro de nenhum ferido nem preso. Também na Cinelândia, a Anistia Internacional Brasil lançou, mais cedo, a campanha "50 Dias Contra Impunidade". O objetivo é colher assinaturas on-line em apoio à revisão da Lei de Anistia, de 1979, para que os agentes de Estado que cometeram crimes durante a ditadura militar possam ser punidos.



