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Busto de Flávio Suplicy de Lacerda foi arrastado da Reitoria da UFPR ao calçadão da XV | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Busto de Flávio Suplicy de Lacerda foi arrastado da Reitoria da UFPR ao calçadão da XV| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Universidade

Militantes repetem 1968 e derrubam busto de ex-reitor da UFPR

Euclides Lucas Garcia e Brunno Brugnolo, especial para a Gazeta do Povo

Num ato batizado de "descomemoração" do golpe militar de 1964, um grupo de militantes, formado principalmente por estudantes da UFPR, derrubou ontem o busto do ex-reitor Flávio Suplicy de Lacerda, repetindo o que havia sido feito em maio de 1968. No cargo de ministro da Educação do primeiro governo militar, Suplicy tentou implantar a cobrança de mensalidade no ensino superior público do país. O insucesso da medida é considerado uma das únicas derrotas da ditadura ao longo de seus 21 anos. A ação de ontem foi comandada pelo Levante Popular da Juventude e por vários outros grupos, que jogaram tinta vermelha, colaram faixas e, por fim, derrubaram o busto, localizado na Reitoria da UFPR. Depois, no fim da tarde, arrastaram a imagem até o calçadão da Rua XV de Novembro, da mesma forma que ocorreu em 1968. Segundo Alexandre Boing, estudante de História da UFPR e um dos participantes do movimento, o objetivo do ato é deixar uma marca no presente e, assim, fazer com que a sociedade brasileira lide de outra maneira com o passado. "Um agente da ditadura, que agia por dentro da reitoria da UFPR e do MEC, não merece uma homenagem, mas deve estar num museu com o devido esclarecimento de que foi alguém que acreditava na necessidade de privatização do ensino", afirmou o jovem. Na chefia do Ministério da Educação entre 1964 e 1966, Suplicy foi o responsável por costurar com os EUA os acordos chamados de MEC-Usaid, que promoveram uma série de reformas no sistema educacional brasileiro. A ideia central era que a educação deveria ser um pressuposto para o desenvolvimento econômico. Uma das medidas previa a implantação do ensino pago nas universidades públicas, que começaria pelos calouros de 1968 da UFPR. Os veteranos, porém, comandaram um boicote e 93% dos novos alunos pediram isenção do pagamento. Diante da insistência da União em cobrar a mensalidade, os estudantes tomaram a Reitoria e derrubaram o busto de Suplicy. As ações resultaram no recuo do governo e o ensino superior continuou gratuito. A intenção do Levante Popular da Juventude é ficar de posse do busto até que as comissões da verdade do Paraná e da UFPR definam o que fazer com a peça. O grupo defende que ela seja colocada num museu com a identificação de que retrata um "agente da ditadura". Procurado por telefone, o atual reitor da UFPR, Zaki Akel, não foi encontrado para comentar o assunto.

As Forças Armadas instauraram comissões de sindicância para investigar práticas de tortura dentro de instalações militares. A iniciativa foi tomada a pedido da Comissão Nacional da Verdade, que apura crimes cometidos contra os direitos humanos no período entre 1946 e 1988, abrangendo a ditadura militar. O coordenador da comissão, Pedro Dallari, foi informado da notícia ontem pelo ministro da Defesa, Celso Amorim. "É um gesto muito importante das Forças Armadas, que pode representar um grande avanço para a apuração das graves violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar", diz Dallari.

A Comissão da Verdade havia solicitado as sindicâncias no dia 18 de fevereiro, quando entregou ao Ministério da Defesa um relatório parcial que apontava o uso sistemático de sete instalações das Forças Armadas para a tortura e morte de opositores durante a ditadura.

As instalações envolvidas são os Destacamentos de Operações de Informações do Exército (DOIs) do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Recife, além da 1.ª Companhia da Polícia do Exército da Vila Militar, no Rio de Janeiro, o Quartel do 12.º Regimento de Infantaria do Exército, em Belo Horizonte, a Base Aérea da Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, e a Base Aérea do Galeão, também no Rio.

Não foi desta vez, porém, que Amorim respondeu ao apelo do grupo para abrir os arquivos dos centros de inteligência relativos às violações de direitos humanos no período do regime miliar. Desde que foi criada em maio de 2012, a comissão tenta ter acesso aos documentos oficiais.

Ato contra o golpe termina em conflito no Rio

Agência EstadoCom maioria de estudantes, um ato convocado por centrais sindicais, movimentos sociais e partidos políticos reuniu, no fim da tarde de ontem, cerca de 400 pessoas no centro do Rio e terminou em conflito com a PM. Acompanhados por mais de 50 policiais, elas caminharam pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia, reprisando o trajeto das manifestações de resistência à ditadura nos anos 60, 70 e 80. Em frente do Clube Militar, houve o embate com a PM. Manifestantes jogaram tinta vermelha nos policiais, simbolizando sangue, e eles responderam com bombas de efeito moral. Até as 19 horas de ontem não havia registro de nenhum ferido nem preso. Também na Cinelândia, a Anistia In­­ternacional Brasil lançou, mais cedo, a campanha "50 Dias Contra Impunidade". O objetivo é colher assinaturas on-line em apoio à revisão da Lei de Anistia, de 1979, para que os agentes de Estado que cometeram crimes durante a ditadura militar possam ser punidos.

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