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Cientistas mapearam a composição genética da cuíca, uma espécie de gambá típica do Brasil e de outros países sul-americanos, o que pode ajudar a explicar o papel do "DNA lixo" na evolução humana e os sistemas imunológicos.

As cuícas desenvolvem câncer de pele como os humanos, e seus recém-nascidos conseguem regenerar uma coluna cervical partida. Por isso, os cientistas esperam que estudar o seu genoma ajude pesquisas sobre o tratamento do câncer de pele e de doenças neurológicas.

Em pesquisa publicada na quarta-feira, o animal, que tem o dobro do tamanho de um rato, com cauda preênsil, tornou-se o primeiro marsupial a ter seu DNA decodificado.

A pesquisa, divulgada nas revistas Nature e Genome Research, foi conduzida no Instituto Broad da Universidade Harvard e no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), incluindo cientistas de todo o mundo.

Os marsupiais são parentes próximos dos mamíferos placentários, o grupo que inclui os humanos, mas suas linhas evolutivas divergiram há 180 milhões de anos, na época dos dinossauros. Usar a cuíca como comparação auxiliou na identificação de elementos genéticos presentes nos mamíferos placentários, mas ausentes nos marsupiais, ajudando a preencher um buraco na compreensão de como os genomas dos mamíferos evoluíram ao longo de dezenas de milhões de anos, e lançando um novo olhar sobre as origens evolutivas do genoma humano.

Um quinto dos elementos funcionais mais importantes do genoma humano surgiram após a divergência em relação aos marsupiais, segundo o estudo. A maioria dessas inovações ocorreu não nos genes que codificam proteínas, mas em áreas do genoma que não contêm genes e que até recentemente eram chamadas pejorativamente de "DNA lixo".

As descobertas indicam que os mamíferos evoluíram menos inventando novas formas de proteínas, e mais ajudando os controles moleculares sobre quando e onde as proteínas são produzidas.

Eric Lander, chefe do Instituto Broad, disse que é surpreendente descobrir que muitos desses novos controles reguladores vinham de "genes saltadores", que estão há bilhões de anos vagando pelos cromossomos.

Esses "genes saltadores", chamados transposons, também estão em áreas outrora consideradas como "DNA lixo".

Mas Lander disse que a pesquisa demonstrou que os genes saltadores, em vez de serem um tipo de parasita genético que só se copia, também tiveram um papel evolutivo positivo, difundindo inovações genéticas.

Katherine Belov, da Universidade de Sydney (Austrália), disse que a pesquisa mostrou que o complexo sistema imunológico dos mamíferos surgiu antes que as duas linhagens se separassem.

"Alinhando 1.500 genes imunológicos humanos ao genoma da cuíca, descobrimos que o genoma da cuíca é muito similar ao dos humanos", disse ela por email.

Marsupiais são animais, como o canguru, que terminam a fase de gestação em uma bolsa junto da mãe. Eles nascem sem sistema imunológico, e só durante a maturação o desenvolvem.

"Durante muito tempo, as pessoas achavam que o imunológico do marsupial era primitivo e retardado. Mudamos essa visão. Marsupiais são capazes de complexas respostas imunológicas, ao par das dos humanos."

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