Governo de SP faz megaoperação de transferência de presos

• 0

Está em curso uma megaoperação de transferência de presos no estado de São Paulo. O objetivo é transferir 5 mil detentos de oito presídios, isolar os mais perigosos e separá-los por quadrilha. Os detentos estão sendo levados em ônibus de turismo fretados, escoltados por viaturas e policiais com armamento pesado.

A operação começou há 15 dias. O transporte é feito durante a madrugada e surpreende motoristas que usam as rodovias paulistas neste período. A megaoperação vai durar até novembro. De Presidente Prudente, 400 detentos foram levados para uma unidade prisional em Itirapina em duas viagens.

A Secretaria de Administração Penitenciária não comenta transferência de presos para manter a segurança, mas não nega a informação.

O objetivo da transferência, segundo agentes penitenciários que participam da operação, é separar as quadrilhas que atuam nos presídios paulistas para evitar que elas se articulem. A mudança também diminuiria o número de rebeliões, já que os bandos ficariam juntos. Boa parte dos motins ocorrem para pressionar por mudança de presídio.

Além de ser separados por quadrilha, os bandidos serão separados também pelo tipo de crime que cometeram. Nem todos concordam que a transferência de madrugada seja mais segura.

- Os presos chegam de madrugada, quando há menos agentes trabalhando, o que dificulta o trabalho de revista - reclama um funcionário do sistema prisional.

Ele disse que os funcionários do sistema prisional não são avisados com antecedência da chegada de presos e são convocados de última hora para acompanhar o trabalho.

Parentes de detentos também só estariam sabendo que o preso foi transferido quando vão visitá-los. Muitas vezes, também não é informado o presídio para onde ele foi levado.

Nesses casos, as famílias dos detentos devem procurar a ouvidoria do órgão, já que é dever de cada unidade prisional informar o paradeiro dos presos.

Transferência foi estopim de atentados em 2006

A transferência de presos da facção comandada por Marcos Camacho, o Marcola, foi apontada pelo governo do estado como estopim dos ataques terroristas ao estado no ano passado. Um grupo de 765 presos ligados à facção foram levados para a penitenciária de Presidente Venceslau. Os ataques começaram na noite em que líderes do bando foram retirados do presídio onde estavam e levados para a sede do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), na capital.

O mecanismo é adotado em São Paulo desde 2001. Inicialmente, serviria para desarticular as quadrilhas. Na prática, porém, bandidos de um mesmo grupo tendem a se articular melhor, pois ficam todos num mesmo presídio.

Este ano, um ano depois dos atentados, um relatório da Anistia Internacional afirmou que os atentados "expuseram as falhas profundas na forma como o Estado trata da segurança pública, que há muito vem sendo caracterizada por medidas reativas e de improviso".

- O número de pessoas presas cresceu num ritmo insustentável, chegando, em 2003, a mais de 1.000 novos detentos por mês. Entre 2003 e 2006, a população carcerária cresceu de aproximadamente 100.000 para 145.000 - acrescenta o relatório.

Em outro trecho, os analistas da Anistia Internacional afirmam que a criação de centros de Detenção Provisória (que passaram a abrigar os presos que aguardavam julgamento em delegacias e cadeias) e centros de ressocialização não foram suficientes para resolver a crise carcerária.

- O sistema ficou perigosamente sobrecarregado. Funcionários prisionais inadequadamente treinados eram suscetíveis à intimidação e corrupção; um sistema superlotado e poroso tornou-se cada vez mais difícil de administrar. O Estado perdeu o controle sobre partes consideráveis do sistema e foi forçado a recorrer a castigos cada vez mais severos para impedir seu colapso total ou, como no caso de organizações criminosas, a negociar diretamente com os criminosos a fim de manter a ordem - afirma outro trecho do relatório, referindo-se a negociação do estado com o líderes da facção criminosa para tentar interromper a onda de ataques.