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Recém-recuperada de um infarto, a aposentada C. atende em casa à ligação de um homem, que pergunta sobre sua alta do hospital. Começa assim um diálogo no qual o interlocutor informa à mulher ter seqüestrado sua filha, pede calma e exige dinheiro para não matá-la. A conversa termina três minutos e 12 segundos depois, com a vítima sendo socorrida por uma vizinha. A gravação do telefonema faz parte das investigações da operação Linha Cruzada, que desarticulou anteontem uma quadrilha especializada em disque-extorsão. Formado por 22 pessoas, o bando atuava no Rio, em São Paulo e em Campos.

Gravada em setembro, a tentativa de extorsão foi feita por um detento da Penitenciária Carlos Tinoco da Fonseca, em Campos. A vítima do golpe estava no Morumbi, em São Paulo. Ao ouvir que a filha S. seria morta caso não colaborasse com o falso seqüestrador, C. sofreu um novo infarto. A informação é transmitida ao bandido por uma vizinha.

Chorando, a mulher diz que a aposentada está passando mal. "Ela está morrendo, não está respirando", diz a vizinha, pedindo ao homem que ligue depois. Apesar da situação, o bandido exige que a vizinha não desligue e ameaça matar S. Em seguida, a ligação é interrompida. Não fica claro se a vizinha desligou, mas o bandido volta a ligar, perguntando se ela conseguiu o dinheiro. A vizinha, chorando, diz não poder sair da casa.

A gravação, feita a partir do trabalho conjunto da Promotoria de Investigação Penal, do Grupo de Apoio aos Promotores (GAP), em Campos, e da Coordenadoria de Inteligência do Sistema Penitenciário (Cispen), mostra a crueldade do bando, que fez centenas de vítimas nos últimos seis meses.

Com base em 15 mil horas de interceptações telefônicas, autorizadas pela Justiça, foi possível pedir a prisão dos 22 integrantes do bando. Doze deles atuavam dentro dos presídios Carlos Tinoco da Fonseca, Hélio Gomes (no Complexo Frei Caneca, no Centro), Alfredo Tranjam e Talavera Bruce (em Bangu, na Zona Oeste). Os detentos eram responsáveis pelas ligações, enquanto os outros dez acusados forneciam contas e informações sobre as vítimas. Entre eles, Valmir Ramos, preso ontem em Campos pelo GAP.

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