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Dois ex-funcionários do cartório da 2.ª Vara Cível de Curitiba são acusados pela polícia de envolvimento numa quadrilha que teria desviado pelo menos R$ 1 milhão de contas judiciais (contas bancárias em que o dinheiro fica depositado até o fim do processo). Douglas Teodoro de Souza foi preso ontem em casa por policiais civis e Everson Ricardo Prussak está foragido da Justiça.

Os advogados Luiz Fernando Cachoeira e Ioneida Ilda Veronese também foram detidos, assim como "laranjas" que emprestavam contas bancárias para transferir o dinheiro bloqueado pela Justiça. Todos, segundo o delegado Cassiano Aufiero, da Delegacia de Estelionato, formavam uma quadrilha que falsificava documentos para desviar recursos públicos. Eles responderão pelos crimes de apropriação indébita, falsificação de documento público, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, estelionato e peculato (desvio de dinheiro público). Aufiero não descarta que haja ramificações da organização criminosa ou até quadrilhas semelhantes agindo em outras varas cíveis.

O esquema desvendado ontem pela polícia na Operação Nêmesis só teria prosperado, segundo a polícia, devido a envolvimento dos ex-funcionários do cartório. De acordo com a investigação, eram eles que identificavam processos em que havia depósitos judiciais, pegavam dados dos envolvidos nos processos e falsificavam alvarás de levantamento de valores. A partir daí os advogados entravam em ação. Cachoeira e Ioneida, segundo os policiais, preparavam procurações para "entrar" no processo e requisitavam a transferência dos recursos públicos para contas de laranjas – entre eles, Neusa Brocchier Cachoeira, mãe do advogado, Dejacir dos Santos Rodrigues e Luiz Marcelo Seer (que está foragido).

Na casa de Neusa a polícia apreendeu R$ 1 mil. Os alvarás falsificados chegavam às mãos dos juízes da 2.ª Vara Cível que eram induzidos ao erro e acabavam por autorizar as transferências. "Os suspeitos se aproveitaram do cargo público e da confiança do cartório", disse o delegado.

Com o dinheiro nas contas a quadrilha começou a comprar bens. Os investigadores da Estelionato rastrearam o dinheiro e descobriram, por exemplo, que Douglas Teodoro de Souza comprou uma casa, montou uma loja de roupas com a mulher e adquiriu um carro modelo Siena. Todos os bens dos acusados estão bloqueados por determinação da Justiça.

A Gazeta do Povo apurou que tanto Souza quanto Prussak já foram demitidos por justa causa no dia 24 de maio deste ano pela cartorária Neuza Carmezini de Oliveira – responsável pelo cartório da 2.ª Vara. As demissões não estão relacionadas à fraude dos alvarás, mas a outra irregularidade identificada por funcionários do próprio cartório. Neusa não quis dar detalhes do caso para não prejudicar as investigações da polícia. Mas ela contou que Souza estaria envolvido na fraude de guias de oficial de Justiça. Sem explicar o caso, Neusa disse apenas que Prussak e um outro funcionário foram demitidos por justa causa. E que Souza foi demitido por quebra de confiança já que teria sido ele que deu a ideia da fraude – que já estaria sendo investigada.

"Eles eram estudantes de Direito. Nunca deram indicio de práticas irregular e de repente essa barbaridade que denigre o Judiciário", disse Neusa, afirmando que comunicou a delegacia e a Corregedoria do Tribunal de Justiça. Ela contou que Souza e Prussak eram estagiários e que trabalhavam com o andamento dos processos. "Não eram eles os responsáveis pelos alvarás", explicou.

O presidente do Tribunal de Justiça do Paraná, desembargador Miguel Kfouri Neto, afirmou que na próxima semana deve ser implementado o sistema de alvará eletrônico. "Isso vai impedir que fraudes como essa, descobertas pela polícia, sejam aplicadas novamente. As movimentações serão feitas eletronicamente e levarão a assinatura digital do juiz", explicou o presidente.

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