
A indicação do nome do deputado estadual Nelson Justus (DEM) para presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), segundo cientistas políticos, indica que o parlamentar mantém muito poder na Assembleia Legislativa do Paraná. Para o professor Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pessoas que já tiveram muito poder conseguem garantir um estoque. "Na Assembleia, parece que ninguém perde poder, ele só se transfere", avalia.
Para Codato, o acordo entre os colegas para aceitar uma indicação certa para o nome de Justus é prova de não houve um real rompimento com a gestão antiga da Casa. "É claro que política é negociação. Tem que transigir, fazer acordo. Mas a atitude mostra que a tal mudança não é tão profunda quanto a anunciada", pondera.
Justus foi denunciado pelo Ministério Público por improbidade administrativa por autorizar a contratação de funcionários fantasmas em cargos de comissão na Casa. O parlamentar ainda é alvo de investigação do MP por suspeita de manter fantasmas no gabinete da presidência. Ex-diretores da Assembleia, durante a gestão dele, foram presos acusados de desviar cerca de R$ 100 milhões dos cofres públicos. A investigação veio à tona após a divulgação da série Diários Secretos pela Gazeta do Povo e RPC TV.
A decisão de dar uma posição importante a quem "ao menos conviveu com vários desmandos que vieram à tona não é um sinal positivo", analisa Adriano Codato. "É de se perguntar se os deputados estão tão escandalizados com tudo o que aconteceu na Assembleia ou se é só a população que está horrorizada. Se os parlamentares estivessem preocupados, não agiriam assim", destaca.
Fachada
"A permanência dos mesmos em cargos de relevância semelhante mostra o jogo da continuidade. Nelson Justus, neste cenário, continua muito prestigiado pelos colegas", afirma Ricardo Costa de Oliveira, professor da UFPR. Oliveira vai além e analisa que mesmo as anunciadas mudanças recentes na gestão da Assembleia não passariam de "medidas de fachadas, com uma representação teatral para a opinião pública".
O cientista político considera que os quatro postos mais importantes da Assembleia são a presidência, a vice-presidência, a primeira-secretaria e o comando da CCJ. "Assim se mantém o clube fechado, em que se revezam no poder sempre os mesmos políticos", diz. E a tendência dos parlamentares estaduais é sempre tentar ficar de bem com quem está na liderança a enfrentar os detentores do mando político. Na visão de Oliveira, os colegas que indicaram Justus e aceitaram as negociações de bastidores que envolveram a indicação dele assinaram "um atestado de cumplicidade, passaram um cheque em branco". "Significa que os deputados acreditam que ele tem um padrão de moralidade e que não merece punição e, sim, um prêmio", analisa.




