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Justus: envolvido em escândalos, deputado pode presidir a CCJ | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Justus: envolvido em escândalos, deputado pode presidir a CCJ| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Rossoni "lava as mãos" sobre escolha

O presidente da Assembleia, de­­pu­­­tado Valdir Rossoni (PSDB), se eximiu ontem de responsabilidade na indicação de Nelson Justus (DEM) para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Por outro lado, apesar de evitar tecer qualquer comentário sobre o assunto, o tucano admitiu que a situação provoca uma contradição diante das medidas tomadas por ele pela moralização da Casa.

Ontem, Rossoni disse que seria indelicado comentar os processos a que Justus responde na Justiça e que, por isso, tem evitado ser crítico em relação à administração anterior na Casa.

"Ele melhor do que ninguém pode responder pelos atos que tomou. Tenho de me preocupar com o que estou fazendo e com os resultados que vamos buscar", afirmou. Questionado se o caso não gera uma situação contraditória com as medidas que vem tomando, o tucano declarou que sim, mas que a decisão em torno do no­­­me de Justus foi tomada pelos líderes partidários e não teve sua participação.

Por decisão de Rossoni, a formação oficial das 19 comissões da Assembleia, que deveria ocorrer hoje, foi transferida para a próxima segunda-feira pela manhã. Até lá, os partidos deverão indicar os membros que integrarão cada grupo. Nas comissões em que não houver entendimento para a presidência, o ocupante do cargo será decidido no voto – esse não deve ser o caso de Justus, que conta com o aval da maioria dos colegas.

Euclides Lucas Garcia

Opinião

Modernização ou retrocesso?

A escolha de Nelson Justus (DEM) para comandar a Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa paranaense pode ser considerada um retrocesso na tão prometida modernização da Casa proposta por Valdir Rossoni (PSDB). Justus presidiu o Legislativo e foi durante o seu comando que o escândalo dos Diários Secretos veio à tona. Homens de confiança de Justus são acusados de desviar pelo menos R$ 100 milhões dos cofres públicos. O próprio parlamentar também é investigado.

Agora, Justus vai presidir a mais importante comissão legislativa, por onde têm de passar todos os projetos e propostas de mudanças na Casa. Como a escolha de um deputado sob suspeita para presidir a CCJ pode ser uma mostra de modernidade?

Durante o seu mandato como presidente da Assembleia, Justus prometeu modernizar a Casa. Fez muito pouco. Boa parte da transformação prometida por Rossoni vai passar pelas mãos de Justus. Dá para acreditar em mudanças no Legislativo?

Ricardo Marques de Medeiros, editor de Vida Pública

  • Veja os nomes indicados pelos partidos para as comissões permanentes na Assembleia

A indicação do nome do deputado estadual Nelson Justus (DEM) para presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), segundo cientistas políticos, indica que o parlamentar mantém muito poder na Assembleia Legislativa do Paraná. Para o professor Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pessoas que já tiveram muito poder conseguem garantir um estoque. "Na Assembleia, parece que ninguém perde poder, ele só se transfere", avalia.

Para Codato, o acordo entre os colegas para aceitar uma indicação certa para o nome de Justus é prova de não houve um real rompimento com a gestão antiga da Casa. "É claro que política é negociação. Tem que transigir, fazer acordo. Mas a atitude mostra que a tal mudança não é tão profunda quanto a anunciada", pondera.

Justus foi denunciado pelo Ministério Público por improbidade administrativa por autorizar a contratação de funcionários fantasmas em cargos de comissão na Casa. O parlamentar ainda é alvo de investigação do MP por suspeita de manter fantasmas no gabinete da presidência. Ex-diretores da Assembleia, durante a gestão dele, foram presos acusados de desviar cerca de R$ 100 milhões dos cofres públicos. A investigação veio à tona após a divulgação da série Diários Secretos pela Gazeta do Povo e RPC TV.

A decisão de dar uma posição importante a quem "ao menos conviveu com vários desmandos que vieram à tona não é um sinal positivo", analisa Adriano Codato. "É de se perguntar se os deputados estão tão escandalizados com tudo o que aconteceu na Assembleia ou se é só a população que está horrorizada. Se os parlamentares estivessem preocupados, não agiriam assim", destaca.

Fachada

"A permanência dos mesmos em cargos de relevância semelhante mostra o jogo da continuidade. Nelson Justus, neste cenário, continua muito prestigiado pelos colegas", afirma Ricardo Costa de Oliveira, professor da UFPR. Oliveira vai além e analisa que mesmo as anunciadas mudanças recentes na gestão da Assembleia não passariam de "medidas de fachadas, com uma representação teatral para a opinião pública".

O cientista político considera que os quatro postos mais importantes da Assembleia são a presidência, a vice-presidência, a primeira-secretaria e o comando da CCJ. "Assim se mantém o clube fechado, em que se revezam no poder sempre os mesmos políticos", diz. E a tendência dos parlamentares estaduais é sempre tentar ficar de bem com quem está na liderança a enfrentar os detentores do mando político. Na visão de Oliveira, os colegas que indicaram Justus e aceitaram as negociações de bastidores que envolveram a indicação dele assinaram "um atestado de cumplicidade, passaram um cheque em branco". "Significa que os deputados acreditam que ele tem um padrão de moralidade e que não merece punição e, sim, um prêmio", analisa.

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