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“Em relação ao governo, o PMDB tem que se manifestar como partido, e não individualmente.”
Waldyr Pugliesi, presidente estadual do PMDB | Daniel Derevecki/ Gazeta do Povo
“Em relação ao governo, o PMDB tem que se manifestar como partido, e não individualmente.” Waldyr Pugliesi, presidente estadual do PMDB| Foto: Daniel Derevecki/ Gazeta do Povo

Assembleia

Especialistas acham natural a tentativa de Richa de atrair peemedebistas

Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo classificaram como natural a tentativa de Beto Richa em atrair o PMDB para a base de apoio do futuro governo estadual, em busca de uma melhor governabilidade. Eles ressaltaram ainda que o fato de o PMDB ser um partido dividido e sempre disposto a negociar para se manter no poder deve ser um elemento facilitador para o sucesso dos planos do governador eleito. Como ponto negativo nesse cenário, porém, destacaram o enfraquecimento da oposição na Assembleia e a consequente submissão dos deputados ao Executivo.

Para o professor de Ciência Política do Grupo Educacional Uninter Doacir Quadros, Richa traça uma estratégia interessante ao buscar o apoio do PMDB, que, nos próximos quatro anos, continuará sendo a maior bancada na Assembleia. "É uma estratégia esperada porque, se nos ativermos ao espaço do Legislativo, o PMDB passa a ser extremamente importante para o governo do estado", afirmou.

Ao mesmo tempo, o cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ricardo Costa de Oliveira destacou o fisiologismo que marca o PMDB como uma das armas que joga a favor de Richa. "O PMDB é mais um agrupamento fisiológico, em busca de recursos e poder. Dificilmente o partido toma posição em bloco, o que deve facilitar que o governador traga peemedebistas para a sua base", disse. "No Paraná especificamente, os contatos políticos são baseados muito mais em relações pessoais do que partidárias. Por isso o Richa deve usar a tática de cooptação individual, antes mesmo de esperar uma decisão do PMDB."

Oliveira lamentou, porém, o iminente enfraquecimento da oposição no Legislativo estadual, que, no cenário mais otimista, deve ter cerca de dez deputados a partir do ano que vem. "A oposição ficará isolada. Deverá haver total controle do Executivo em relação ao Legislativo. Prova disso é a incapacidade da oposição em conseguir apresentar uma chapa para disputar a presidência da Assembleia."

Antes mesmo do início da legislatura 2011-2014, parlamentares do PMDB não se entendem sobre o futuro do partido. Tanto na esfera federal quanto no âmbito estadual, os peemedebistas vêm se caracterizando por defenderem posições completamente distintas entre si e demonstrarem estar mais preocupados com o futuro individual do que com o da sigla. No Paraná, as divergências internas são ainda mais emblemáticas pelo fato de o PMDB estar indefinido a respeito da participação ou não no futuro governo Beto Richa (PSDB), do qual foi adversário nas eleições deste ano – o assunto vai ser discutido na semana que vem. No plano federal, os peemedebistas cobravam até ontem cinco ministérios da presidente eleita, Dilma Rousseff, para serem divididos entre alas divergentes dentro da legenda.

O racha no PMDB local se intensificou ontem a partir da informação de que o deputado Luiz Cláudio Romanelli teria sido convidado por Richa para ocupar a Secretaria do Trabalho. O suposto convite, que foi negado pelo futuro governador, não foi bem recebido por parte dos peemedebistas, especialmente pelo deputado Stephanes Junior, que também pleiteia o cargo de secretário pelo PMDB.

O desentendimento peemedebista em torno da participação no Executivo estadual passa também pela disputa à primeira-secretaria da Assembleia Legislativa, que é a responsável pela administração da Casa. Único candidato à presidência do Legislativo estadual até agora, Valdir Rossoni (PSDB) já se manifestou propenso a ceder a vaga a Plauto Miró (DEM). O PMDB, porém, não abre mão de ocupar o posto, uma vez que será a maior bancada, com 13 deputados.

Diante da exigência, o PSDB teria decidido oferecer uma secretaria de Estado aos peemedebistas para fortalecer a base de sustentação do governo Richa na Assem­­­bleia. Ainda que nem todos os parlamentares do PMDB decidissem aderir à situação, a bancada oposicionista ficaria reduzida ao PT, com seis eleitos, e a mais alguns poucos deputados. A estratégia do futuro governador se baseia também no fato de vários peemedebistas, incluindo Romanelli e Stephanes, terem abertamente trabalhado pela eleição de Richa, e não de Osmar Dias (PDT).

Ontem, Stephanes afirmou ter conversado com Richa e ouvido que nenhum convite foi feito a Romanelli. Segundo ele, o tucano vai analisar os nomes sugeridos pelo PMDB e, então, decidirá a secretaria que vai ser oferecida ao partido – Esportes e Planejamento também seriam possibilidades. "É justo que o Romanelli também queira a vaga. O importante é que o partido saia unido", afirmou.

Ressaltando que a nomeação de um secretário peemedebista não tem relação com a eleição da Mesa da Assembleia, o presidente do PMDB do Paraná, deputado Waldyr Pugliesi, defendeu que qualquer decisão do partido seja consensual ou, no mínimo, por maioria. "Vamos decidir o que fazer em relação à eleição da Mesa de acordo com o que o Rossoni nos disser. Mas não é jogando a maior bancada para fora que ele fará a Assembleia avançar", afirmou.

Já o deputado federal Rodrigo Rocha Loures, candidato a vice na chapa derrotada de Osmar Dias e único paranaense na executiva nacional do PMDB, foi taxativo ao afirmar que o partido tem lado, que não é o do PSDB. "Há uma diretriz nacional do PMDB de caminhar ao lado de uma base de apoio que não tem o PSDB como aliado."

Apesar de negar que tenha convidado Romanelli a compor seu secretariado, Richa disse não encarar os peemedebistas como oponentes. "Minha origem é o PMDB. Eu sempre tive uma boa relação de convívio e respeito com deputados e prefeitos do PMDB", disse.

Romanelli, que foi líder do governo Requião na Assembleia, não foi encontrado para comentar o assunto.

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