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Suspeita da oposição

Informação privilegiada teria protegido grupo de acionistas de queda nas ações da Sanepar

Movimentação incomum na véspera do anúncio de medida que tombou as ações da companhia fez a oposição ao governador Beto Richa (PSDB) na Assembleia fazer denúncia à CVM

 | Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Arquivo
(Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Arquivo)

A bancada de oposição ao governo Beto Richa (PSDB) na Assembleia Legislativa do Paraná vai denunciar a Sanepar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por suspeitas de que alguns acionistas da empresa tenham recebido informações privilegiadas para negociar ações na bolsa de valores. Na última quarta-feira (8), um dia antes de a companhia informar ao mercado que dividiria em oito anos um reajuste extra de 25,63% na tarifa de água, a quantidade de ações negociadas foi quase três vezes maior que a média de fevereiro. Para os oposicionistas, o volume atípico leva a crer que investidores se desfizeram dos papéis pois sabiam de antemão que o anúncio do aumento parcelado não agradaria o mercado no dia seguinte.

Considerada “o call da década do setor de utilities”, a Sanepar virou a “queridinha” da bolsa depois de uma oferta de ações que movimentou R$ 1,98 bilhão em dezembro. Os papéis da empresa chegaram a subir 50% desde então, alavancados, principalmente, pela promessa da companhia aos investidores de que haveria uma revisão de 14% na tarifa já em 2017. Ainda mais otimista, o banco BTG Pactual estimava um aumento de 26%, a ser parcelado em no máximo quatro anos devido a aspectos políticos.

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A expectativa, porém, caiu por terra às 9h10 da última quinta-feira, quando a Sanepar comunicou ao mercado que o Conselho Diretor da Agência Reguladora do Paraná (Agepar) decidiu reajustar a tarifa de água em 25,63% ao longo de oito anos, começando com uma parcela de 5,7% em 2017 – o restante será repassado nos anos seguintes com correção pela Selic, a taxa básica de juros da economia.

No entanto, um dia antes do comunicado oficial à bolsa a respeito da decisão da Agepar, pouco mais de 12 milhões de ações da Sanepar foram negociadas. No mês de fevereiro, por exemplo, a média diária de volume de negócios foi de 4,4 milhões de papéis. Além disso, desde a oferta maciça de ações em dezembro, a maior movimentação havia sido de 10,6 milhões de papéis no dia 19 de janeiro.

Com o grande volume de negociações, as ações da companhia paranaense caíram 6,22% na última quarta. No dia seguinte, já com o anúncio oficial do reajuste escalonado da tarifa de água, a queda foi ainda maior: de 17,71%. Os papéis da empresa, que chegaram a valer R$ 14,95 em fevereiro, fecharam a quinta-feira passada (9) em R$ 11,15 – na segunda-feira (14), valiam R$ 11,99.

Suspeitas

O número de ações negociadas na véspera do comunicado ao mercado levantou na oposição a suspeita de que alguns acionistas da Sanepar sabiam previamente que o parcelamento do reajuste derrubaria os papéis da empresa. “Quem vende as ações na quarta-feira se a expectativa na bolsa era que elas chegassem a pelo menos R$ 17? Deu a louca nos investidores e eles decidiram vender assim, do nada? É evidente que não. Eles venderam porque tinham informações privilegiadas. Alguém sabia mais do que todo mundo. E isso é crime”, afirmou o líder oposicionista, deputado Tadeu Veneri (PT).

O petista também ressaltou a declaração de um acionista da Sanepar em uma conferência de emergência com a companhia na última quinta, na qual disse: “quando o estado do Paraná e a empresa vieram pedir dinheiro para o mercado, a postura era uma. Agora que pegaram o dinheiro, a postura é outra, falam que tem questão política e tudo mais. Sinto que fui lesado”. Para esse investidor, a CVM deveria “tomar medidas legais”, pois a empresa teria inflado as expectativas ao mercado.

“Que informações foram essas repassadas aos investidores? Que iriam reajustar a tarifa de água em 26%? Isso tem nome: informação privilegiada”, afirmou Veneri.

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