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União de forças

Interesses regionais levam partidos a firmar alianças estranhas nas eleições

Legendas adversárias na disputa pela Presidência da República não veem problema algum em estar juntas no pleito por governos dos estados. E candidatos a governador farão palanque duplo para os presidenciáveis

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O Brasil tem um sistema multipartidário e conta com 32 legendas políticas. Perto do período eleitoral e principalmente na época de convenções, o eleitor se depara com alianças inusitadas: partidos da oposição passam a apoiar o candidato da situação, grupos que historicamente estão afastados se unem e adversários na eleição nacional estão juntos nos estados. Neste ano, por exemplo, PT e PSDB estão unidos na mesma coligação no Mato Grosso do Sul, embora há pelo menos 20 anos os dois partidos sejam adversários no âmbito nacional. E essa não é a única aliança estranha neste ano.

INFOGRÁFICO: Veja a quais coligações os candidatos fazem parte

Em toda eleição, há uma mistura de coligações entre partidos que revelam uma característica típica do sistema eleitoral brasileiro: as alianças partidárias na disputa nacional nem sempre coincidem com as eleições estaduais – o que leva a acertos políticos que soam como incoerentes.

"Isso é consequência do nosso sistema eleitoral, que leva à racionalidade política contextual. A disputa mais evidente se dá nos estados e é nesse contexto que os partidos organizam suas forças", comenta Malco Ca­margos, cientista político da Pon­tifícia Universidade Cató­lica de Minas Gerais. De acordo com ele, as coligações são inusitadas e parecem incoerentes, mas são racionalmente construídas. "O objetivo é maximizar as chances nos estados e não na República", diz.

Apesar disso, as disputas nacional e estadual se entrelaçam. Isso porque o número de deputados federais eleitos, no âmbito dos partidos, influencia no tempo do horário eleitoral no próximo ano. "É nesse quesito que vemos a influência", diz Camargos.

O cenário nacional costuma se repetir em sistemas presidencialistas multipartidários e não é característica exclusiva do Brasil, de acordo com Carlos Pereira, cientista político da FGV. Isso porque a agregação dos partidos não se dá pela ideologia ou programa de governo. "As siglas são nacionais, não ideológicas. O principal mote para os partidos se unirem é a chance de sobrevivência política", explica. Para ele, a incongruência é apenas uma suposição. Afinal, as alianças estranhas acabam sendo a característica central do sistema político, pois elas garantem a governabilidade.

Efeitos

As consequências do pragmatismo nas coligações eleitorais é que a política fica mais personalista. "Falta clareza para o eleitor diferenciar os partidos, o que fortalece o personalismo e os vínculos locais", comenta Camargos. A disputa se individualiza e o partido ou a ideologia que ele carrega no nome serve como referência para uma parcela pequena do eleitorado. "Como o eleitor não é ancorado por clareza ideológica bem definida, ele é pouco afetado por essas coligações inusitadas", diz Pereira.

Ideologia pode ser problema para a governabilidade

Caso os partidos fossem ideologicamente fortes e fizessem alianças coerentes, quem ganhasse a eleição poderia ter sérias dificuldades para governar. "Atualmente, todos os partidos migram para o centro e as disputas são ancoradas na maior chance que cada um pode ter eleitoralmente. Se fossem programáticos e ideológicos, haveria dificuldade para formar coalizões e governarem. Nós privilegiamos a governabilidade em detrimento da representação", explica Carlos Pereira, cientista político da FGV.

Depois de eleitos, os políticos continuam tecendo alianças e as coligações para governar costumam ser ainda mais amplas que as eleitorais. A racionalidade dos governos é mais aleatória ainda. "Quem se elege e os líderes dos partidos se preocupam com a governabilidade, com a formação da coalizão. Quem se elege chama os partidos, constrói a base aliada, distribui os cargos, ministérios, distribui o poder. E aí é que vai poder administrar", comenta Elve Cenci, filósofo político da UEL.

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