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Em passagem por Curitiba, onde veio para prestigiar novas filiações, o presidente nacional do PPS e pré-candidato à Presidência da República, o deputado Roberto Freire, defendeu a antecipação do debate eleitoral. "Este governo já acabou", sentencia. Segundo o parlamentar, a crise política vivida pelo Congresso não tem precedentes. Para Freire, o governo Lula frustrou as expectativas do povo brasileiro.

Com tantos potenciais pré-candidatos à Presidência dizendo que só irão discutir a eleição em 2006, o senhor acha que sai na frente já se apresentando como candidato?

Na verdade, todo mundo está discutindo 2006 já. O que a gente não sabe bem é como a sociedade vai reagir a toda essa bandalheira. Mas não tenham dúvida de que o cenário será muito diferente do que temos hoje. Até porque está muito recente. Como somos de um partido decente, podemos caminhar tranqüilamente. Ao mesmo tempo, precisamos discutir algo que seja a superação dessa conjuntura, mas também da correção dos destinos desse país. Temos que discutir, a partir de agora, que projeto alternativo para o que aí está. Seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista social. Temos que começar a discutir agora. Não é cedo. É o momento apropriado.

A cassação de 18 deputados é suficiente para devolver a imagem de moralidade para a Câmara?A moralidade está devolvida. A Câmara é uma instituição republicana que merece todo o respeito. Quem pode não merecer respeito são alguns parlamentares que estão lá, representando quem os elegeu. Claro que comprometeu toda a imagem da representação política brasileira. A política no país está sofrendo um desgaste como nunca visto nos meus 32 anos de mandato.

O PPS vai apoiar qual candidato na disputa pela presidência da Câmara? O partido tem a tradição de respeitar a proporcionalidade, mas não vamos fazer isso agora porque é algo extraordinário. Vamos ver alguém que seja de consenso. O Aldo Rebelo não é consenso. Se eu votar nele, como eu vou cassar José Dirceu? Rebelo era articulador político desse governo e pode não ter se envolvido diretamente em nenhuma prática ilícita, mas era do governo que praticou isso. Se estou punindo alguém que participou do mensalão na base do governo, como é que eu vou premiar o articulador político desse governo.

Apoiaria então o candidato do PFL, José Thomaz Nonô?Não tem candidato do PFL, do PMDB ou do PPS. Se pensarmos assim, nós não vamos chegar àquilo que é fundamental hoje para a sociedade. A Câmara precisa recobrar muito rapidamente sua compostura. É preciso encontrar alguém que represente exatamente essa realidade de uma Câmara que está punindo, que está investigando. O nome para mim, então, é irrelevante. Eu tenho uma proposta, que é efetivar o atual vice-presidente, abrindo uma vaga e para integrarmos a bancada petista, que está sem representação na Mesa desde a eleição do Severino Cavalcanti. A bancada petista dá mais equilíbrio. Não porque é do PT do governo, até porque o governo não tem de dizer nada.

O PPS não pensa em apresentar candidato?A escolha do presidente não é um problema de importância para o PPS, é um problema de importância para a Casa. É um problema do parlamento brasileiro. E eu tenho responsabilidade primeiro com o meu país e depois com o meu partido. Meu partido não pode ser instrumento para complicar o Brasil. Esse foi o erro de muitos dos petistas, que pensaram que o PT era mais importante que o país. O Lula é o primeiro deles porque quando assumiu o governo não se preocupou com uma estrutura para resolver os problemas do país e sim para acomodar todos os derrotados do PT, de todas as tendências internas.

De todas as crises políticas que o Brasil viveu nos últimos anos, essa é a mais grave? Em que medida?Sem nenhuma dúvida, essa é a mais grave. Não é uma questão pontual. É um processo generalizado. E que tem uma particularidade, que é a questão de envolver o PT. Porque era algo inimaginável que esse governo e o presidente Lula teriam loteado o Estado brasileiro para determinados aliados. O governo do PT foi um governo que despertou profunda esperança de mudança e em nenhum momento alguém poderia imaginar que ia ter práticas de corrupção. Essa situação é sui generis, porque se esperava exatamente o inverso. Imaginava-se um governo petista indo contra as práticas fisiológicas, patrimonialistas e clientelistas, que sempre existiram no país, que sempre foram práticas de governos anteriores, mas nunca poderia se imaginar que isso seria exarcebado pelo governo do PT. Isso dá mais força para um processo de indignação nacional, de desmoralização ainda mais forte da política, pela decepção que causou.. Nunca houve na república brasileira uma crise com a dimensão dessa.

Em nenhum momento se imaginou mesmo que a sedução do poder e o apelo da governabilidade pudesse agir também sobre o PT?Não se pode pensar que a prática brasileira tenha sido essa. Não é verdade. Precisa acabar com isso. Essas são afirmações de Lula e Roberto Jefferson e ambos não merecem crédito. Ninguém pode falar de governabilidade comprando partidos no atacado e deputados no varejo. Isso é na verdade corrupção. E o PT começou quando comprou o PL para a formação da chapa. Não foi uma aliança programática, foi comprada por R$ 10 milhões. E quem disse que no Brasil sempre foi assim? Não, nunca foi assim. Havia fisiologismo? Claro. Mas estava melhorando. Mas a situção piorou. É algo que cheira um certo cinismo. Eu votei no segundo turno em Lula pensando que iria ver essas práticas políticas sendo combatidas. Mas eu vi o contrário.

Como analisa a justificativa petista de que os escândalos da era FHC eram mais volumosos e que muito não veio à tona?Não teve corrupção tão grande como esta. E eu tentei criar uma CPI quando teve denúncia no governo FHC. Diferentemente do PSDB, que antes não queria CPI e agora quer. E do PT, que antes queria e hoje obstrui. Se houve agora CPI é que talvez a diferença é que a aliança que sustentava o governo FHC tinha algo de programático e a que sustenta o governo Lula é mercenária. E tem mais: eu cobro que o PT tenha esperado dois anos e meio para apontar as possíveis falhas do governo anterior.

O PPS sai imune desta crise?Eu tenho um pouco de receio. Não bato na madeira porque não sou supersticioso. Mas até agora o PPS não tem nenhum envolvimento, nem mesmo nenhum dos seus militantes. Mas o partido não participou de nada desse esquema de corrupção. E mais: o PPS teve a clarividência política de saber que esse governo não ia bem e nos afastamos do governo. Além de questionar a política econômica, nós já reclamávamos da prática promíscua do governo com o Congresso, o desrespeito aos partidos políticos, o aparelhamento que foi feito do Estado brasileiro e a partidarização que o PT fez no governo. Nós dissemos isso quando saímos do governo, no auge da popularidade de Lula, quando não havia denúncia de nenhum mal-feito.

Enquanto isso, projetos importantes não estão sendo discutidos. Não haverá paralisia. Mas o governo não tem mais nenhum projeto importante. Esse governo já acabou, tenho dito isso.

A previsão é de campanhas eleitorais mais modestas?Sim. Até porque pode não ser pela ânsia de partidos ou de candidatos, mas por aqueles que sempre doaram, que terão um pouco mais de comedimento.

O PPS procura aliados para o ano que vem?Procuramos sim. Temos um bom relacionamento e atuamos praticamente como um bloco, porque atua com unidade na Câmara, formado por PPS, PDT e PV. Tem também o PHS, que não tem representantes no Congresso.

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