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Jânio e Ney Braga: amizade começou no colégio interno e chegou ao Planalto | Arquivo/ Imprensa Oficial do Paraná
Jânio e Ney Braga: amizade começou no colégio interno e chegou ao Planalto| Foto: Arquivo/ Imprensa Oficial do Paraná

Gasosa e fotos para lembrar da infância

Uma garrafa de gasosa Cini, sabor gengibirra. Para o ex-presidente Jânio Quadros, este era o gosto da infãncia em Curitiba. Tanto que para relembrá-lo, na década de 80, Jânio repetiu com seu primo Luiz Manoel Slaviero de Quadros, o Maneco, um ritual que seus pais – os irmãos Gabriel e Alvaro Quadros – mantinham desde os anos 40. Pelo menos três vezes por ano, Maneco enviava um engradado de de gengibirra da fábrica curitibana para a casa do primo, na praia de Pernambuco, em Guarujá, litoral paulista. O costume foi retomado em 82, após uma visita de Jânio à cidade de sua infância, quando o ex-presidente reencontrou a bebida.

Ao receber a primeira remessa da gasosa em São Paulo, Jânio respondeu ao primo com um bilhete: "Maneco (...) O presente foi maravilhoso, e você será lembrado ... sobretudo, à mesa", agradecia. Jânio tinha o hábito de escrever bilhetes a colegas, subordinados e amigos. Segundo seu biógrafo, Nélson Valente, nos sete meses de Presidência, Jânio Quadros despachou cerca de 500 "bilhetinhos". No mesmo texto em que agradecia a gengibirra ao primo, Jânio comemorava o desempenho do PTB nas eleições legislativas de 1982. E projetava o futuro político – uma provável candidatura a prefeito de São Paulo. "Precisarei estruturar o partido. Se impossível, volto a escrever e pintar", escreveu. Três anos depois, Jânio disputou e venceu Fernando Henrique Cardoso, então no PMDB.

Nostalgia

Parente mais próximo ao ex-presidente em Curitiba, Maneco, lembra do primo notório como um homem de fortes valores éticos e prosa encantadora. "Ele tinha viajado o mundo inteiro e atravessava a noite contando histórias sem cansar os interlocutores", recorda.

Outro laço do ex-presidente Jânio com Curitiba também teve como intermediário o primo Maneco. Ele mandou enquadrar duas páginas da coluna Nos­­­talgia, do jornalista Cid Deste­­­fani, publicada aos domingos na Gazeta do Povo, que traziam fotos do Ginásio Paranaense e do bairro São Francisco, onde Jânio estudou e viveu. (SM)

Duas semanas antes de renunciar à Presidência da República, Jânio Quadros fez sua única visita ao Paraná durante o curto mandato no Palácio do Planalto. Foi recebido com festa no Aeroporto Afonso Pena. Co­­­nheceu o recém-instalado Centro Po­­­litécnico da Universidade Federal do Paraná em Curitiba e esteve em Ponta Grossa. Também aproveitou a visita para entregar a Comenda da Ordem Nacional do Mérito da República à professora Maria Estrela Carvalho, sua professora de português na 3.ª e 4.ª séries primárias. O ex-presidente viveu em Curitiba entre 1925 e 1931. Nos dois primeiros anos, vestiu as calças curtas do uniforme do grupo escolar Conselheiro Zacarias, no bairro do Alto da Glória. Uma placa de bronze registra a homenagem à professora que "despertou para as letras" o político controverso e também o professor, gramático, dicionarista, advogado e escritor.

Jânio da Silva Quadros era filho do médico e farmacêutico curitibano Gabriel Nogueira de Quadros e de Leonor da Silva. O casal tentara a sorte no vizinho Mato Grosso abrindo uma farmácia em 1916. No ano seguinte nasceria Jânio. Sete anos depois, a família estava de volta a Curi­­­tiba para, também, inaugurar uma farmácia na esquina das ruas Riachuelo e Treze de Maio. Nesta, dois quarteirões acima na esquina com Duque de Caxias, ficava o sobrado da família.

Em 1927, o pai matriculou Jânio no internato do Ginásio Paranaense – atual Colégio Estadual do Paraná – à época, dirigido por padres maristas. "Dá pra perceber a importância que a formação [marista] teve no seu comportamento posterior", avalia Ernani Straube, ex-diretor do Colégio Estadual e presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. Para Straube, qualidades que sobressaíram no sucesso político de Jânio – eloquência, cultura geral e ostentação de valores morais e religiosos – foram forjados sob a severidade dos padres curitibanos.

Em depoimento à Gazeta do Povo, em 1992, o advogado Be­­­nedito Rauen, colega do ex-presidente, lembrou a impressão causada por Jânio nos colegas de internato. "Desde logo se fez conhecido, comunicativo, irrequieto, inteligente... sempre de cabeça raspada, magro levantava-se da cadeira e passava descompostura em colegas rebeldes. Fazia-o convicto de dedo em riste. ‘Seu deslavado, indisciplinado’..."

No internato, Jânio também foi colega do futuro governador Ney Braga. Apesar de não terem sido alunos brilhantes (veja abaixo), os dois ocuparam os cargos mais altos da política nacional e mantiveram uma relação de conflituosa amizade até a morte de Jânio, em 1992.

A família Quadros mudou-se para São Paulo no início de 1931. As circunstâncias da saída de Curitiba são controversas, porém todas as versões indicam uma desavença entre o pai de Jânio e Manoel Ribas, então governador do Paraná.

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