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Renan Calheiros, presidente do Senado: contribuição eleitoral. | Marcelo Camargo/Agência Brasil
Renan Calheiros, presidente do Senado: contribuição eleitoral.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Edison Lobão (PMDB-MA) pediram contribuição eleitoral diretamente ao dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, em encontros e jantares em hotéis no ano passado, segundo depoimento do próprio empreiteiro, como mostra reportagem publicada pela revista “Época” neste fim de semana. A revista reproduziu trechos da delação premiada de Pessoa, acertada com a Procuradoria Geral da República (PGR) e homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em que há citações dos três senadores.

Segundo a reportagem, o dinheiro pedido para campanhas eleitorais era propina a partir de contratos das obras da usina nuclear Angra 3, em Angra dos Reis (RJ). A reportagem afirma que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedirá ao ministro do STF Teori Zavascki autorização para investigar Renan e Jucá no caso envolvendo Angra 3. Lobão já estaria sendo investigado por conta do suposto pagamento de propina.

A revista informa ainda que o então presidente da Eletronuclear, almirante Othon Pinheiro, se encontrou pessoalmente com o dono da UTC para pedir doação ao PMDB. “Vocês estão muito bem qualificados, vão ganhar, então vocês vão precisar contribuir para o PMDB”, teria dito o almirante a Pessoa. Pinheiro, como presidente da Eletronuclear, era o responsável por Angra 3. Ele está preso em Curitiba sob suspeita de recebimento de propina no esquema investigado na Operação Lava-Jato.

Pessoa afirmou ter se encontrado com Renan no Hotel Emiliano, onde o senador estava hospedado. O presidente do Senado pediu doação à campanha do filho, Renan Filho (PMDB), eleito governador de Alagoas no ano passado. O valor estabelecido foi de R$ 1,5 milhão. O dono da UTC diz ter interpretado que havia um vínculo entre o contrato da UTC para Angra 3 e a necessidade de fazer a doação. O valor teria de ser rateado depois pelas empresas que integram o consórcio para as obras.

O mesmo teria ocorrido com Jucá: os dois jantaram por três ou quatro vezes nos restaurantes dos hotéis Emiliano e Fasano, segundo “Época”. Numa ocasião, o senador pediu doação ao filho, candidato a vice-governador de Roraima, também no valor de R$ 1,5 milhão. Pessoa disse ter feito a mesma interpretação sobre o vínculo da doação ao contrato em Angra 3.

Já Lobão teria dito que “o PMDB está precisando de dinheiro para a campanha” e teria falado em percentual de 1% a 2% do valor do contrato, conforme a delação de Pessoa. O senador era ministro de Minas e Energia e teria pedido um adiantamento de R$ 1 milhão. O dono da UTC afirmou que o dinheiro foi efetivamente pago, em espécie, antes da assinatura do contrato.

Propina

Reportagem publicada pelo jornal O Globo em 29 de junho já havia revelado que Pessoa afirmou ter fechado diretamente com Lobão o repasse de R$ 1 milhão em propina e que o acerto incluía atender com atenção especial os pedidos de doação eleitoral feitos pela cúpula do PMDB no Senado. A propina garantiria o contrato do consórcio integrado pela UTC nas obras de Angra 3.

Um consórcio formado por UTC, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht - todas investigadas na Operação Lava-Jato e suspeitas de integrarem o “clube do cartel” - executa as obras. O grupo venceu uma concorrência no fim de 2013 para obras em Angra 3, no valor de R$ 3,1 bilhões. Por ter saído vencedor, o consórcio optou por um pacote de obras que inclui edificações não nucleares, no valor de R$ 1,75 bilhão.

Com o êxito da contratação, o dono da UTC disse ter interpretado que o acordo da suposta propina a Lobão deveria estender benefícios aos caciques do PMDB no Senado, conforme revelado pelo GLOBO em junho. Os registros das doações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) corroboram o que Pessoa afirmou na delação.

A direção do PMDB em Alagoas, controlada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), recebeu um repasse da UTC de R$ 500 mil em agosto e outro de R$ 500 mil em setembro de 2014. O filho de Renan, Renan Filho (PMDB), foi eleito governador de Alagoas. Já a direção do PMDB de Roraima, controlado pelo senador Romero Jucá, foi financiada com três repasses de R$ 1,5 milhão ao todo, também em agosto e setembro de 2014.

Ainda conforme a delação, Pessoa afirmou que repassaria às demais empreiteiras do consórcio a necessidade de ratear a suposta propina a Lobão, outra informação revelada na reportagem do GLOBO.

Os peemedebistas negaram qualquer participação em irregularidades relacionadas a Angra 3. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), confirma ter jantado com o empresário Ricardo Pessoa e que pediu doação para campanha eleitoral.

“A doação obtida em nome do diretório (do PMDB) foi dentro do que prevê e permite a lei. O senador jamais solicitou doações que fossem conseqüência de quaisquer impropriedades e que não se sente devedor de nenhum doador, e tambémnão conhece nenhum diretor da empresa responsável pela obra citada”, respondeu o presidente do Senado, por meio de sua assessoria de imprensa.

O senador Romero Jucá afirmou não ter conhecimento da delação do dono das construtoras UTC e Constran e que está á disposição do Ministério Público para prestar esclarecimentos.

“Não participei de nenhuma irregularidade em contratos com qualquer estatal”, reforçou Jucá, por meio de sua assessoria.

O advogado de Lobão não deu retorno às ligações da reportagem. Em junho, na reportagem veiculada pelo jornal, o advogado afirmou que “delações em série perderam a confiança”. Segundo ele, depoimentos do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa já se contradiziam sobre um suposto repasse de R$ 1 milhão em propina.

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