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Ernesto Che Guevara, Fidel Castro, Hugo Chávez e Roberto Requião decoram o cartão de fim de ano produzido pela Juventude do PMDB e distribuído aos militantes do partido nas últimas semanas. A montagem tem um objetivo: alinhar o discurso do governador do Paraná ao dos três políticos da esquerda latino-americana. Uma tarefa possível no computador, mas complicada na realidade.

"Os quatro lutam ou lutaram por mudanças na sociedade, dão atenção àqueles que mais necessitam", explica o estudante de História Márcio Carvalho. Ele é um dos envolvidos na discussão ideológica do partido. Tem a visão de que Requião está ao lado dos revolucionários históricos e que pode comandar um governo a favor da igualdade social.

Tanto Carvalho quanto outro membro da Juventude do PMDB, Maurício Ribas, trabalham para levar esse conceito para fora do estado. Ribas foi quem desenhou o cartão e vê uma lógica evidente na conexão entre os líderes.

"Apesar de adotarem linhas diferentes, eles têm uma conduta que defende a nação como nação, não como mercado", diz.

Ele conta que esse é um dos passos para fortalecer a candidatura de Requião à presidência, em 2010. O paranaense, segundo ele, ocupa um espaço na esquerda brasileira que pode conduzi-lo ao lugar de Lula. Um problema para isso ser concretizado é a visão que a mídia nacional tem do governador, autoritário e polêmico. "O Requião pode ser bravo, nervoso, mas ele é assim para defender o povo. Isso é o que muita gente não entende."

O governador nunca escondeu a admiração pela esquerda, principalmente por Chávez. A ambigüidade é que o PMDB ocupa historicamente a função de partido mais central do Brasil desde a passagem de José Sarney pelo Palácio do Planalto. Requião, porém, tenta enquadrar a legenda dentro dos conceitos do "MDB velho de guerra", um de seus bordões mais famosos, que se encaixa numa ideologia social e desenvolvimentista.

A caminhada rumo à esquerda de Requião é curiosamente contrária à de Lula. Há duas semanas, o petista que foi ícone da luta de classes na década de 70 admitiu que, com o passar da idade, estava ficando cada vez mais centrista. Tanto que deve convidar Delfim Netto, ministro da Economia do presidente militar João Figueiredo, para seu segundo mandato.

Muito do socialismo pregado por Requião vem do exemplo venezuelano, onde o presidente Hugo Chávez usa as riquezas geradas pelo petróleo nacional para ações assistencialistas. "São dois revolucionários, que trabalham para o os pobres, disso não há dúvida", ressalta Ribas, que também é integrante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). O grupo, que ficou famoso na ditadura pela participação no seqüestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, em 1969, desde a década de 80 limitou-se a ser um braço do PMDB.

A compatibilidade ideológica entre Chávez e Requião motivou a visita do presidente latino-americano ao Paraná, em abril. No encontro, ambos participaram de um encontro com manifestantes do Movimento Sem-Terra e da Via Campesina, em Curitiba. A oportunidade mostrou a diferença do discurso para a prática, quando Requião irritou-se e xingou líderes de esquerda que aproveitaram a ocasião para protestar contra o nepotismo em seu governo.

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