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Jucá: de autorização ilegal de corte de madeira em terras indígenas a envolvimento na Lava Jato. | Agência Senado
Jucá: de autorização ilegal de corte de madeira em terras indígenas a envolvimento na Lava Jato.| Foto: Agência Senado

Quando você olha um governo, há sempre uma figura oculta, que é Romero Jucá (PMDB-RR). Surgido na política pelas mãos do ex-presidente José Sarney, o pernambucano radicado em Roraima foi vice-líder do governo com Fernando Henrique Cardoso, e líder com Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff – e se tornou o principal articulador da formação do governo Michel Temer. Até mais que a já famosa conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, sua biografia revela como funciona a elite política brasileira.

Jucá, economista de profissão, começou sua carreira política no Recife, sua cidade natal. Em 1986, foi nomeado, por Sarney, para a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai) – recomendação do também pernambucano Marco Maciel. Já na Funai, foi alvo de processo pelo Ministério Público Federal (MPF) por suposta autorização ilegal de madeira em terras indígenas.

A denúncia, apresentada pelo procurador da República Juliano Villa-Verde de Carvalho, diz que Jucá, quando presidente da Funai, teria recebido propina para que serrarias explorassem madeira em território indígena. A acusação acabou engavetada pelo então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro – o ex-presidente da Funai foi eleito senador pela primeira vez em 1994, e ganhou foro privilegiado.

Roraima

Mesmo com essas acusações, Jucá foi indicado, novamente por Sarney, para governar o então território de Roraima, em 1988. Já no início do governo, foi acusado de usar verbas públicas para promoção pessoal. Nesse caso, ele distribuiu cadernos para alunos da rede pública do então território federal com uma foto sua na contracapa. Ele chegou a ser condenado a pagar uma multa de R$ 20 mil pelo Tribunal de Contas da União (TCU), mas recorreu e ganhou.

Após a transformação do território em estado, perdeu as primeiras eleições para governador, em 1990. Ainda assim, assumiu cargos importantes no governo federal e, em 1992, elegeu sua mulher, Teresa Surita, prefeita de Boa Vista. Em 1994, foi eleito senador, e, desde então, só deixou o Senado duas vezes, para assumir ministérios.

Antes de ser ministro de Temer, Jucá foi ministro de Lula. Em 2005, assumiu o Ministério da Previdência. Durou apenas quatro meses. Recém-empossado, foi acusado de intermediar liberação de verbas do Ministério da Saúde para o município de Cantá, no interior de Roraima mediante propina, em 1999. Além disso, foi acusado de receber empréstimo fraudulento do Banco da Amazônia, de R$ 18 milhões.

Senado

Foi no Senado, porém, onde Jucá construiu sua carreira política. Com forte capacidade de negociação e profundo conhecimento do regimento e da estrutura de poder do Congresso, em pouco tempo se tornou um dos principais articuladores do governo. Ainda em seu primeiro mandato, conseguiu se cacifar como vice-líder do governo – à época, Fernando Henrique era presidente.

Ainda na era FHC, em 2002, se tornou vice-líder do PMDB, e, com Lula, se tornou líder do governo. Ele se manteve nessa condição até o primeiro mandato de Dilma. Entretanto, sua relação com a presidente azedou em 2012. Após o senado rejeitar o nome de Bernardo Figueiredo para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Jucá foi retirado da liderança e substituído por Eduardo Braga (PMDB-AM).

A partir desse momento, ele passou a flertar com a ala oposicionista do PMDB. Em 2014, declarou em palestra para empresários de Roraima que votaria em Aécio Neves (PSDB). Isso o colocou em rota de colisão com Temer. No fim de 2015, especulava-se, inclusive, que Jucá poderia lançar chapa para a presidência do partido na convenção nacional – contra o atual presidente interino, que também preside o partido.

Entretanto, o início do processo de impeachment e o desgaste entre Temer e Dilma fez com que os dois peemedebistas reatassem as relações e passassem a jogar junto. Jucá se tornou o contraponto a Renan Calheiros dentro do Congresso, articulando, primeiro, a saída do PMDB do governo e, depois, o voto favorável no impeachment. A estratégia deu certo e, assim, ele se cacifou para ocupar um ministério no governo Temer.

PMDB

Por sua relação com o governo federal, Jucá pode ser definido como um símbolo do PMDB. Em 30 anos de carreira política, sempre esteve do lado do governo – exceto nos momentos em que o mandatário perdeu sua perspectiva de poder. Ainda assim, peregrinou por outros partidos. Originalmente peemedebista, ele foi para o PDS em 1990. Em 1995, se filiou no PSDB – e aproveitou a onda de popularidade do início do governo FHC. Em 2002, quando Lula era a bola da vez, voltou ao PMDB.

Lava Jato

Além das acusações já citadas, Jucá é um dos políticos investigados pela Operação Lava Jato. Ele é acusado de pedir R$ 1,5 milhão para a UTC Engenharia, para bancar a campanha de seu filho, Rodrigo Jucá, a vice-governador de Roraima. Segundo Ricardo Pessoa, esse dinheiro seria propina referente à contratação da UTC para obras na usina Angra 3. Jucá confirma que procurou a UTC para doações, mas nega que tenha se tratado de propina.

Ele também é investigado pela Operação Zelotes, por suposto envolvimento em esquema de venda de Medidas Provisórias para empresas do setor automotivo. Por fim, reportagem da revista Época de 2011 acusou o senador de ter montado uma vasta rede de empresas, em nome de laranjas e de familiares, que inclui redes de televisão e administradora de shopping centers – incompatível com o salário de senador, presidente da Funai, governador ou ministro.

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