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O líder guarani-kaiowá Ortiz Lopes, 46 anos, foi assassinado no domingo (8/06) à noite a tiros em Coronel Sapucaia (MS), município da fronteira com o Paraguai. Lopes estava à frente do movimento que pedia o reconhecimento da terra indígena Kurusu Amba (correspondente à fazenda Madama, entre Coronel Sapucaia e Amambai).

Em Kurusu Amba, no início do ano, já havia sido assassinada outra líder indígena que participara da ocupação, Zulita Lopes. Xurete, como era também conhecida, era líder espiritual do grupo. Ela foi morta durante a desocupação forçada da área.

Segundo nota à imprensa do Conselho Indigenista Missionário, Ortiz Lopes vinha sofrendo ameaças de morte, já havia escapado de um outro atentado e, ontem, segundo contou sua esposa, foi morto por um homem que o chamou na porta de casa, por volta das 18h30.

"Ao perguntar quem era, a vítima se dirigiu à porta e foi recebida por tiros. Enquanto disparava sua arma, o assassino informou: 'Os fazendeiros mandaram acertar contas com você'", narra a nota do Cimi.

De acordo com outra liderança indígena da região, que pede para não ser identificada devido às ameaças de morte, os fazendeiros da região tinham marcado uma reunião com Ortiz nesta terça-feira (10), para fecharem acordos relacionados às terras em questão. "Os fazendeiros ofereceram R$ 100 mil para que ele não mexesse nas terras Kurusu Amba. Como o nosso líder não aceitou, os fazendeiros disseram a ele que viraria inimigo", conta a testemunha.

O grupo guarani-kaiowá que reivindica Kurusu Amba está acampado próximo à aldeia de Taquaperi, também em Coronel Sapucaia (MS). Segundo o líder ouvido pela Agência Brasil, a Fundação Nacional do Índio (Funai) de Mato Grosso do Sul e grupos de direitos humanos já prestaram assistência à família de Ortiz Lopes e aos índios da região.

"Vamos continuar reivindicando as terras, porque os fazendeiros fizeram um acordo conosco que iriam nos entregar as terras em abril do ano que vem", diz essa liderança. "Vamos continuar, porque a luta continua. Eles calaram a nossa liderança, mas a luta continua."

A Polícia Federal de Ponta Porã foi procurada, mas ainda não informou se vai entrar nas investigações sobre a morte de Ortiz. Segundo o Cimi, quatro líderes indígenas que participaram da ocupação em Kurusu Amba no início do ano seguem presos, sob acusação de roubo.

Lideranças que participavam hoje de um encontro em Rio Brilhante (MS) divulgaram nota expressando "revolta e tristeza" pelo assassinato de Ortiz. O evento discute as conseqüências socioambientais para os Guarani-Kaiowá dos projetos industriais que prevêem a instalação de 31 usinas de açúcar e álcool no Mato Grosso do Sul nos próximos anos. "Ortiz morreu lutando, porque não queria ver seus parentes trabalhando como escravos nas usinas de álcool – o que acontece com a maioria dos homens adultos do povo Guarani Kaiowá", diz a nota.

Os índios que reivindicam Kurusu Amba procedem da área indígena Taquaperi, no município de Amambai. A Taquaperi é uma das oito áreas indígenas criadas pelo antigo Serviço de Proteção ao Índio, entre os anos 20 e 30, próximas às nascentes cidades do sul de Mato Grosso do Sul. Com a expansão do agronegócio, nos anos 60 e 70, milhares de índios Guarani-Kaiowá foram expulsos das áreas que ocupavam à beira de córregos da região, nos "fundos de fazendas", sendo levados para essas áreas, que ficaram superlotadas.

Desde os anos 80, os Guarani-Kaiowá tentam retomar as áreas de ocupação tradicional na região. Com a falta de terras, pobreza e violência dominaram as comunidades indígenas. Hoje, os quase 40 mil Guarani-Kaiowá de MS, vivendo em cerca de 50 mil hectares de terra, sofrem com um índice de assassinatos que é praticamente o dobro da média brasileira e taxas de suicídios, principalmente entre os jovens, que estão entre as mais altas do mundo. Diante da impossibilidade de organizar uma vida econômica autônoma, os índios apelam para o trabalho nas usinas de álcool.

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