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Num momento em que o país discute propostas para combater a criminalidade, entre elas a redução da maioridade penal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira, durante apresentação Plano de Desenvolvimento da Educação para especialistas do setor, que o país precisa dar cidadania ao "estoque de três milhões de jovens" que estão fora do mercado de trabalho e da escola, em vez de perpetuar a exclusão. Lula disse que é preciso evitar o discurso de que a única saída é a punição e atribuiu a situação que vivem hoje os jovens a uma política de educação voltada para "as castas privilegiadas".

- O que não quero é que a gente permita que cresça no Brasil a idéia de que a única solução para esses jovens é puni-los - disse o presidente.

Lula disse que o país não pode esperar mais para dar educação e trabalho a esses jovens e contou que no fim do ano disse ao ministro da Educação, Fernando Haddad, que não estava satisfeito com a política de alfabetização do país e cobrou medidas para melhorar os números. No dia 10 de dezembro, o jornal "O Globo" publicou reportagem mostrando que o programa Brasil Alfabetizado já consumira R$ 700 milhões e surtira pouco efeito, segundo o IBGE.

Na solenidade, o presidente disse que a situação do país está muito ruim. Ao citar que a universalização do ensino não foi acompanhada da melhoria da qualidade, Lula admitiu:

- Nós já tivemos educação de qualidade no Brasil quando a gente tinha educação para pouca gente. Na medida em que a gente universaliza a educação... nós universalizamos, mas junto com a universalização não houve um acompanhamento da melhoria da qualidade da educação. Então, nós estamos nos piores do mundo (sic), ou seja, nós estamos vendo crianças ficarem quatro ou cinco anos na escola e a gente faz um teste apenas na 4ª série. Isso significa que nós passamos quatro anos sem saber como essas crianças estão aprendendo, e sem saber se os educadores, dentro da sala de aula, estão educando corretamente.

O Palácio do Planalto, ao divulgar a transcrição do discurso, corrigiu um trecho da frase de Lula: "Nós estamos no pior dos mundos", em vez de "Nós estamos nos piores do mundo", o que levou à interpretação de que o presidente teria dito que a educação no país está entre as piores do mundo.

Lula cita Cristovam e Paulo Renato

O presidente, que não concluiu o ensino básico, disse que entre as pessoas presentes ao encontro ele era a menos qualificada para discutir educação.

Para Lula, os estudantes precisam ser testados com mais freqüência para verificar se estão aprendendo de fato, mas voltou a criticar os professores:

- Tem uma máxima: se o professor ou o político fala uma coisa para alguém e essa pessoa não entende, essa pessoa não é inteligente o suficiente para entender. Se fala a segunda vez e ela não entende, ela não é inteligente. Se falar a terceira vez e não entender, precisamos cuidar de quem está falando.

O presidente pediu apoio de todas as pessoas ligadas ao setor, citando especificamente os ex-ministros Paulo Renato e Cristovam Buarque, que fazem oposição a seu governo, para fazer uma grande reforma da educação do país. Tentando mostrar que o problema não é apenas de dinheiro, Lula indagou por que alunos de escolas de um estado têm notas extremamente melhores do que os de outros, se os salários dos professores são semelhantes.

- O que temos aí é resultado de uma política de concentração de renda, uma política elitista que não pensou em todo mundo, e sim, apenas naquelas que pertenciam a uma casta de privilegiados - afirmou o presidente.

Ajuda

Lula reconheceu que seu governo não está começando do zero e que muito já foi feito, mas pediu um grande esforço da sociedade, ao lado do governo, para evitar que "nasçam mais pessoas com propensão a ser analfabetas". Lula disse que suas inquietações são muitas e que não têm soluções prontas, por isso está pedindo a ajuda de todos.

- O país está em dívida com a educação, os estados estão em dívida - afirmou.

Lula citou como vantagem de ter um segundo mandato o fato de poder adotar medidas sem pressa, promovendo um amplo debate com a sociedade, como na área da educação.

- A vantagem do segundo mandato é não termos a pressa, podermos fazer as coisas com mais calma, e fazer melhor, mas para isso precisamos de um debate muito sério da sociedade - afirmou.

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