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Em sua segunda entrevista desde o início da crise, em maio deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu nesta segunda-feira crimes cometidos pelo PT, como a prática de caixa dois no financiamento de campanhas políticas, no programa "Roda Viva", na TV Cultura. O presidente acrescentou que o partido não se comportou bem, mas não quis identificar quem o traiu. Apenas deu a entender que foi o PT.

Lula voltou a criticar a atuação do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, dizendo que não imaginava que ele iria terceirizar as finanças do partido. Segundo o presidente, o caixa dois é uma prática intolerável.

- Fui traído porque alguns companheiros tiveram um comportamento que não coadunava com a história do PT. O dinheiro fácil nunca fez bem a ninguém na história da Humanidade. Você tem meios legais para fazer finanças de campanha.

O presidente voltou a dizer que ainda não sabe se disputará a reeleição. Indagado sobre a frase "eles vão ter que me engolir", explicou que ela foi proferida em outro contexto - se ele for candidato - e disse que o "eles" a que se refere é a oposição.

No programa, o presidente também falou sobre as acusações de que teria recebido dinheiro do governo cubano para sua campanha eleitoral. Disse que Cuba é um país muito pobre para emprestar dinheiro para campanhas a outros países. Lula acrescentou que não se pode tirar conclusão alguma sobre o eventual financiamento cubano a sua campanha em 2002 porque há um morto na história.

- É o tipo de acusação que eu acho tão inverossímil porque um cidadão chega e fala que recebeu o dinheiro e quem deu o dinheiro? Um morto.

Sobre as denúncias envolvendo ex-assessores do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, Lula afirmou que tudo tem que ser apurado, mas afirmou que não pode haver condenação por antecipação. O presidente disse ainda que não identificou problemas no fato de seu filho Fábio Luís fazer negócios com a Telemar, acrescentando que se trata de uma empresa privada. Lula disse ainda que os filmes produzidos por seu filho têm mais audiência na TV do que a MTV.

O presidente também afirmou acreditar que o deputado José Dirceu (PT-SP) terá o mandato cassado por motivos políticos. Na entrevista, o presidente disse não acreditar no mensalão e argumentou que a única pessoa cassada até agora foi quem denunciou, sem conseguir provar, o suposto esquema de pagamento a deputados da base aliada: o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

- Qual é a acusação contra o Zé Dirceu? A tese original era que você tinha dinheiro público nas contas do PT. E nada ainda não foi provado.

Lula defendeu que todas as denúncias sejam investigadas até o fim, mas disse que as CPIs não podem se precipitar. Questionado sobre a atuação da oposição, Lula criticou a afirmação do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), que disse que as denúncias fariam o país ficar livre dessa "raça" de petistas.

Lula disse que o governo passado não deixou instalar CPIs e que ele não obstruiu a instalação delas durante seu governo. Sobre o pedido feito pelos então ministros Aldo Rebelo e José Dirceu a Jefferson para que ele retirasse a assinatura para criação da CPI dos Correios, o presidente contou que estava viajando e não teve participação no episódio.

Na avaliação dos entrevistadores, Lula estava bem preparado para dizer que não houve mensalão, bastante descontraído e feliz com a vitória do Corinthians sobre o Santos. O apresentador do "Roda Viva", Paulo Markun, contou que o programa recebeu 1.500 e-mails com sugestões de perguntas a Lula, 25% delas sobre corrupção, 20% sobre economia e o restante sobre temas gerais. Segundo Markun, todas as perguntas pertinentes foram feitas e o presidente respondeu a todas. Os entrevistadores tiveram direito, inclusive, à réplica nas perguntas que não foram respondidas de forma objetiva.

- Se faltou pergunta foi por falta de tempo - disse Markun, acrescentando que a entrevista com Lula foi resultado de seis meses de negociação.

Ainda de acordo com ele, a entrevista foi gravada, e não ao vivo, porque o Palácio da Alvorada ainda não foi aberto e porque a Granja do Torto ainda estava preparada para a visita do presidente americano George W. Bush, no fim de semana. Uma gravação às 22h30m no Palácio do Planalto seria difícil.

- Torço para que o presidente tome gosto pela coisa - disse Markun.

Além de Markun, participaram da gravação da entrevista, que marcou a milésima edição do "Roda Viva" os jornalistas Heródoto Barbeiro, editor-chefe e apresentador do Jornal da Cultura; Augusto Nunes, colunista do Jornal do Brasil; Matinas Suzuki, diretor da rede de jornais Bom Dia; Rodolfo Konder, ex-apresentador do programa; e Roseli Tardeli, diretora-executiva da agência de notícias da Aids.

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