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“A oposição (a Lula) deverá dizer (na campanha presidencial) que só alguém experiente pode manter o curso atual do barco. Se o eleitorado acha que o barco está na direção certa, a oposição destacará que é necessário um timoneiro que tenha condições e experiência para pilotar o barco.” | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
“A oposição (a Lula) deverá dizer (na campanha presidencial) que só alguém experiente pode manter o curso atual do barco. Se o eleitorado acha que o barco está na direção certa, a oposição destacará que é necessário um timoneiro que tenha condições e experiência para pilotar o barco.”| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Alberto Carlos Almeida, cientista político, diretor do Instituto Análise e autor dos livros a Cabeça do Brasileiro, A Cabeça do Eleitor e Por que Lula?

Quando Alberto Carlos Almeida concluiu a universidade em 1988, o Brasil ainda vivia o retorno à democracia. Desde então, enquanto os eleitores voltavam a participar do processo de escolha dos governantes, ele passou a estudar a fundo o comportamento eleitoral dos brasileiros. A partir dessas pesquisas, ele concluiu que o eleitorado do país é imediatista e define o voto baseado, sobretudo, nos ganhos que terá ao eleger determinado candidato.

Exatamente por isso, Almeida afirma que a corrupção não é um fator que pesa nessa escolha, por estar muito distante do dia a dia da população. "Há no Brasil uma tolerância à corrupção por meio da tolerância ao jeitinho brasileiro", explica.

Para ele, as campanhas da eleição presidencial em 2010, que ocorrerá exatamente daqui a um ano, serão propositivas e vão ser focadas principalmente nos avanços que o próximo ocupante do Palácio do Planalto poderá trazer após oito anos de um governo muito bem avaliado, sob o comando do presidente Lula (PT). Prevendo dificuldades para as candidaturas do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) e da senadora Marina Silva (PV-AC), Almeida não acredita em uma transferência maciça de votos do presidente à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Na opinião do cientista político, os tucanos deverão bater na tecla de que são mais experientes e melhores gestores do que a candidata petista, para conseguirem retornar à Presidência.

Duas décadas depois do fim da ditadura, o eleitor brasileiro aprendeu a votar?

Depois de duas décadas, houve muitas eleições e, aos poucos, o eleitor foi depurando os políticos. Na verdade, o eleitor vai treinando uma certa capacidade de duvidar dos políticos, de duvidar do que eles prometem. Votar melhor nessa situação significa avaliar de uma forma mais pormenorizada se aquele político tem condições de cumprir o que está prometendo, de executar as promessas que propôs. E o eleitor faz isso vendo o currículo do político, analisando se é alguém que já fez alguma coisa. É a velha história da dificuldade em conseguir o primeiro emprego. Quando você vai obter o primeiro emprego, o patrão pergunta o que você fez antes. No caso dos políticos, o primeiro emprego é o cargo de vereador, no qual ele tem de trabalhar para que aquilo sirva de currículo para a obtenção do segundo emprego, que é o cargo de deputado estadual. E ali é preciso fazer mais coisas para se obter empregos cada vez maiores. O eleitor está de olho nisso, de olho na atuação do político.

Por outro lado, uma coisa que ninguém tem notado é que a disputa entre os partidos maiores também revela isso. Por que políticos de partidos pequenos têm mais dificuldades de se eleger? Porque pertencer a um grande partido é um desses elementos do currículo. Pertencer a um partido que controla muitas prefeituras e tem vários governadores mostra que o político faz parte de um grupo que o autoriza a dizer o que ele está dizendo. Aprender a votar tem um pouco disso: eu duvido mais. Se eu duvido mais, eu sou mais exigente. Se sou mais exigente, vou votar não em desconhecidos, mas em conhecidos; não em partidos com pouca força, mas em partidos maiores e com muita força.

As campanhas do ano que vem devem seguir essa linha de raciocínio do eleitor?

Deveremos ficar na linha de "o que cada candidato vai dar a mais para o eleitor". Nas 26 campanhas a governador, por exemplo, o governante que estiver indo bem vai destacar para o eleitor que as coisas estão no caminho certo e irá pedir a reeleição justamente para dar continuidade a isso. Já em relação àquele que estiver indo mal, o eleitor irá buscar alguém que tenha experiência para mudar o que precisa ser mudado. Se você tiver um governador mal avaliado, a escolha do eleitor tenderá a recair sobre o opositor que mostrar experiência para mudar para melhor. Ninguém vai entrar em uma aventura. Não tenho dúvida de que irá pesar o ganho que o eleitor poderá ter diretamente para ele.

Nesse cenário, quais são as chances da ministra Dilma Rousseff?

Sempre defendo uma frase do ex-presidente Franklin Roosevelt, que comandou os Estados Unidos por quatro mandatos. Ele dizia que só tinha capacidade de transferir um voto: o dele próprio. O presidente Lula só transfere para a Dilma o voto dele mesmo. Na verdade, o que ele vai tentar fazer é usar um argumento racional do tipo: "Vocês que estão felizes com o meu governo, se quiserem continuar, votem na Dilma". Isso pode funcionar ou não. É óbvio que, se o Lula fosse o candidato a presidente, ele teria um porcentual de tantos votos. Não sendo o Lula, mas alguém apoiado por ele e por quem ele se empenhará na campanha, com certeza esse candidato terá menos votos do que ele teria. A quantidade menor de votos que o candidato petista terá vai depender muito da interação entre as campanhas eleitorais do governo e da oposição.

Como ficam as candidaturas de Ciro Gomes e Marina Silva?

Eles estão numa situação muito difícil. O Ciro tem uma rejeição desproporcionalmente alta para o nível de conhecimento que o eleitorado tem dele. Se cruzarmos os níveis de conhecimento dos candidatos com os índices de rejeição, o Ciro é o que tem a pior situação. Já a Marina ainda tem uma barreira muito grande pela frente que é se tornar conhecida. A eleição do ano passado mostrou que essa barreira é menor nos municípios, onde os limites eleitorais são menores. Mas, num país do tamanho do Brasil, com o eleitor médio tendo uma escolaridade muito baixa, o esforço da Marina pode ser muito grande e não trazer grandes resultados. Além disso, o discurso monotemático do meio ambiente também não resolve.

Como o senhor projeta a sucessão estadual no Paraná?

Vai depender muito dos índices de avaliação do governador. Se o Requião não estiver bem avaliado, o candidato dele não irá decolar. Aí, a tendência é de que haja a eleição de algum oposicionista. Nesse caso, os candidatos da oposição vão se apresentar ao eleitor mostrando qual deles têm melhores condições de conduzir o estado para uma rota que, porventura, possa ter saído do lugar. Agora, com o governador bem avaliado, o candidato dele pode vir a se tornar um jogador importante na sucessão.

Nessa escolha do voto, o que mais pesa na decisão do eleitor?

O eleitor tem muito pouca informação. Ele sabe apenas das coisas que dizem respeito diretamente a ele, que estão no dia a dia dele. Sabe se o bairro dele está sendo cuidado pela prefeitura; se a renda pessoal dele aumentou; se hoje ele é capaz de comprar mais coisas por causa do endividamento. Fora isso, ele não sabe. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), por exemplo, não diz respeito diretamente à vida do eleitor médio. Então ele não conhece o projeto. O eleitor é egoísta. Ele olha para o político e pensa: "Você vai melhorar a minha vida? Como? Eu quero saber? Você está dizendo que vai, mas isso todos dizem para buscar meu voto. Mas agora me mostre como. Aí eu vou ver se concordo. E também quero te conhecer melhor, para saber se você tem credibilidade para falar o que está falando".

Há áreas específicas que têm mais influência sobre o voto?

Nas prefeituras, têm sido recentemente o tema da saúde. Para governador, também a saúde tem sido um tema muito relevante para as classes mais baixas, enquanto a segurança pública diz respeito às classes mais altas. No caso da Presidência, tem sido a capacidade de consumo da população

A corrupção, então, não é algo que determina o voto?

Não, ela não atinge o voto. Até hoje, nenhum político fez algum discurso que tenha ligado a corrupção diretamente ao dia a dia do eleitor. A corrupção realmente está distante das pessoas. Acontece lá em Brasília, enquanto as pessoas moram nas suas cidades, nos seus estados. E elas querem os benefícios ali onde vivem, na vida delas, na família delas. Na verdade, a corrupção é, em parte, reflexo da própria sociedade. Há no Brasil uma tolerância à corrupção por meio da tolerância ao jeitinho brasileiro. O jeitinho é uma quebra de regra informal. Quem quebra uma regra informal acaba sendo muito mais tolerante com a quebra da regra formal, que é a corrupção. A escolaridade tem um grande impacto nisso: quanto mais baixa a escolaridade, menos a pessoa dá valor à corrupção.

E o que é preciso fazer para que a corrupção chame mais a atenção dos eleitores?

Uma maneira efetiva de fazer isso é começar a mostrar para a população que a corrupção diminui o dinheiro que ela tem no bolso. Se tem mais corrupção, mais dinheiro é jogado fora. Assim, acabam se cobrando mais impostos e as pessoas têm menos dinheiro no bolso para gastar com o que elas realmente querem. Essa é a maneira de você tornar a corrupção algo mais popular. Isso já vem sendo alterado, mas não tem nenhum político no Brasil que não queira mostrar serviço quando chegar ao governo. Todos eles sabem que, para sobreviver, têm de fazer coisas para a população. Então, eles sempre precisam mostrar que de fato estão trabalhando.

E qual deve ser o discurso da oposição?

Terá muito a ver com os benefícios que o próprio governo Lula trouxe. A oposição pode dizer: "Se vocês querem continuidade do Lula, isso é mais possível do lado de cá do que com a Dilma, porque temos mais experiência para fazer bons governos". A oposição deverá dizer que só alguém experiente pode manter o curso atual do barco. Se o eleitorado acha que o barco está na direção certa e vai ter de trocar o timoneiro, a oposição destacará que é necessário um timoneiro que tenha condições e experiência para pilotar o barco. Mas além de prometer que manterão o barco na direção certa, eles terão de dizer que trarão mais coisas boas, que vão melhorar mais ainda o quadro atual. Por isso, a campanha tende a ser muito propositiva.

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