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Opções variam da militância social a cargos internacionais

O presidente Lula já declarou que, mesmo fora da Presidência, vai continuar na política. Recente­­­mente, disse que vai atuar como "um leão" pela aprovação de uma reforma política. Outra área em que ele pretende interferir pessoalmente será a criação de um novo marco regulatório para a mídia – proposta que trata, entre outras coisas, da polêmica regulação de conteúdo jornalístico. Um projeto sobre o assunto será deixado pronto para Dilma Rousseff enviar ao Congresso.

O cientista político Valeriano Mendes Ferreira Costa, da Unicamp, explica que o fato de Lula se afastar da política eleitoral não significa distanciamento da política partidária e da militância social. "O presidente não precisa se aposentar. Aliás, seria um desperdício de capital político que pode ser bastante útil em vários sentidos, inclusive na reestruturação do PT", afirma.

Costa cita como exemplo positivo o ex-presidente Bill Clinton, que governou os Estados Unidos entre 1993 e 2001. "O Clinton é um ex-presidente que usa o prestígio dentro e fora dos Estados Unidos e que é importante para o Partido Democrata. O Lula pode seguir nessa direção."

A opinião é compartilhada pelo cientista político Antônio Octávio Cintra. "Não vejo no PT nenhuma grande liderança capaz de fazer sombra ao Lula. Ele próprio não deixa crescer novas lideranças, tanto que escolheu a Dilma, que nunca foi um nome forte no partido, como candidata. Ele vai continuar sendo essencial ao PT e sabe disso."

Cargos internacionais

Há ainda especulações que apontam a possibilidade de Lula ser indicado para cargos em instituições internacionais, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), o Banco Mundial e a Organização das Nações Unidas (ONU).

O presidente do Equador, Rafael Correa, por exemplo, já sugeriu aos colegas que Lula assumisse a secretaria-geral da Unasul. A vaga está aberta desde a morte do ex-presidente argentino, Néstor Kirchner, em outubro. E o presidente da Bolívia, Evo Morales, propôs que Lula concorresse a secretário-geral da ONU. Mas o brasileiro vem demonstrando não ter interesse nos postos.

Única certeza

O futuro do presidente ainda não está claro nem mesmo para as pessoas mais próximas. Amigo de Lula, o diretor-geral de Itaipu, Jorge Samek, confirma que uma das poucas certezas – talvez a única – é a criação de seu instituto. "Primeiro ele vai mergulhar, sair de cena. Depois, sem muita pressa, vai pensar em como estruturar esse instituto", revela Samek. A ideia é que o órgão seja financiado por empresas privadas nacionais e internacionais.

O objetivo da entidade, segundo Samek, será disseminar programas que deram certo ao longo dos últimos oito anos de governo. "Ele quer levar a experiência para a África, para outros países da América Latina e, inclusive, para regiões mais pobres do Brasil", diz. Se isso será suficiente para sanar o apetite político de Lula, só o tempo dirá.

Funcionários da Presidência da República já começaram a encaixotar a mudança do presidente Lula do Palácio da Alvorada. Todo tipo de material guardado desde 2003, como objetos pessoais, correspondências e presentes, está sendo transportado de Brasília para São Paulo em 11 caminhões – um deles, refrigerado, para os vinhos, cachaças, uísques e outras bebidas da adega presidencial.

A última etapa da despedida "material" do cargo, porém, não significa adeus ao poder. Existem muitas especulações e poucas certezas sobre o futuro de Lula a partir de 1.º de janeiro, quan­­­do passa o cargo para Dilma Rousseff no auge de sua popularidade, que bate na casa dos 80% de aprovação. Fala-se que Lula será uma sombra para Dilma, presidenciável desde já, um "leão" na luta pela reforma política,ou que ocupará algum cargo internacional de vulto. Ou ainda que não será nada disso.

A imprevisibilidade acerca do destino do presidente é reforçada por ele próprio em ações e declarações recentes. Ao mesmo tempo em que repete a expressão "rei morto, rei posto" e que vai "desencarnar" do cargo, continuou palpitando na nomeação de ministros e, mais recentemente, nas prioridades orçamentárias da sucessora. Na última quinta-feira, em cadeia nacional de televisão, deixou mais dúvidas no ar: "Não me perguntem sobre o meu futuro", disse ele. Mas, na última segunda-feira, ques­­­tionado se voltaria a disputar a Presidência em 2014, declarou: "Não posso dizer que não porque sou vivo, sou presidente de honra de um partido [o PT], sou um político nato, construí uma relação política extraordinária". Na sequên­­­cia, porém, fez uma ressalva. "Vamos trabalhar para a Dilma fazer um bom governo e, quando chegar a hora certa, a gente vê o que vai acontecer", disse ao programa É Notícia, da RedeTV.

Por mais que tente desconversar quando o assunto é influenciar a nova presidente, o simples fato de Lula usar a expressão "vamos trabalhar", no plural, dá sinais de que ele deve ter algum tipo de ascendência sobre o futuro governo e sobre o PT. Há cerca de dez dias, por exemplo, o presidente criticou uma afirmação feita um dia antes pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo precisaria adiar investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em 2011. Horas depois, Mantega, que permanecerá no cargo com Dilma, teve de contemporizar. Em nota, disse que o atual chefe tinha razão.

Mas nos últimos dias, diante da ameaça de corte de R$ 3,3 bilhões de obras do PAC no orçamento de 2011, Lula voltou a reclamar, dizendo que não haveria suspensão de obras. Mas o Congresso acabou mantendo os cortes na semana que passou, apesar de Lula.

Falta de controle

"A questão é que o Lula não se controla; ele fala o que pensa e isso pode muitas vezes gerar confusão", diz o cientista político Va­­leriano Mendes Ferreira Costa, da Unicamp. Ele avalia que o presidente poderá ter dois tipos de influência a partir de 2011: uma boa, outra ruim. "O presidente pode assumir as rédeas de agendas paralelas que o governo não consegue controlar totalmente, como a reforma política, e manter a atuação no âmbito internacional, o que é positivo. Por outro lado, pode tentar interferir nas decisões do novo governo, o que é negativo."

Para o professor de Ciência Política Antônio Octávio Cintra, que lecionou na Universidade Federal de Minas Gerais e na Universidade de Brasília, a falta de força política de Dilma Rousseff deverá abrir brechas para que Lula interfira diretamente nas ações do futuro governo.

"Será complicado para a Dilma gerir essa ampla coalizão de partidos, conforme já ficou evidenciado na escolha dos ministros. É uma enorme incógnita o tipo de governo que ela vai fazer", avalia Cintra. "De fato, ela pode precisar da figura de proteção e de tutoria do Lula. E, nessa circunstância, não sei se ela terá condições de disputar uma reeleição."

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