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O obstáculo que colocou em risco, nesta quinta-feira, a posse de Mangabeira Unger na futura Secretaria de Ações de Longo Prazo foi derrubado com uma carta do próprio Mangabeira, endereçada ao seu partido, o PRB, em que ele afirma abrir mão da ação contra a Brasil Telecom, empresa de telefonia que tem fundos de pensão de estatais como acionistas, para ser nomeado para o cargo, que disse considerar "sagrado". A existência da carta foi informada pelo presidente do PRB, senador Marcelo Crivella (RJ).

A ação foi protocolada nos Estados Unidos no dia 30 de abril, depois, portanto, de o Palácio do Planalto ter convidado Mangabeira para assumir a Secretaria. Mangabeira prestou serviços como advogado à Brasil Telecom quando a empresa era controlada pelo banqueiro de investimentos Daniel Dantas. Na ação judicial, ele estaria exigindo dos novos controladores pagamento por aqueles serviços.Elo com Daniel Dantas incomoda Planalto

O que mais tem incomodado o núcleo do governo é a notícia de que Mangabeira continua atuando para o banqueiro Daniel Dantas. Na avaliação de assessores, Mangabeira será uma dor de cabeça constante para Luiz Inácio Lula da Silva. No Planalto, todos relembram o fato de Mangabeira ter abandonado o então presidenciável Ciro Gomes quando ele começou a cair nas pesquisas eleitorais.

O presidente também tem dito com freqüência que Mangabeira terá que se explicar sobre o artigo que escreveu em 2005, no qual classificou o governo petista como o mais corrupto da história. O presidente já está irritado com tantas restrições ao futuro ministro.

De acordo com a agência de notícias Reuters, Lula avaliou a hipótese de retirar o convite ao professor, o que seria decidido na volta da viagem de dez dias a Inglaterra, Índia e Alemanha. O presidente esperava que o próprio Mangabeira desistisse do cargo depois de ser informado sobre o descontentamento de Lula.

Por intermédio do ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, Lula deu um ultimato a Mangabeira logo cedo: ou abandonava a ação ou não poderia trabalhar no governo.

— Se isso for um empecilho legal, das duas uma: ou ele retira a ação ou desiste do cargo — afirmou o Mares Guia, depois de se reunir com Lula no Alvorada.

Lula indicou o professor de Harvard para a futura secretaria a pedido do vice-presidente, José Alencar, que não quis comentar o episódio.

— Vários brasileiros pediram ao presidente sua indicação — desconversou.O 36º ministro

O intelectual e professor de direito da Universidade de Harvard, que já foi um duro opositor de Lula, dividiu opiniões ao aceitar o convite para participar do governo. Em artigo na "Folha de S.Paulo" , durante as investigações sobre o escândalo do mensalão, Mangabeira disse que o governo era "o mais corrupto de nossa história nacional". No mesmo texto, afirmou que havia provas de crime de responsabilidade suficientes para o impeachment.

Contudo, aderiu à campanha da reeleição no segundo turno, tendo inclusive subido em palanques ao lado do então candidato. Mangabeira teria sido indicado a pedido do vice Alencar. Sua nomeação, no entanto, provocou polêmica desde o início.

Na ocasião do convite, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, falou em auto-crítica do intelectual:

- Se ele aceitou o convite é porque fez uma autocrítica. O PT não tem que ficar mais feliz ou mais triste por sua nomeação - disse Berzoini.

O secretário-geral do PT, Joaquim Soriano, ironizou a nomeação:

- Ele se desmoralizou sozinho - disse Joaquim Soriano.

Mangabeira já foi guru do ex-governador Leonel Brizola e do hoje deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE). É um dos fundadores e vice-presidente do PRB, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus que tem o vice José Alencar como um dos filiados.

O senador Marcelo Crivella (PRB- RJ) deu uma explicação curiosa para as críticas de seu colega de partido ao governo Lula. Segundo o senador, Mangabeira estava nos Estados Unidos e só era informado sobre o governo pelos jornais. Crivella disse ainda que seu colega de partido refletiu melhor e percebeu que estava errado.

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