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| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

A decisão sobre a permanência ou não de Fernando Francischini à frente da Secretaria de Segurança Pública tomou boa parte da quarta-feira (6) do governador Beto Richa (PSDB) e de seus principais assessores. A história teve várias reviravoltas: no início da manhã, Francischini era dado como demitido; perto do almoço, após uma reunião com o governador, foi confirmado no cargo; à tarde, sua demissão voltou a ser cogitada, principalmente depois da divulgação de documentos assinados pela cúpula da Polícia Militar (PM) contra o secretário.

‘Bomba’ de ‘radicais’ na verdade era solução para atenuar efeitos do gás da PM

O Conselho Universitário da Universidade Estadual de Londrina (UEL) decidiu avaliar se vai entrar com alguma medida administrativa ou judicial contra o secretário estadual da Segurança Pública, Fernando Francischini. A decisão foi tomada após o secretário ter exibido imagens, na terça-feira (5), de supostos integrantes de grupos radicais preparando o que seriam bombas caseiras durante a manifestação de professores no Centro Cívico, no último dia 29. Segundo a UEL, as imagens na verdade mostram estudantes de Enfermagem da universidade preparando uma solução para atenuar os efeitos das bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela Polícia Militar contra os manifestantes. As informações foram divulgadas nesta quarta-feira (6) pelo telejornal Paraná TV 1ª edição, da RPC.

Na reunião com o governador, pela manhã, Francischini teria feito um apelo emocionado para permanecer no cargo. Segundo fontes próximas ao governo, ele afirmou que uma exoneração a essa altura significaria um baque muito grande para sua carreira política. Richa teria cedido aos apelos e dito a Francischini que ele permaneceria no posto.

Mas logo depois, a situação mudou. Primeiro, veio à tona uma carta escrita pelo comandante-geral da Polícia Militar, coronel César Kogut, direcionada ao governador. Assinada por 16 dos 19 coronéis da PM, a carta dizia repudiar as declarações de Francischini em que ele atribuiu à polícia toda a responsabilidade pelo confronto do dia 29 com professores da rede estadual. Segundo a carta, o secretário aprovou o plano de ação e “foi alertado inúmeras vezes” da possibilidade de haver feridos. Depois, uma “nota de desagravo” assinada igualmente por Kogut dizia que “todas as ações eram de conhecimento de Francischini” que, inclusive, teria dado ordens diretas ao subcomandante da tropa.

Em uma terceira manifestação da PM, a Associação dos Oficiais Policiais e Bombeiros do Paraná (Assofepar) afirmou que a corporação foi apenas um “instrumento” que cumpria ordens e que a ação poderia ser “interrompida a qualquer momento” pelas instâncias superiores.

Com as manifestações, voltaram a surgir os boatos de demissão, uma vez que a relação entre o secretário e a PM teria ficado “insustentável”.

O secretário Francischini comentou a situação apenas à noite, em nota enviada por sua assessoria. Diz que foi “mal interpretado em alguns pontos” na entrevista coletiva de segunda-feira (4), na primeira vez em que se manifestou depois da “batalha” do Centro Cívico, em que mais de 200 pessoas foram feridas pela polícia. “Reafirmo meu total apoio a todas as operações da Polícia Militar, compartilhando todas as responsabilidades inerentes à Secretaria”, disse. O secretário, porém, não especificou quais afirmações suas teriam sido mal interpretadas.

Apoio

Mesmo com a rixa com a PM, outras entidades da segurança pública se manifestaram favoráveis à permanência de Francischini na secretaria, como o Colégio Nacional de Secretários de Segurança Pública (Conesp) e sindicatos da Polícia Civil.

Secretário foi “no mínimo omisso”, diz especialista

Especialista em segurança pública ouvido pela Gazeta do Povo afirma que o secretário Fernando Francischini foi “no mínimo omisso” por não ter agido para conter excessos no uso de força policial contra os manifestantes no último dia 29, no Centro Cívico. No início da semana, Francischini se isentou de qualquer responsabilidade sobre as decisões da polícia naquele dia. Depois, disse que foi “mal interpretado”, sem especificar em qual ponto.

“A secretaria é a chefia política da segurança, então ele [Francischini] teria que fazer o meio de campo entre o governo e a polícia, planejar a política de segurança e fazer com que se cumpra isso”, afirma Guaracy Mingardi, analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “[Francischini] não pode dizer ‘a culpa não é minha’. Se ele é chefe, tem que saber o que está acontecendo e tentar evitar”, diz Mingardi. “Pode ser que ele tente [evitar] e não consiga, mas daí teria que botar a boca no trombone antes do desastre acontecer.”

A atitude do secretário de culpar a PM pela ação policial desproporcional do dia 29 deixou um mal-estar generalizado na corporação. O coronel César Kogut, comandante-geral da PM, chegou a deixar o cargo à disposição. Em três notas, a PM repudiou veementemente a postura de Franscichini, sinalizando o clima tenso entre o comando e a secretaria.

A rixa entre PM e a secretaria poderia ser contornável, na visão de Mingardi. “Mas, nesse caso em específico do Paraná, como ficou muito mal para a polícia, teve muita repercussão, ficar jogando a culpa para o outro pode complicar mais ainda.”

Para Algacir Mikalovski, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada da Universidade Tuiuti do Paraná, o secretário precisaria ter “apoio irrestrito” das forças policiais para conseguir trabalhar. “Não podemos ter um descompasso entre a secretaria e as polícias. É importante até para a contenção da criminalidade”, afirma. (AA)

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