
A maioria parece avassaladora. Trinta e seis de 38 vereadores são considerados, oficialmente, da base de apoio do prefeito Gustavo Fruet (PDT). Entretanto, na prática, ficam cada vez mais evidentes as insatisfações dos aliados e a prefeitura sofre uma resistência crescente dentro da Câmara de Curitiba.
Essa base incerta e flutuante é uma novidade da atual legislatura. Nas últimas décadas, essa zona cinzenta praticamente não existia na Câmara Municipal: ou o vereador era situação ou oposição, e o resultado das votações era extremamente previsível.
Foi assim na legislatura passada. O bloco formado por PT, PMDB e o vereador Paulo Salamuni (PV) eram responsáveis pela crítica ao Executivo. Os outros parlamentares davam chancela a praticamente tudo o que era defendido pelos então prefeitos Beto Richa (PSDB) e, posteriormente, Luciano Ducci (PSB).
As últimas votações polêmicas da Câmara mostraram um outro cenário. Nesta semana, a retirada de pauta de projeto que endurecia a proibição da dupla função de motoristas de ônibus mostrou bem a situação. As principais lideranças da base queriam evitar a votação do projeto, que tramitava em regime de urgência e poderia significar mais custos para a prefeitura. Outros aliados, entretanto, se rebelaram. Até mesmo vereadores considerados do "núcleo duro" da base de apoio, como Aldemir Manfron (PP) e Jonny Stica (PT), discursaram em defesa da votação do projeto. A retirada do texto da pauta foi aprovada, mas apenas com a promessa de que um novo projeto, com o mesmo teor, seria reapresentado.
No primeiro semestre, mais uma vez, a prefeitura quase perdeu. Duas emendas à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) propostas pela oposição e rejeitadas pela liderança do prefeito por pouco não foram aprovadas. Na votação de uma das matérias, de autoria da oposicionista Noêmia Rocha (PMDB), foi necessário um voto de minerva para desempatar a disputa e a prefeitura sair vencedora. No caso, o voto foi do vereador Tito Zeglin (PDT), que presidia a sessão.
Bancadas
Na prática, apenas dois vereadores são assumidamente de oposição: Noêmia Rocha (PMDB) e Professor Galdino (PSDB). Entretanto, durante as sessões plenárias, Chico do Uberaba (PMN) e Chicarelli (PSDC) são tão ou mais críticos ao prefeito quanto os oposicionistas oficiais. As bancadas do PSC e do PSB, com a exceção de Dona Lourdes (PSB), também têm votado quase sempre com a oposição.
Por outro lado, os partidos que apoiaram Fruet na eleição (PT,PDT e PV), além do DEM, do PTB e dos tucanos Serginho do Posto e Felipe Braga Cortes têm formado a "base da base", núcleo de vereadores mais alinhados com a prefeitura. A divisão entre veteranos e novatos também é notável. Vereadores de primeiro mandato tendem a ser mais arredios às orientações do líder do prefeito que os parlamentares mais antigos.
Perfis do prefeito e da gestão pesam para rebeldia de aliados
O perfil do prefeito Gustavo Fruet (PDT) e de sua gestão podem explicar parte da "rebeldia" dos vereadores. Antes de assumir a prefeitura, Fruet foi deputado de oposição no Congresso e passou pelas dificuldades de se enfrentar o "rolo compressor" governista. Além disso, sua gestão tem mostrado uma certa falta de jogo de cintura para dialogar com os vereadores, que muitas vezes reclamam de serem desprestigiados pela atual gestão.
Para o líder do prefeito na Câmara, Pedro Paulo (PT), a relação entre a prefeitura e os vereadores mudou na atual gestão, assim como o relacionamento interno entre os vereadores. Na opinião dele, a Câmara está mais independente da prefeitura e a Mesa Executiva tem aberto espaço para os outros vereadores. "Em uma reunião com os líderes, eu disse que não haveria enquadramento, e sim convencimento. E é o que vem ocorrendo. É um caminho mais difícil, mas certamente muito positivo", afirma.
Falta de tato
O próprio prefeito disse, em inúmeras ocasiões ao longo da gestão, que valorizaria a independência do Legislativo e que não iria intervir nas votações. No entanto, se parece haver uma intenção do prefeito em manter a independência dos vereadores, também pesa para a "rebeldia" da base uma insatisfação com o relacionamento entre prefeitura e Câmara. Um dos parlamentares mais críticos a Fruet, Chico do Uberaba (PMN) acha que falta tato por parte do prefeito na hora de lidar com os vereadores. Como na hora de convidá-los para eventos e outras ações simbólicas pouco importantes para o público em geral, mas que pesam para os parlamentares por ser um momento em que podem aparecer para os eleitores.
"É chato saber que uma autoridade vai ao seu bairro e você não foi avisado. Você quer acompanhar o que acontece na sua região. E as pessoas cobram, o prefeito estava aqui no Uberaba e você não estava junto". Segundo o vereador do PMN, isso ocorre até com vereadores que estão entre os mais fiéis da base de apoio.




