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Crise nos Transportes

Ministério deixou de usar R$ 63 bi destinados ao setor

Valor não aplicado é seis vezes superior ao necessário para readequar aeroportos brasileiros para a Copa de 2014

Não bastassem as denúncias de corrupção que há duas semanas assombram o Ministério dos Transportes, uma análise de seu orçamento revela incapacidade na gestão dos recursos reservados para investimentos. Levantamento da ONG Contas Abertas no Orça­­mento da União mostra que o Ministério dos Transportes deixou de usar, desde 2002, cerca de R$ 63 bilhões destinados a investimentos no setor.

O cálculo – que foi ajustado pela inflação e exclui os gastos de custeio – revela que o ministério conseguiu gastar apenas 57% do valor previsto. Na primeira metade deste ano, por exemplo, foram investidos pouco mais de um terço (35%) do orçamento. Na maior parte do tempo, a pasta era comandada por Alfredo Nascimento, que caiu após denúncias de corrupção.

"Se há dinheiro e há necessidade de investimentos, e se esse investimento não está sendo feito, é porque falta competência. É muita incompetência na gestão do dinheiro público", opina Flávio Benatti, presidente da Associação Nacional de Transportes de Cargas e um dos dirigentes da Confe­­deração Nacional dos Transportes (CNT).

Os principais argumentos dados pelo governo nos últimos anos para justificar os atrasos nas obras de infraestrutura são a fiscalização dos órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União, e o suposto rigor da legislação ambiental. Para Benatti, no entanto, as recentes denúncias envolvendo o Ministério dos Transportes evidenciam que os mecanismos de controle não podem ser flexibilizados.

Manoel Reis, coordenador do curso Master em Logística da Fundação Getúlio Vargas, admite que a fiscalização pode atrasar as obras, mas ressalta que este não é o principal fator. Para ele, "claramente, há um problema de gestão".

Se o Ministério dos Transportes não consegue gastar todo o valor reservado para investimentos em seu orçamento, não é por falta de obras pendentes. Os R$ 63 bilhões excedentes nos últimos anos são seis vezes o valor estimado pela CNT como necessário para resolver os problemas nos aeroportos do país (R$ 9,7 bilhões) – apontados como principal gargalo para a realização da Copa de 2014.

O dinheiro economizado pelo Ministério dos Transportes equivale, ainda, a um terço dos investimentos necessários nas estradas (estimado pela CNT em R$ 190,1 bilhões). Em estudo divulgado em janeiro, a entidade afirma que, no total, o Brasil precisa investir R$ 404,9 bilhões em infraestrutura de transportes.

Manoel Reis acrescenta que seriam precisos US$ 30 bilhões (cerca de R$ 47 bilhões) para a construção de 10 mil km de estradas de ferro no Brasil. "Ou seja, o dinheiro que o ministério deixou de investir seria mais do que suficiente para isso", afirma o professor da FGV.

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