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Youssef está preso desde março na sede da PF em Curitiba | Jose Cruz/ABr/ Arquivo
Youssef está preso desde março na sede da PF em Curitiba| Foto: Jose Cruz/ABr/ Arquivo

Ex-gerente diz que presidente da Petrobras sabia de desvios

Kelli Kadanus, com agências

A ex-gerente executiva da Petrobras Venina Velosa prestou ontem depoimento aos investigadores da Operação Lava Jato em Curitiba. A oitiva, com duração de cinco horas, foi para esclarecer denúncias, feitas por ela, de irregularidades na área de comunicação da estatal, na construção da Refinaria Abreu e Lima e na compra de óleo por subsidiárias no exterior.

Venina contou aos procuradores que está sendo ameaçada e entregou milhares de documentos, principalmente cópias de e-mails e relatórios internos de auditoria da Petrobras. O advogado dela, Ubiratan Mattos, afirmou que Venina passou a ser intimidada por telefone após a primeira denúncia, com recados como "você está mexendo com gente grande".

O advogado também contou que a ex-gerente apresentou documentos e alegações que confirmam que a presidente da empresa, Graça Foster, sabia das irregularidades na estatal desde 2007. Venina diz ter alertado a atual diretoria da Petrobras, inclusive Graça Foster, dos problemas, sem que a cúpula da estatal tenha tomado providências. E-mails sobre as irregularidades teriam sido enviados por ela a Graça.

Em nota, a presidente da estatal negou que o conteúdo das mensagens tratasse de irregularidades. Segundo Graça, as acusações de Venina são uma retaliação, já que uma auditoria interna da Petrobras responsabilizou Venina e mais dez pessoas pelas irregularidades nos contratos em Abreu e Lima. "Estão querendo transformar a vítima em vilã. Estão tentando desconstruir a figura da minha cliente. Hoje [ontem] ela comprovou que não é a vilã da história", afirmou o advogado de Venina.

Venina deve voltar a Curitiba no ano que vem, quando vai depor à Justiça Federal. A audiência está marcada para a segunda quinzena de fevereiro.

Caso André Vargas na 1.ª instância

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki decidiu ontem enviar as apurações sobre o ex-deputado federal André Vargas à Justiça Federal no Paraná. O ex-deputado do PT teve seu mandato cassado no último dia 10, em votação no plenário da Câmara e, por isso, perdeu o direito a foro privilegiado. Com isso, as acusações contra Vargas ficam a cargo do juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato no Paraná. O nome do ex-petista apareceu na primeira fase da operação, deflagrada em março deste ano, sob acusação de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef.

Outro lado

Citados por Costa negam relação com corrupção na estatal

Políticos citados por Paulo Roberto Costa negaram envolvimento e questionaram o vazamento do teor da delação premiada. Antonio Palocci negou "veementemente" as acusações. A assessoria do Ministério de Minas e Energia informou que Edison Lobão (PMDB-MA) "desconhece a referida lista e não é beneficiário de qualquer irregularidade". A senadora Gleisi Hoffmann afirma que "não conhece e jamais manteve contato" com Costa e Youssef. O ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP-BA) negou que tenha recebido propina. A assessoria da presidência do Senado informou que as relações de Renan Calheiros (PMDB-AL) com diretores da Petrobras "nunca ultrapassaram os limites institucionais". A assessoria da Presidência da Câmara afirmou que "não há qualquer hipótese de verdade" no envolvimento de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Nelson Meurer (PP-PR) disse "não saber de nada" sobre sua menção.

  • Venina contou aos procuradores que está sendo ameaçada

A delação do doleiro Alberto Youssef, prestada em acordo de delação premiada da Operação Lava Jato, foi homologada ontem pelo ministro Teori Zavascki, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF). O teor da delação chegou ao relator na última terça-feira, após passar pela análise do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

INFOGRÁFICO: Veja a lista dos políticos citados por Paulo Roberto Costa

Além da homologação, Zavascki aceitou também o pedido de Janot para que os depoimentos tanto de Youssef quanto do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa sejam desmembrados em procedimentos autônomos para facilitar a condução do caso.

O próximo passo será o desmembramento dos casos em que não há foro privilegiado ou em que o julgamento não é de competência do STF, caso de quem não tem mandato – como parlamentares não reeleitos e governadores, cujo foro fica a cargo do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Prisão

Já o doleiro Alberto Youssef ficará preso em regime fechado por três anos. A medida faz parte do acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF), segundo apurou a Gazeta do Povo.

Pelo acordo, Youssef também se comprometeu a devolver R$ 55 milhões e deverá pagar uma multa. Ele detalhou o esquema de corrupção na Petrobras e apontou envolvidos em troca de redução de pena. Sem a delação, o doleiro poderia ser condenado a até 100 anos de prisão, somando as possíveis penas de mais de uma dezena de processos a que responde na Justiça.

Os três anos de detenção deverão englobar as penalidades aplicadas às ações da Operação Lava Jato e também ao Caso Banestado – no qual o doleiro foi condenado este ano a quatro anos de prisão por ter quebrado o acordo de delação que fechou em 2004.

Youssef não poderá cumprir prisão domiciliar, como foi permitido ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa logo após a homologação de seu acordo de delação pelo STF, em outubro. No caso de Costa, o acordo prevê cumprimento de dois anos em regime semiaberto em caso de condenação.

Desde março deste ano Youssef está detido na sede da PF em Curitiba. Após a homologação do acordo, ele poderá ser transferido para outra unidade prisional.

Próxima etapa

Com a decisão de Zavascki de "desmembrar" os depoimentos do doleiro e de Costa, os procuradores irão agora cruzar os dados das declarações e reunir provas.

Como o recesso do Judiciário começa hoje, inquéritos e denúncias envolvendo políticos ficarão para 2015.

O advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, não foi localizado ontem.

Lista de delator tem dois paranaenses e outros 26 políticos

Estadão Conteúdo

Primeiro delator da Lava Jato, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa citou em 80 depoimentos que se estenderam por duas semanas, entre agosto e setembro, uma lista de 28 políticos –que inclui ministro e ex-ministros do governo Dilma Rousseff (PT), deputados, senadores, governador e ex-governadores. Na lista estão dois políticos paranaenses: a senadora Gleisi Hoffmann (PT) e o deputado federal Nelson Meurer (PP).

O jornal O Estado de S. Paulo obteve a lista completa dos citados. A relação inclui diversos parlamentares que integram a base aliada ao Palácio do Planalto no Congresso como supostos beneficiários do esquema de corrupção e caixa 2 que se instalou na Petrobras entre 2004 e 2012. A lista inclui também o ex-ministro Antonio Palocci, que ocupou a Esplanada nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma. Em sua delação, Costa teria dito que Palocci pediu, em 2010, um repasse de R$ 2 milhões – que seria para a campanha presidencial de Dilma.

O ex-diretor citou ainda o atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e os ex-ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Mário Negromonte (Cidades). Foram relacionados também por Costa os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

Há nomes que até aqui ainda não haviam sido revelados, como os do governador do Acre, Tião Viana (PT), além dos deputados Vander Luiz dos Santos Loubet (PT-MS), Alexandre José dos Santos (PMDB-RJ), Luiz Fernando Faria (PP-MG) e José Otávio Germano (PP-RS). Entre os congressistas, foram mencionados ao todo sete senadores e onze deputados federais.

O perfil da lista reflete o consórcio partidário que mantinha Costa no cargo e contratos bilionários da estatal sob sua tutela – são 8 políticos do PMDB, 10 do PP, 8 do PT, 1 do PSB e 1 do PSDB. Alguns, segundo o ex-diretor, recebiam repasses com frequência ou valores que chegaram a superar R$ 1 milhão – dinheiro que teria sido usado em campanhas eleitorais. Outros receberam esporadicamente – caso, conforme Costa, do ex-senador Sérgio Guerra, que foi presidente nacional do PSDB e em 2009 teria pedido R$ 10 milhões para arquivar uma CPI da Petrobras no Senado.

Sobre vários políticos, o ex-diretor apenas mencionou o nome. Não revelou valores que teriam sido distribuídos a eles ou a suas agremiações.

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