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Paula Lima solta a voz na capital, nesta terça | Divulgação/Angélica Fenley Belich Assessoria em Comunicação
Paula Lima solta a voz na capital, nesta terça| Foto: Divulgação/Angélica Fenley Belich Assessoria em Comunicação

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Alvo das investigações da Polícia Federal na Operação Navalha, que prendeu 46 pessoas na quinta-feira da semana passada, o ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, defendeu-se das acusações nesta segunda-feira. No relatório enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), a PF acusa o ministro de prática de corrupção passiva. Ele teria recebido, em seu gabinete, no dia 13 de março, propina de R$ 100 mil da Gautama, empresa que operaria esquema de desvio de dinheiro público.

No Paraguai, onde acompanha a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro disse que as denúncias contra ele causam indignação. E que o prejulgamento é "horrível". O ministro disse que tem uma biografia a zelar, que esta "acima de cargo, acima de tudo" e que cabe à Justiça investigar o seu suposto envolvimento no recebimento de propinas.

Já o presidente Lula disse que só falaria sobre o caso no Brasil. Na tarde desta segunda-feira, Lula embarca para Foz do Iguaçu, onde inaugura duas turbinas de Itaipu com o ministro. Ele volta a Brasília na manhã de terça-feira.

- Isso é muito ruim. Causa uma indignação. Esse prejulgamento é uma coisa horrível. Eu não posso aceitar isso - disse o ministro.

José Alencar

Quem também se manifestou foi o presidente da República em exercício, José Alencar, que defendeu nesta segunda-feira a ampla investigação das denúncias , mas afirmou que ninguém pode ser condenado com base apenas em indícios.

Silas Rondeau já se manifestara na noite de domingo, quando interrompeu sua participação num seminário para dar declarações sobre o caso. Ele classificara as acusações de boatos e disse que "tomou todas as providências que um ministro tem que tomar em um momento como esse":

Assessores mostram que não há câmera na porta do ministro

Nesta manhã, a assessoria do ministro mostrou a cópia de um documento que identifica os visitantes. Maria de Fátima Palmeira, diretora comercial da Gautama em Brasília presa na semana passada, teria sido recebida pelo assessor especial do gabinete Ivo Almeida Costa, que também foi preso na operação, mas não pelo ministro. Os assessores mostraram ainda que não há câmeras na entrada do gabinete do ministro e que a porta que aparece nas imagens divulgadas pela PF leva a várias salas e não apenas à de Rondeau.

O relatório da PF é categórico e afirma que Rondeau recebeu a quantia. O dinheiro, segundo a PF, teria sido levado por emissários do empresário Zuleido Veras, dono da empresa Gautama, que está no centro do esquema de desvio de recursos públicos.

Diz o relatório da PF: "Apurou-se ainda que Silas Rondeau (ministro das Minas e Energia) recebeu, por meio de Ivo Almeida Costa (assessor especial do ministério), a quantia de R$ 100 mil, entregue por Maria de Fátima, uma vez que teria destinado recursos oriundos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para convênio que beneficiaria a construtora Gautama".

Com gravações telefônicas e imagens que seriam do circuito interno do próprio ministério, a PF flagrou Maria de Fátima entrando no prédio do ministério. Lá, ela encontrou-se com Sérgio Pompeu Sá, lobista que teria intermediado o suposto pagamento de propina ao ministro. Ele a esperava no gabinete de Rondeau. Ainda segundo a PF, o dinheiro foi repassado ao ministro por Ivo Almeida, que também aparece nas imagens e leva Maria de Fátima até a saída, após o encontro.

Procurador-geral diz que ainda não há indícios contra o ministro

O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, disse nesta segunda-feira que está acompanhando as denúncias e que não há, por enquanto, indícios contra o ministro que justifiquem a transferência do processo para o Supremo Tribunal Federal.

Preocupação no Planalto com envolvimento de nomes de aliados

Dentro do governo, há preocupação de que aliados sejam atingidos pelo caso. O Palácio do Planalto não gostou de ver citados nomes petistas como o senador Delcídio Amaral (MS), a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o governador Jaques Wagner, da Bahia. Os dois últimos passearam, em novembro do ano passado, na lancha "Clara", que pertence a Zuleido Veras.

Conversas gravadas pela Polícia Federal comprovam que Zuleido comprometeu-se a pagar o aluguel de um avião usado pelo senador do PT em 4 de abril.

O avião levaria o senador para o enterro do sogro em Barretos (SP). Delcídio pediu ao amigo Luiz Gonzaga Salomon que providenciasse o avião, que pediu então a ajuda de Zuleido para pagar a despesa de R$ 24 mil.

Salomon apresentava a versão de que procurara Zuleido apenas no início de maio, quando o cheque que ele deu como garantia para o aluguel iria ser depositado. Mas escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal mostram que Gonzaga Salomon entrou em contato com o dono da Gautama assim que falou com o senador petista.

O nome de Delcídio apareceu no "grampo" que a PF fez no telefone de Zuleido. Segundo a PF, Gonzaga Salomon telefonou duas vezes para Zuleido, se apresentando como "Zaga".

- Zuleido, deixa eu te fazer uma pergunta franca. Me ligou agora há pouco o senador Delcídio, que morreu o sogro dele e ele precisa ir para "Barreto" (Barretos/SP). Estou movimentando aqui e ver se eu consigo um avião para ele. Você topa ajudar isso? - disse Gonzaga Salomon.

- Topo, sem dúvida. Pode mandar bala - respondeu Zuleido, que chama "Zaga" de "meu irmão".

Conversas citam Renan Calheiros e Teotônio Vilela Filho

As gravações feitas pela PF com autorização judicial revelam ainda que a empresa Gautama teria recorrido a políticos de Alagoas para liberar recursos para obras de construção de canais em Pratagy. Segundo o relatório da PF enviado ao STJ, os integrantes da suposta quadrilha citam o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e o governador Teotônio Vilela Filho (PSDB).

Em uma conversa telefônica, Zuleido afirma que a liberação dos recursos tem que sair e que pode ser dito que a obra "é do Téo", apelido de Teotônio Vilela. O representante do governo de Alagoas, Enéas de Alencastro, que está preso, teria negociado propina e um encontro entre Zuleido e Teotônio.

Em outro trecho, segundo a PF, Zuleido fica satisfeito quando é informado que tanto Renan quanto o governador ligaram para pedir a liberação de verbas para a obra.

Renan rechaçou tentativas de envolver seu nome, por conhecer há mais de 20 anos o empresário Zuleido Veras.

O ex-governador de Sergipe João Alves, do PFL, também foi citado. E o filho dele, João Alves Neto, foi acusado de receber mesada da quadrilha. Um dos pagamentos teria sido de R$ 216 mil. Ele esta preso em Brasília.

Tarso defende operação mas alerta para prejulgamentos

O ministro da Justiça, Tarso Genro, defendeu a investigação da PF, mas alertou que é preciso não haver prejulgamentos. Tarso argumentou que há várias figuras políticas citadas, inclusive presas, mas que não se podem transformar as investigações num "inquérito político".

Entre os que foram presos pela Operação estão também o deputado distrital Pedro Passos (PMDB); o prefeito de Camaçari, Luiz Carlos Caetano (PT); o prefeito de Sinop (MT), Nilson Leitão (PSDB), entre outros.

Para o ministro da Justiça, é preciso separar crimes e irregularidades de "maus costumes políticos". O ministro admitiu que está sendo procurado por vários partidos preocupados com as repercussões políticas das investigações. A orientação é para que a PF continue trabalhando com isenção e cuidado para evitar vazamento de informações.

Ao ser perguntado se Silas Rondeau estava sendo citado no inquérito, Tarso Genro só disse que não tinha essa informação. Segundo Tarso, ele conversou com Silas Rondeau no momento em que o ministro decidiu afastar seu ex-assessor Ivo Almeida Costa, que está preso na PF pelo envolvimento no esquema. O ministro reiterou que informou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a Operação Navalha.

- Não nos preocupamos em saber quais eram os nomes, porque poderia parecer interferência - disse.

E a Operação Navalha poderá ter que cortar na própria carne. Relatório reservado da Divisão de Contra-Inteligência da PF sobre a operação acusa o vice-diretor da instituição, Zulmar Pimentel, de vazar informações sigilosas e comprometer as investigações sobre o envolvimento de colegas de corporação com esquemas de contrabando e corrupção.

Entre os investigados estavam o atual secretário de Segurança Pública da Bahia, Paulo Bezerra, e o superintendente da PF no estado, César Nunes, além dos delegados João Batista Paiva Santana e Rubem Patury. Essa investigação, em que o nome de Zuleido Veras já aparecia, deu origem à Operação Navalha e por isso consta do relatório da PF.

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