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Eram 16h40 de sexta-feira quando a desempregada Marisete Maria Santos, de 40 anos, desembarcou de um táxi no saguão de entrada da butique Daslu, que fica ao lado da favela na qual ela mora. O coração de Marisete disparou no momento em que ela se deparou com seguranças oferecendo o preenchimento de um cadastro. Marisete teve medo de encarar o luxo. Pensou que seria barrada. O nervosismo só diminuiu quando conseguiu entrar no templo das compras sofisticadas. A dona da megaloja, Eliana Tranchesi, passou dez horas detida na Polícia Federal, acusada de sonegação de impostos e de usar empresas laranja para comprar produtos importados.

Marisete é moradora da Favela Funchal, que fica ao lado do prédio. A loja é a vista principal dos que moram nos barracos da Funchal. Marisete foi convidada pelo "Diário de S.Paulo" para conhecer a butique por dentro. Durante o passeio, comprou duas camisetas no valor de R$ 89 - R$ 11 a menos do que ela tinha ganhado para gastar na Daslu.

Inicialmente recusou o convite, alegando que já havia visto o interior da megaloja pelas revistas. Mas parou uns segundos, repensou na hipótese de visitar o lugar em que jamais sonhou botar os pés e decidiu:

- Ah, então vamos! - já caminhando por entre as vielas.

Antes de pegar o táxi acompanhada pela equipe do "Diário de S.Paulo", ela foi ao seu barraco para caprichar no visual. Não queria fazer feio. Cabelos presos num rabo de cavalo, trajava um macacão rosa, um terninho branco, sandálias brancas e uma echarpe - adereço em perfeita combinação com o conjunto.

Preocupada em ser reconhecida como moradora da favela, Marisete, enfim, chegou na Daslu. A moça, que faz bicos como guardadora de carros e tem um boteco na favela, se deparou com o universo das grifes Louis Vuitton, Channel, Prada, Armani , Hermenegildo Zegna, entre outras.

- Essa aqui tem igualzinho na 25 de março - disparou logo que viu bolsas da Louis Vuitton, cujos preços de algumas peças ultrapassavam os três dígitos. Marisete se assustou com os preços. Mas mesmo assim se entregou ao encantamento.

Com desenvoltura, mas receosa de que poderiam surgir olhares curiosos, ou preconceituosos, ela seguiu em frente. Tirou de letra o desafio de passear entre os endinheirados. Aos poucos, se sentia à vontade para mexer nas peças que lhe chamavam atenção e observar preços.

Ao ver uma camiseta bordada, que custava R$ 350, a moça emendou:

- Isso aqui eu faço de olho fechado.

Filha de baianos, detectou o grande número de clientes carregando várias sacolas que deveriam ter a mesma origem de sua família.

- Quanta gente com sotaque nordestino.

Marisete quis conhecer tudo. Ao som de um piano e de um contrabaixo, ela ficou boquiaberta apreciando os freqüentadores do restaurante - cujo bufê dispõe de pães, doces e chás - a sofisticação.

- Como as pessoas são perfumadas, bonitas, e falam baixinho.

Também se surpreendeu ao ver funcionárias próximas aos toaletes só para segurar as sacolas das clientes.

- Puxa, bem que eu poderia trabalhar segurando sacolas. Já pensou, todo dia eu na Daslu?

Questionada na favela sobre o que achou da aventura de conhecer a loja mais luxuosa do país, ela respondeu, sorrindo:

- Que mulher não ficaria fascinada?

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