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| Foto: Sérgio Lima/FolhaPress

O senador e ex-presidente Itamar Franco (PPS-MG) morreu ontem às 10h15 da manhã, aos 81anos, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC) sofrido durante a madrugada. Ele estava internado desde 21 de maio, quando procurou o hospital para tratar-se de uma forte gripe e descobriu que tinha leucemia. O quadro clínico de Itamar se complicou quando ele contraiu uma pneumonia. Na última segunda-feira, na véspera de seu aniversário, foi transferido para a UTI (unidade de tratamento intensiva) do hospital. Na sexta-feira, o estado de saúde do ex-presidente piorou e o quadro dele já era considerado grave.

A presidente Dilma Rousseff decretou ontem luto oficial de sete dias. E telefonou para Henrique Hargreaves, amigo do ex-presidente e ex-chefe da Casa Civil no governo Itamar, para lamentar a morte e oferecer o Palácio do Planalto para o velório. Mas a família não quis que o velório ocorresse em Brasília e o corpo do ex-presidente deve ser transferido hoje para Juiz de Fora (MG), cidade que era sua base política e onde será velado. Dilma confirmou que participará do velório.

O ex-presidente pediu ainda que fosse cremado em Belo Horizonte – onde deverá receber homenagens no Palácio da Liberdade, sede do governo de Minas Gerais, estado do qual foi governador. Essa cerimônia deve ocorrer amanhã.

Vice de Collor

Itamar teve uma trajetória política longa, cujo ápice foi quando ocupou a Presidência do Brasil, entre 1992 e 1994, após a renúncia do ex-presidente Fernando Collor, que respondia a processo de impeachment no Congresso. Antes do impeachment, Itamar, que era vice de Collor, já havia rompido com o então presidente, acusado de corrupção.

O ex-presidente Itamar governou o país em um dos períodos mais importantes da história recente. Ele é apontado como um dos responsáveis pela estabilização política e econômica do país.

Ao assumir a Presidência, Itamar se deparou com o desafio gigantesco de conter a hiperinflação. Em outubro daquele ano, a inflação medida pelo IGP-M era de 26,7% ao mês. Dois anos depois, ele entregou a faixa presidencial a Fernando Hen­­rique Cardoso com o IGP-M de dezembro de 1994 de 0,84%. O Plano Real, que conteve a escalada dos preços, costuma normalmente ser atribuído a FHC. Mas o fato é que Fernando Henrique era apenas o ministro da Fazenda de Itamar quando o plano foi lançado.

A administração de Itamar foi relativamente curta: dois anos, três meses e 29 dias. Porém, neste período o governo dele conseguiu fazer a transição de um país recém-saído de uma ditadura militar de 21 anos e que viu o primeiro presidente eleito democraticamente renunciar para uma nação estável politicamente e entusiasmada com o controle da inflação.

Porém, isso não livrou o presidente de enfrentar "turbulências". A mais pitoresca delas é conhecida como a "crise da calcinha". No carnaval de 1994, Itamar Franco foi fotografado ao lado da modelo Lilian Ramos em um camarote durante os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro. A moça não usava sutiã nem calcinha. A foto deixava à mostra o órgão genital da mulher. A história virou escândalo. Autoridades religiosas chegaram a pedir a renúncia de Itamar. Como o longo topete usado por Itamar, a história virou piada.

E o escândalo não impediu que Itamar deixasse a Presidência com altos índices de aprovação e conseguisse eleger o sucessor (justamente seu ex-ministro FHC) – o que não acontecia desde o governo de Arthur Bernardes, que governou entre 1922 e 1926.

Juiz de Fora

Além da Presidência, Itamar teve uma vida política agitada, que começou bem cedo. Após se formar em engenharia civil pela Universidade Federal de Juiz de Fora, concorreu em sua primeira eleição em 1958 como candidato a vereador pelo PTB. Não foi eleito, assim como não conseguiu sucesso na segunda tentativa, em que perdeu a eleição como candidato a vice-prefeito da cidade, quatro anos depois.

Sua primeira conquista eleitoral ocorreu em 1966, já durante a ditadura militar. Foi eleito prefeito de Juiz de Fora pelo MDB, partido de oposição ao regime. Itamar assumiu o cargo em 1967 e foi reeleito em 1972. Mas não terminou o segundo mandato. Em 1974, saiu do cargo para se candidatar ao Senado e, novamente, as urnas lhe deram mais um cargo público. Itamar foi eleito senador outras duas vezes, em 1982 e 2010.

Em 1998, já após ter sido presidente e de ter ocupado o cargo de embaixador do Brasil em Portugal e na Itália durante o governo FHC, Itamar elegeu-se governador de Minas. Fez uma gestão polêmica. Logo que assumiu, decretou uma moratória para auditar a dívida do estado. O principal credor de Minas era o governo federal e a moratória o afastou politicamente do então presidente FHC e acirrou a crise econômica pela qual o Brasil passava, fazendo a cotação do dólar disparar. Itamar também desfez várias políticas de privatização do antecessor, Eduardo Azeredo. Retomou na Justiça o controle acionário da Cemig, empresa estatal de geração de energia. E se opôs à tentativa de venda de Furnas.

Oposição a Dilma

No ano passado, foi eleito senador pelo PPS de Minas, com 5,1 milhões de votos. Nos poucos meses que ocupou o cargo, vinha se destacando com um dos principais nomes de oposição ao governo Dilma. Quem assume a cadeira que ele deixa na Casa é Zezé Perrella, atual presidente do clube de futebol Cruzeiro, de Belo Horizonte.

Itamar era divorciado de Anna Elisa Surerus, com quem teve duas filhas, Giorgiana e Fabiana.

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