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Meio ambiente

Mudanças na lei florestal longe do consenso

Dois estudos diferentes apresentados por órgãos federais durante reunião do Senado mostram que não há acordo sobre mudanças na legislação ambiental

Reunião no Senado: sem consenso se a limitação de exploração agropecuária a 30% do território nacional é pouco ou não | José Cruz/ABr
Reunião no Senado: sem consenso se a limitação de exploração agropecuária a 30% do território nacional é pouco ou não (Foto: José Cruz/ABr)

A audiência no Senado que discutiu ontem mudanças no Código Florestal brasileiro deu um indicativo de como será tensa a tramitação de uma possível alteração da legislação ambiental do país. Dois estudos diferentes produzidos por órgãos federais – a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Ministério do Meio Ambiente – mostraram que o país está longe do consenso sobre a necessidade de mudanças ou da manutenção da lei em vigor – que proíbe os produtores rurais de explorar margens de rios, encostas e topos de morros, além de ter de preservar de 20% a 80% da propriedade, dependendo da região do país.

Segundo o assessor de Floresta e Clima do Ministério do Meio Ambiente, Tasso Azevedo, a área usada para agropecuária atualmente no país equivale a 30,5% do território nacional (260 milhões de hectares), o que seria suficiente para a produção rural. Segundo ele, outros 10,5% (90 milhões de hectares) estão desmatados, sem utilização. E 59% (500 milhões de hectares) são de florestas e outros biomas, como o Pantanal.

Já o pesquisador Ricardo Curcio, da Embrapa, apresentou estudo mostrando que, caso o atual Código Florestal Brasileiro estivesse realmente sendo aplicado pelos produtores rurais, cerca de 71% da área do país deveria estar preservada com cobertura florestal. A sobra, portanto, seria de 29% para plantio e pecuária – que já estariam sendo usados, de acordo com os dados do Ministério do Meio Ambiente. Para senadores da bancada ruralista, 29% é muito pouco para a agropecuária.

Tasso Azevedo, do ministério, disse que a atual área explorada é mais do que suficiente. Segundo ele, "o que há no Brasil é uma má gestão do espaço rural". "Esses 260 milhões de hectares estão divididos em cerca de 70 milhões para a agricultura e 190 milhões para a pecuária. O que acontece é que nós temos o equivalente a um boi por hectare, quando na verdade cabem quatro. E, para isso, bastam adaptações simples e que não custam caro", disse Azevedo. Ainda de acordo com ele, se a produção pecuária no Brasil dobrasse em número de animais, ainda assim seriam necessários apenas 100 milhões de hectares para essa produção.

A senadora Marina Silva (PT-AC) destacou que a sociedade brasileira está consciente da necessidade de proteção dos recursos naturais e citou pesquisa do Datafolha divulgada ontem mostrando que 90% dos brasileiros são contra o desmatamento, mesmo que isso represente prejuízos à produção rural.

Já a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que também é presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), utilizou a pesquisa da Embrapa para justificar a mudança na lei. Segundo ela, a insegurança jurídica gerada por sucessivas mudanças no Código Florestal "jogou os produtores na ilegalidade". Kátia abreu disse ainda que o Código "já foi alterado em 11 legislações, em 60 itens diferentes".

O senador Osmar Dias (PDT-PR) elogiou a participação da Embrapa no debate. Ele disse que, se não fosse o trabalho da empresa, a devastação ambiental teria sido muito maior no Brasil. "Com os cientistas da Embrapa, a área de cultivo no país cresceu 30% e a produtividade aumentou 132%. Se ainda temos áreas nativas para preservar é porque os cientistas brasileiros garantiram a produtividade do agronegócio", disse.

O pesquisador Gustavo Curcio, da Embrapa, defendeu a modernização do Código. Segundo ele, existem divergências até sobre as definições sobre o que é encosta de morro.

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O atual Código Florestal deve ser mudado por atrapalhar a produção rural ou deve ser mantido como está?

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