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A presidente Dilma Rousseff fez nesta quinta-feira (29), na Índia, uma de suas mais veementes críticas à elevação do tom das potências ocidentais contra o Irã, acusado pelos Estados Unidos e países europeus de direcionar seu programa nuclear para a fabricação de armamentos.

"Acho extremamente perigoso as medidas de bloqueio de compras do Irã", disse a presidente, dizendo que isso não vai afetar o Brasil (as compras do Irã representam menos de 1% das exportações brasileiras) mas prejudicará outros países (China importa do Irã 22% do que consome em petróleo).

Dilma acabou partindo em defesa do Irã. Sem mencionar a suspeita de que o programa nuclear do Irã está caminhando na direção para produzir uma bomba, ela reafirmou a posição clássica da diplomacia brasileira: de que os iranianos têm o direito de ter um programa nuclear pacífico, como o Brasil.

"Em vez da retórica agressiva, (que) se use, diante do direito internacional, o direito dos países de usar energia nuclear para fins pacíficos, assim como nós fazemos".

A presidente defendeu ainda um acordo, no âmbito da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), para que "as partes baixem o nível de retórica e se entendam". No comunicado, em uma linguagem um pouco menos dura, os cinco emergentes também reconhecem o direito de o Irã usar energia nuclear para fins pacíficos e insistem que o problema com Teerã tem que ser resolvido através de "meios políticos e diplomáticos" e do diálogo.

A Rússia tem acusado os Estados Unidos pressionar países a aumentarem o cerco contra o Irã. Perguntada se o Brasil se alinhava com a posição do líder russo, Dmitri Medvedev, com quem ela se encontrou numa reunião bilateral ontem, Dilma respondeu: "Eu apoio a minha posição, com convicção. A posição do Brasil é clara: o Brasil não concorda com esses processos retóricos de elevação do nível de discussão".

Na semana passada, líderes europeus ameaçaram sanções ainda mais duras contra o Irã, e também ampliar as restrições à Síria se o regime de Assad continuar a reprimir sua população. Ontem, as cinco potências emergentes do chamado Brics (grupo formado por Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul), reunidos em Nova Délhi, na Índia, alertaram que "a situação em relação ao Irã não pode escalar para um conflito", o que causaria, segundo o bloco, "consequências desastrosas que não interessam a ninguém".

A Rússia, responsável por construir o primeiro reator nuclear no Irã, "continua firme na crença" de que não há provas de que o programa do país tem componentes militares, segundo seu ex-ministro das Relações Exteriores e hoje diplomata Sergei Ryabkov. Por outro lado, em seu entender, a forma com a questão vem sendo tratada nos últimos meses tem aumentado a possibilidade de um conflito.

"Pode haver a explosão de um conflito por causa de um erro fatal cometido por alguém ou por algum acidente de qualquer tipo. Pode acontecer, porque a situação está muito tensa. Está pior do que a meses atrás", disse.

No início de 2012, Estados Unidos e Israel anunciaram a realização de um exercício militar conjunto, posteriormente adiados, depois que Teerã fez manobras semelhantes no Estreito de Ormuz, no final de 2011. Ryabkov criticou diretamente Israel, que vem defendendo uma intervenção militar no Irã. "Eu acho que nossos colegas israelenses estão superestimando o grau de perigo que o Irã pode representar.

A Rússia votou favoravelmente em quatro rodadas de sanções ao Irã definidas pelo Conselho de Segurança da ONU. Mas diz que o potencial dessas sanções se exauriu. Moscou defende uma estratégia em que Teerã daria passos para dirimir as dúvidas sobre seu programa nuclear e, em troca, teria uma gradual redução das punições.

O primeiro passo seria não incluir mais centrífugas nas instalações de enriquecimento de urânio, com a contrapartida do Ocidente de não implementar novas sanções.

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