
São Paulo e Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem os primeiros sinais de que o apoio que o Planalto vinha dando à permanência de José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado pode estar perto do fim. Diante do acirramento da crise política, das sucessivas denúncias contra Sarney e da possibilidade de que sua própria imagem se desgaste, Lula disse que a manutenção do presidente do Senado no cargo não é um problema seu.
"Não é um problema meu (a permanência de Sarney). Eu não votei para eleger Sarney presidente do Senado nem votei para ele ser senador. Também não votei no (Michel) Temer para a Câmara, nem no Arthur Virgílio (senador tucano). Não votei em ninguém. Eu votei nos senadores de São Paulo. E somente o Senado que o elegeu é que pode dizer (o que fazer com Sarney)", afirmou o presidente, em São Paulo. Foi a primeira vez que Lula, em pronunciamento, não defendeu Sarney publicamente, como vinha fazendo até então (veja cronologia ao lado).
Lula negou ainda que Sarney tenha pedido para conversar sobre seu futuro político e uma possível renúncia da presidência do Senado. Reportagem publicada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo informou que Sarney decidiria seu futuro numa conversa com o presidente na próxima semana.
Segundo a reportagem, Lula e Sarney teriam conversado nos últimos dias por telefone. O presidente da República insistiu em pedir que o senador não renuncie ao comando do Senado. Mas Sarney disse que seu desejo é resistir, mas que para isso precisa de apoio.
O presidente disse ainda que não pode interferir nos trabalhos do Congresso nem na crise do Senado. Porém admitiu que os problemas no Legislativo podem atrasar a votação de projetos importantes para o país. Ele afirmou ainda que espera que os senadores se reúnam com "cabeça fria" após o recesso, que termina na segunda-feira, para resolver a situação.
O desgaste que Lula agora procura evitar também está preocupando a cúpula do PMDB, partido de Sarney. Nos últimos dias, deputados peemedebistas discutiram saídas para reagir à imagem de legenda fisiológica e adesista a qualquer governo que lhe garanta cargos e poder político. A defesa do partido deve ser feita por meio da divulgação de uma carta afirmando que o PMDB está "legitimado nas urnas", com as maiores bancadas no Senado e na Câmara, 1.200 prefeituras e nove governadores. Apesar dessa iniciativa, a direção partidária continua a não se manifestar sobre a situação cada vez mais difícil do presidente do Senado.




