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“Tenho tido um privilégio e fico às vezes com sentimento de culpa porque sou vice-presidente e sei que todos os brasileiros deveriam ter esse tratamento. Se tivessem, as expectativas de vida seriam outras.” José Alencar, vice-presidente da República | Samir Baptista/AE
“Tenho tido um privilégio e fico às vezes com sentimento de culpa porque sou vice-presidente e sei que todos os brasileiros deveriam ter esse tratamento. Se tivessem, as expectativas de vida seriam outras.” José Alencar, vice-presidente da República| Foto: Samir Baptista/AE

SÃO PAULO - O vice-presidente José Alencar, 77 anos, deixou ontem o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde estava internado há 27 dias, dizendo não ter medo da morte e lamentando o fato de o país não poder oferecer ao povo o mesmo tratamento que ele recebeu para cuidar de um tumor abdominal. Conduzido numa cadeira de rodas, Alencar, visivelmente emocionado, não perdeu o humor ao falar com os jornalistas. Pediu desculpas aos repórteres pela "barbeiragem" quando bateu a cadeira na porta da sala e também por que a cirurgia não resultou na amnésia que ele, em tom de brincadeira, disse que usaria para não pagar suas dívidas. Mas a emoção tomou conta do vice-presidente quando ele comentou a política de saúde do país.

"Não tenho medo da morte porque não sei o que é a morte. A gente não sabe se a morte é melhor ou pior. Mas eu não quero viver nenhum dia que não possa ser objeto de orgulho."

Perguntado sobre a taxa de juros, tema sempre presente em suas críticas, Alencar, em tom irônico disse: "Não falo mais sobre taxas de juros porque agora todo mundo fala mal das taxas de juros". Quando visitou Alencar no hospital, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer que ele iria se recuperar em pouco tempo e que a primeira coisa que falaria, "quando abrisse os olhos", era sobre os juros.

Alencar agradeceu as manifestações de carinho e apreço que disse ter recebido de "Norte a Sul do país".

"Tenho tido um privilégio e fico às vezes com sentimento de culpa porque sou vice-presidente e sei que todos os brasileiros deveriam ter esse tratamento. Se tivessem, as expectativas de vida seriam outras. É triste não poder oferecer aos brasileiros o que eu recebi", disse Alencar, esfregando os olhos com as mãos.

Indagado sobre o que o motivou a ter tanta força para lidar com o tratamento, Alencar respondeu: "Isso pode ser um equívoco. Onde está a coragem para um cidadão que não tinha outra alternativa? Não tinha outra opção. Era ou vai ou vai".

Cirurgia

O oncologista Ademar Lopes, que chefiou a equipe que atendeu Alencar, explicou que o vice-presidente colocou dois cateteres para fazer quimioterapia intraperitonial. Sobre a cirurgia, que durou 18 horas, Lopes disse que um dos momentos mais tensos foi a retirada da veia ilíaca, infiltrada pelo tumor.

Foi a 12ª cirurgia a que o vice-presidente se submeteu. Nesta última, retirou nove tumores da regição abdominal.

Do hospital, Alencar seguiu para o apartamento da família, em São Paulo, onde passará pelo período de recuperação que inclui sessões de fisioterapia. Ele disse que estava ansioso para comer "o arroz e feijão de casa".

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