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| Foto: Elton Damasio/Gazeta do Povo

Novas regras

RJ e ES vão ter transição gradativa

O modelo de partilha dos royalties do petróleo proposto no projeto de lei do senador Wellington Dias (PT-PI) prevê uma transição gradativa nos repasses de recursos, para não prejudicar os produtores. Pela proposta, aprovada no Senado e à espera de votação na Câmara, nos poços já licitados a fatia da União na distribuição de royalties cairia de 30% para 20% no próximo ano. A perda de arrecadação para o governo federal, em função do novo modelo, é estimada R$ 2,5 bilhões.

Já para Rio de Janeiro e Espírito Santo, principais estados produtores, a fatia dos royalties cai de 26,25% para 20% em 2012. O maior corte ocorrerá na parcela de municípios produtores, que a partir de 2012 terão sua fatia nos royalties reduzida de 26,25% para 17%. Depois, essa cota terá queda gradual, até 4% em 2020.

Segundo o senador, as mudanças não reduzirão o valor que estados e municípios recebem, já que a perda deve ser recompensada pelo aumento da produção de petróleo. A expectativa do relator é que a arrecadação total do petróleo no ano que vem seja de R$ 28 bilhões (estados e municípios que não produzem petróleo ficariam com R$ 8 bilhões).

O projeto também determina que governadores e prefeitos de estados não produtores devem investir o dinheiro em áreas específicas como educação, infraestrutura, saúde, erradicação da miséria e cultura. (SM)

Autor do projeto de lei que prevê a partilha mais igualitária dos royalties do petróleo entre estados e municípios produtores e não produtores, o senador Wellington Dias (PT-PI) defende o modelo que propôs usando a Constituição como argumento. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele diz que, segundo o texto constitucional, o petróleo é um bem mineral e pertence à União e não aos estados e municípios – daí a necessidade de redividir os recursos entre todas as unidades federativas.

É isso que prevê seu projeto, aprovado em outubro no Senado na forma de um substitutivo apresentado pelo senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). A proposta agora aguarda votação na Câmara dos Deputados, mas enfrenta a resistência de parlamentares de dois estados produtores: Rio de Janeiro e Espírito Santo. Confira a entrevista do senador, concedida recentemente, quando ele esteve em Curitiba para participar da 21.ª Conferência Nacional dos Advogados.

Como está a discussão sobre a partilha dos royalties?

Os estados do Rio e do Espírito Santo não querem nenhuma alteração nas regras. Mas isso é insustentável. Estamos falando de petróleo em mar que, de acordo com o artigo 20 da Constituição Federal, é bem pertencente à União. Tudo o que é encontrado no mar territorial e na plataforma continental pertence à União e não aos estados. Nós defendemos a descentralização [dos royalties]. A União ficaria com uma parte e o restante seria distribuído para os estados e municípios.

A diferença do seu projeto para o anterior que, foi vetado pelo presidente Lula, é uma transição dos porcentuais repassados aos estados para que Rio de Janeiro e Espírito Santo não levem um golpe muito duro?

Exatamente. O projeto de autoria do senador Pedro Simon (PMDB) e do deputado Ibsen Pinheiro [vetado por Lula em 2010] não fazia a transição. Todos os royalties eram divididas de forma justa [entre estados e municípios produtores e não produtores]. Porém, o projeto deixava para a União resolver o problema do Rio e do Espírito Santo, que hoje recebem por ano aproximadamente R$ 12 bilhões. O que nós estamos fazendo é concordarmos com o arcabouço principal [do projeto anterior], pois tratamos só de petróleo em mar, que é da União. Petróleo em terra pertence aos estados em cujo o território ele foi encontrado. A divisão do petróleo do mar prevista no projeto deixa algo como 20 % para os estados e municípios fluminenses e capixabas para o impacto socioambiental [que a atividade implica] e para as pessoas que trabalham nos portos, nas plataformas de extração e na indústria daquelas cidades.

O senhor tem dito que não existem estados produtores de petróleo. Por quê?

Se cada brasileiro compreender que o Rio e o Espírito Santo não produzem em seu território ne­­nhuma gota de petróleo, não há do que se falar em "estado produtor". No máximo, podemos falar de um estado confrontante [com o oceano], que está na frente de uma plataforma em alto-mar de onde se extrai petróleo que pertence à União. Estou falando de uma extração que ocorre a 7 mil metros no fundo do mar; a 200 quilômetros de Copacabana. Não são estados produtores. Não há estados produtores de petróleo. Mais do que isso: defendo que os brasileiros devem ter a mesma garra que usaram para lutar pela campanha do "Petróleo é Nosso" para defender a ideia de que o royalties são do povo e têm de ser distribuídos de forma justa.

Quando o projeto será votado?

Devemos fazer uma mobilização [para colocar o projeto em votação na Câmara], pois está em jogo a posição de 24 estados. Além disso, estamos pedindo urgência na Câmara para que a votação do projeto entre na pauta ainda neste ano. Vamos fazer todo o esforço.

Por que, com uma maioria de interessados na aprovação, a Câmara não vota o projeto?

Não apostávamos que o presidente da Câmara [deputado Marco Maia, PT-RS] fosse encaminhar para a criação de uma comissão especial para estudar a matéria. E também fomos surpreendidos pelo colégio dos líderes, que não incluiu a votação do projeto nos itens prioritários para 2011. Com o pedido de urgência, esse cenário pode mudar.

A comunidade científica demonstra preocupação com a possibilidade de os recursos dos royalties serem gastos de forma desordenada e de que a ciência, que propiciou a tecnologia que permitiu as descobertas das jazidas, não seja devidamente contemplada com recursos provenientes do petróleo. O senhor ouviu a comunidade científica para elaborar o projeto?

Sim. É mais um argumento que eu uso na defesa da minha proposta. De cada dez tentativas que se faz nas pesquisas do pré-sal, apenas uma dá certo. Quem contribuiu nos estudos? Cientistas de todo país . Quem financiou as pesquisas? A União. Nenhum estado botou um centavo nesses projetos que descobriram o petróleo. Nós ouvimos a comunidade científica no Senado. E definimos que serão a União, os estados e os municípios que vão regulamentar quais são os setores [incluindo a educação e a ciência e tecnologia] que serão beneficiados com os recursos do petróleo. Não definimos um limite [para ciência] e sim uma abertura para que se escolha o que tem que ser prioritário em cada momento histórico.

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