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Eduardo Cunha, candidato do PMDB à Presidência da Câmara dos Deputados | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Eduardo Cunha, candidato do PMDB à Presidência da Câmara dos Deputados| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Desde o ano passado, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é uma das principais dores de cabeça do governo federal. Primeiro, ele liderou a revolta do "blocão" contra a presidente Dilma Rousseff (PT) – quando o partido, inclusive, chegou a ameaçar deixar o governo. Agora, é candidato à presidência da Câmara contra Arlindo Chinaglia (PT-SP), Julio Delgado (PSB-MG) e Chico Alencar (PSol-RJ), que também estão na disputa.

Em entrevista à Gazeta do Povo, ele diz que não se vê como uma "dissidência" ou um "candidato de oposição", mas que "não será submisso ao governo". "Eu ofereço a independência do parlamento. Não tenho nada a oferecer além da independência do parlamento", disse. Ele também defendeu a discussão de um novo pacto federativo, e voltou a negar acusações de que teria ligação com personagens investigados pela Operação Lava Jato.

Cunha é economista, tem 56 anos e está na Câmara desde 2002. Evangélico, é identificado com os setores mais conservadores da Câmara, e chegou a apresentar um projeto criminalizando a "heterofobia".

O senhor polariza a disputa com um candidato do partido do governo. Isso não pode acirrar os ânimos entre PT e PMDB?O governo não declarou que tem uma candidatura oficial, e se tiver declarado, terá cometido um erro. Você ter dois partidos da base disputando o comando do parlamento é normal dentro da democracia, do jogo político. A partir do momento que o governo assume uma das candidaturas, isso não é bom para o processo. É uma interferência do Executivo no Legislativo, e divide a própria base. Eu vejo isso com preocupação, se está ocorrendo – não posso afirmar se isso está ou não ocorrendo.

Mas o senhor é visto como uma espécie de dissidência da base, quase um candidato de oposição.A minha candidatura não é uma dissidência. Eu coloquei ela primeiro, com amplo apoio. E a Casa, de uma certa forma, se ressente e não quer votar no PT. O PT saiu desse processo com uma vitória eleitoral, mas não com uma hegemonia eleitoral. E você não consegue ter hegemonia política sem hegemonia eleitoral. Consequentemente, o PT, que tem 13% da Casa, não vai impor sua vontade de comandar ao mesmo tempo o poder Executivo e o poder Legislativo. Então, não vejo minha candidatura como de oposição. Coloquei com muita transparência que não serei de oposição, mas não serei submisso ao governo.

Tradicionalmente, os cargos no governo acabam fazendo parte das negociações políticas. Sem o apoio do governo, que o senhor pode oferecer aos deputados?Eu ofereço a independência do parlamento. Não tenho nada a oferecer além da independência do parlamento. É uma coisa simples, uma receita que qualquer um pode preparar, basta a atitude de ter independência. Se o PT está oferecendo isso ou aquilo, está querendo aviltar a independência, achando que os parlamentares podem ser compráveis com cargos temporários no governo.

O Congresso eleito é um dos mais conservadores dos últimos tempos. O senhor é um deputado conservador. Isso pode beneficiá-lo?Não é o Congresso que é conservador, é a sociedade. O Congresso é reflexo da sociedade. Se houve um crescimento de uma representação conservadora, é sinal de que o eleitorado teve esse entendimento. Não tenho essa visão de que o Congresso é mais conservador ou menos conservador.

A reforma política tem sido um dos temas mais discutidos no país atualmente. Ela está na sua agenda de prioridades para a Câmara?A reforma política é a agenda principal, e, por acaso, só não foi votada antes porque o PT obstruiu. Primeiro no plenário, quando teve medidas pautadas pelo Henrique Alves [atual presidente da Câmara], depois obstruiu na CCJ uma PEC que consolidava temas por via constitucional. Então, foi o PT que não permitiu que [a reforma] fosse votada nessa legislatura, e nós vamos fazer com que ela ande. É compromisso nosso.

Há, também, pautas de interesse regional. Durante a campanha, o senhor viajou para todas as regiões do país. Algum compromisso foi assumido?Eu visitei os 27 estados da federação, do Acre ao Rio Grande do Sul. Em alguns, como no Paraná, estive duas vezes. Na verdade, todas essas oitivas que fizemos, de demandas, de processos, de conhecimento de diversos "Brasis" que nós temos, nos levou à conclusão de que nós precisamos de uma discussão muito mais ampla sobre o pacto federativo. Esse é o ponto principal, o cerne da discussão dos processos que envolvem os entes federados. Isso eu proponho levar para a pauta.

Isso inclui a questão fiscal de estados e prefeituras? Hoje há um descompasso entre receita e despesa em quase todos os lugares.Sem dúvida. Quando falo em discutir pacto federativo, falo em discutir as obrigações de estados e municípios. Não adianta o governo construir uma creche e o custeio ficar com o município. Não adianta o Congresso aumentar o piso do magistério e o estado não ter como pagar. É um conjunto de fatores, que precisa ser revisto.

Essas discussões federativas estão travadas há anos no Congresso...O problema aqui é a reforma tributária. O governo Lula mandou dois projetos de reforma tributária. Um, em 2003, para prorrogar a CPMF. Depois, em 2009, mandou outro, que tinha princípios corretos, inclusive: tentava unificar as alíquotas do ICMS, partilha de contribuições, mudanças nos parâmetros da folha de pagamento, medidas boas que se perderam por causa da discussão dos incentivos fiscais. Nesse momento, a reforma tributária é um ponto discutível, porque envolve mudar receita da União, aumentar custos para o contribuinte ou que São Paulo tenha perdas. E qualquer desses assuntos são explosivos. Mais que discutir a reforma tributária, você tem que discutir o pacto federativo. Dar obrigações aos entes, mas maneiras de financiá-las. Nesse sentido, a reforma é um apêndice do pacto federativo.

Recentemente, o senhor foi acusado de ter ligações com doleiros investigados na Operação Lava Jato...Houve dois momentos: primeiro, um depoimento, e depois uma ligação que supostamente seria divulgada com o intuito de me causar constrangimentos. Os dois episódios foram desmoralizados. Consequentemente, não considero que esse assunto esteja na minha pauta de debate. É um processo policial: cabe à política investigar.

O senhor falou também em "alopragem", termo usado contra o PT desde as eleições de 2010. O senhor vê digitais do partido nisso? Não acusei ninguém, disse só que era uma alopragem. Apenas citei um termo muito conhecido no meio político, sem citar a autoria. Não atribui ao ministro [Aloisio0 Mercadante [Casa Civil] ou a quem quer que seja. De quem tem ou não digital, cabe à PF investigar e provar.

O PSD, um dos maiores partidos da Câmara, declarou apoio a Arlindo Chinaglia. Isso pode alterar a disputa?Não me cabe comentar essa decisão. Eu continuo e continuarei pedindo votos aos candidatos do PSD. Por sinal, todos os que eu tenho procurado têm se manifestado favoráveis à minha candidatura, mesmo depois do anúncio.

Gilberto Kassab, presidente do PSD, está montando um novo partido. Especula-se que sua intenção é justamente se contrapor ao PMDB. Como o senhor enxerga essa movimentação?Vou te dar uma resposta padrão: nesse momento, estou disputando a presidência da Câmara. Então, quero falar sobre a Câmara, a diferença entre poderes. Essa é uma questão partidária, e quem fala sobre isso é o Michel Temer [presidente do PMDB]. Depois, esse assunto será debatido no conjunto da reforma política – é um ponto importante, a facilidade ou dificuldade de se formar um partido. Como líder partidário, vou debater esse assunto também. Mas não quero misturar, porque se eu te der uma posição muito contundente sobre isso, minha visita ao Paraná vai se tornar um debate sobre o novo partido do Kassab. E não é isso que eu quero [risos].

Durante a campanha presidencial, Temer falou, em diversas ocasiões, sobre o PMDB lançar um candidato próprio à presidência da República, em 2018. A presidência da Câmara pode ser um primeiro passo?Acho que não. Nós já temos a presidência da Câmara, o ponto de partida não é esse. Aqui estamos discutindo o poder do parlamento. O partido tem esse anseio [de disputar a presidência] há muito tempo, mas tenho a impressão que isso vai ser discutido à medida que haja candidatos disponíveis para essa empreitada, com alguma viabilidade eleitoral. Só o tempo vai dizer. E você tem que ver em que campo essa candidatura vai ser construída. Você não pode ser do governo e ter um candidato de oposição. E, se for colocar uma candidatura no campo do governo, como vai trabalhar essa dissociação? Então, tem muito chão para correr, não dá para falar disso agora.

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