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Faichecleres: banda agora conta com um novo baixista, Ricardo Junior (primeiro à direita). | Divulgação
Faichecleres: banda agora conta com um novo baixista, Ricardo Junior (primeiro à direita).| Foto: Divulgação

O ex-governador e empresário de comunicação Paulo Pimentel é um homem público há mais de 40 anos. Comandou o estado de 1966 a 1971. E, embora nunca tenha se reeleito, sempre esteve de alguma forma relacionado à política paranaense, ora mais perto ora mais longe do centro do poder.

Sua relação com o governador Roberto Requião (PMDB) reflete exatamente essa trajetória oscilante. Apoiou a eleição de Requião, em 2002, foi nomeado presidente da Copel, saiu do governo e desentendeu-se com o governador. Atualmente, Pimentel tem sido alvo de constantes críticas de Requião na TV Educativa. E não tem deixado por menos. As responde publicamente, inclusive nos seus veículos de comunicação: os jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná e quatro emissoras de TV afiliadas do SBT.

Em entrevista exclusiva concedida à Gazeta do Povo, Pimentel não poupa o ex-aliado: diz achar que o governador é mau administrador, está cercado de incompetentes e não sabe o que fazer para gerir o estado. Também conta o motivo do rompimento com Requião, comenta a relação do governo com a imprensa e fala de seu futuro na política.

O governador Roberto Requião está em constante briga com a imprensa. Quer jogar a população contra a mídia. O senhor acha que vai conseguir?De jeito algum. É uma ilusão ele achar isso. No primeiro mandato dele, em 1991, quando o Requião brigou com o Judiciário, que chegou a cassar (temporariamente) o seu mandato, ele só obteve sucesso (em reavê-lo) porque a imprensa estava ao seu lado. A imprensa é a porta-voz do povo. O Requião achou que exporia um quadro negro da imprensa do Paraná. Mas se enganou, pois a nossa imprensa é séria, sempre foi respeitada e tem credibilidade.

O Requião diz que a imprensa só está contra ele porque não recebe mais verbas do governo...Essa é uma afirmação ridícula do governador. Se já houve isso, inclusive por parte dele, houve um ato de liberalidade. E se ele o fez, cometeu crime, de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal. O que ocorre é que o governo, qualquer um, precisa divulgar seus atos. Para isso, e por isso, contrata agências de publicidade. E as agências contratam os serviços dos veículos de comunicação. Não existe subsídio nem doação. É uma empresa contratada para prestar um serviço. Agora, se ele acha que isso não dá retorno, com os anúncios dos atos, que suspenda esse serviço. Respeito a visão dele. Ele fala muito que o governo Jaime Lerner deu muito dinheiro para a imprensa. Mas não foi isso. O que a administração anterior à dele fez foi utilizar critérios técnicos para divulgar seus atos. E o Tribunal de Contas do Estado aprova os gastos se eles forem bem feitos. O que não pode é, como nesse governo, prestigiar veículos de comunicação sem circulação. Esse governo utiliza maus critérios técnicos para divulgar suas ações.

O grupo de comunicação do senhor recebeu verbas de publicidade da gestão de Requião. O governador diz que o senhor não o criticava por isso. Isso não o incomoda?Claro que não. Tenho um grupo forte e que, segundo o Ibope, tem leitor e telespectador, assim como o grupo RPC (Rede Paranaense de Comunicação). E, de acordo com pesquisas, a RPC e o Grupo Paulo Pimentel (GPP) têm mais Ibope. Então, não quero uma concorrência para ganhar mais. Mas que haja a proporcionalidade. Sempre defendi, inclusive para o Requião, que era importante, para todo mundo, divulgar (as ações do governo) no grupo RPC. A RPC e o GPP faturaram mais porque têm mais Ibope. Nunca disputamos valores, mas sim igualdades nas programações, com critérios técnicos. Portanto, repito, não há subsídio nem doação. O Requião e todo governo precisam da imprensa. Se os governos não precisassem, não haveria no orçamento verba para publicidade. Os governos precisam prestar contas à população e isso se faz através da mídia. Mas o Requião quer ir na linha do presidente Hugo Chávez.

O senhor se considera um inimigo do governador Roberto Requião?O meu assunto com o Requião vem desde o primeiro mandato dele, em 1991, quando o ajudei a vencer a eleição contra o Luiz Carlos Martinez. Nunca achei o Requião um grande administrador. Mas sempre o considerei sério e com moral. Inclusive patrocinei a campanha dele em 2002. Mas temo que a longa permanência no poder tenha modificado a personalidade dele. O que posso afirmar é que, com o tempo, ele perdeu os bons colaboradores e só ficaram os áulicos.

Por que houve o rompimento entre o senhor e o governador?Após a eleição de 2002, o Requião me chamou para assumir a Copel. Saneei a empresa e vi que tinha feito um serviço excelente quando a levei à bolsa de valores de Nova Iorque. Daí, resolvi sair, em 2004. Eu estava sentindo dificuldades no estilo de governar do Requião. Não me sentia bem. Mas continuei ajudando. Com o tempo, ele resolveu romper não comigo, mas com a imprensa. E eu sou boa parte dela. Ele quis dar uma espécie de exemplo ao país de que os governos não precisavam da imprensa. Mas o rompimento mesmo veio quando ele partiu para o ataque baixando o nível. Foi com aquele prêmio Severino Cavalcanti, irônico (concedido aos "piores" meios de comunicação, segundo Requião)... Quando soube que ele poderia dá-lo a mim, disse que se ele fizesse isso, eu iria na reunião do secretariado recebê-lo pessoalmente. Me preparei para o título. Aí, ele não me deu. Optou por dizer que eu merecia as pílulas do Frei Galvão. Respondi que as aceitaria e que mandaria para ele um gardenal (medicamento antidepressivo).

Para o senhor, Requião está mal informado, mal assessorado, mal intencionado ou perdido?Perdido. E ele se perdeu a partir do princípio de que quem está no poder quer calma. Barulho quer a oposição. Só que o Requião, assim como a oposição, também quer e gosta de barulho. Ele é o contrário dos demais governantes. O Requião tem mágoas infantis. E ainda por cima a estrutura palaciana dele não funciona. Este governo não esclarece nada, não dá informações, não produz. Eu não vou mudar a linha do meu jornal nem da televisão. O governo que faça sua defesa profissionalmente. Nós não temos que ficar defendendo o governo. A imprensa tem de ouvir os dois lados e ele não entende isso.

Muitos escândalos têm aparecido neste mandato do Requião. O senhor esperava isso?Não esperava tanta corrupção logo no início de governo. E o Requião continua não explicando nada, não dá satisfações à população. Os desvios na Ceasa, os problemas na Comunicação Social, as questões da Sanepar... Nada tem explicação. Acompanho os últimos 15 mandatos de governantes do Paraná. Os governos crescem ou caem no fim. Só que esse governo começou a desmoronar muito cedo.

Onde o Requião está errando?No caso da Secretaria de Saúde, por exemplo. O Requião é um eterno desconfiado. E, nesse caso, no lugar de demitir o secretário de Saúde, Cláudio Xavier, chamou para si a (responsabilidade pela) compra de medicamentos, quando achou que havia desvios. Só que ele não tem estrutura para efetuar essas compras, por mais boa vontade que tenha. O Palácio não tem essa estrutura. E ele desmoralizou o Xavier. A atitude certa seria trocar de secretário. Os secretários funcionam como uma mola entre os demais membros do governo e o governador. Só que o Requião quer nomear todo mundo e tira a responsabilidade dos secretários. Como assume as responsabilidades para ele, não pode fazer nada. Aí, a máquina não funciona. Sem os secretários, o atingido fica sendo o governador. O Requião é campo fértil para uma boa orientação. Só que ele não quer ouvir. Está cercado de incompetentes.

O que, para o senhor, este governo tem de ruim?Eu gostaria de ficar mais na generalização.

E o que há de bom nesta administração?A Secretaria da Fazenda, com o Heron Arzua, era muito boa. Foi dele a idéia do melhor programa do governo, a redução e isenção de ICMS para micro e pequenas empresas. Mas o (secretário) que ficou no lugar, o Nestor Bueno, é de alto nível.

Como o senhor avalia a relação entre o Executivo e o Legislativo no Paraná neste momento?Se ficar como está, ele perde a maioria na Assembléia Legislativa ainda neste ano. Os deputados precisam ser atendidos nas reivindicações regionais, tanto nos pedidos de melhorias quanto nas nomeações para o governo. E o Requião não prestigia deputado.

Por que o senhor acha que o Requião venceu a eleição de forma tão apertada, com apenas 10 mil votos a mais que Osmar Dias?O Requião achava que venceria no primeiro turno e com longa vantagem. E o que dá vantagem ao Requião? Ele se comunica bem, é bom orador e tem bons argumentos. Só que muito do que ele dizia não correspondia com a realidade. O caso das brincadeiras com mulheres, perguntando se elas traíam seus maridos, é um exemplo. São brincadeiras de mau gosto.

O senhor se desfiliou do PMDB. Pretende se filiar a algum partido e se candidatar novamente?Em breve vou me filiar. Só não sei ainda em qual partido, pois hoje vejo que todos são muito iguais. Mas acho que todo cidadão deveria ser filiado a um partido, pois assim participaria da vida política do país. Atualmente, os partidos têm seus donos e ninguém contesta. O filiado pode influenciar em decisões partidárias. E quanto a me candidatar, não assumo compromissos. Mas sou um viciado, assim como um alcoólatra recuperado. Pode ser que, passando em frente a um bar, sinta o cheiro e queira experimentar de novo.

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