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Apelido explica o jeito de ser do brasileiro

Em seu ensaio Os nomes e a bola: dos apelidos no futebol brasileiro, o escritor Francisco Bosco remete a recorrência dos apelidos à formação cultural do Brasil. Segundo ele, que cita o clássico de Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala, a língua portuguesa foi "desossada" pelos escravos para que as crianças pudessem falá-la sem engasgar. E, assim como a língua, as relações interpessoais se "desossaram" para que pudessem transitar em espaços conflitantes e ambivalentes.

Desse modo, "os apelidos (...) remetem às ambiguidades constitutivas do Brasil, à forma escorregadia de manter as tensões sob controle, procurando operar por dentro das contradições, tentando achar brechas e acomodações em vez de partir para um conflito aberto", diz Bosco. Não muito diferente da maneira que se faz política no país.

Sandy & Júnior?

Deputado tem nome que lembra dupla sertaneja

Alguns parlamentares têm nomes ou apelidos cujo som lembra outras palavras e expressões, embora sejam grafados de forma diversa. O nome do deputado federal Bohn Gass (PT-RS) remete à "boa disposição". Já seu colega de Câmara Sandes Júnior (PP-GO) deve estar cansado das piadas associando seu nome à antiga dupla sertaneja. O nome do deputado Deley (PSC-RJ) soa "dentro da lei". Mas também parece com a palavra "atraso" (delay) em inglês – termo usado no jargão de transmissões televisivas para indicar a demora entre a geração de um sinal e seu recebimento.

Zoinho, Carimbão, Gim, Petecão, Garotinho, Betinho Rosado, Dudimar Paxiuba e Tiririca. Pode não parecer, mas a lista de nomes – que parece a escalação do time de futebol do Pilarzinho (com Jura, Paraguaio, Cascão, Djoma e Espiga) – é na verdade parte da escalação do Congresso Nacional. Os apelidos e nomes peculiares que compõem a política brasileira não se restringem ao pequeno círculo das câmaras municipais e às assembleias estaduais, onde nomes como João do Suco, Rose Litro, Serginho do Posto, Mestre Pop e Julião da Caveira despontam como fortes indicadores de que o sistema democrático, em sua curta experiência no país, de fato empodera gente do povo. Vale lembrar, afinal, que não há muito tempo, havia um Ratinho Junior representando o Paraná em Brasília e um Lula na Presidência da República.

Alguns deputados já têm o apelido como parte do nome. Anthony Garotinho (PR-RJ), que em sua época de radialista ganhou a alcunha por imitar um colega de profissão com o mesmo nome, já emprestou a popularidade de sua marca pessoal à esposa, Rosinha Garotinho.

Dr. Rosinha (PT-PR), por sua vez, diz estranhar se o chamam pelo nome de batismo, Florisvaldo Fier. Ele ganhou o apelido ao tingir algumas camisas brancas de rosa, na época em que era estudante de Medicina. Aos poucos, se viu na mira dos colegas gozadores que o chamavam de Rosinha por vê-lo sempre com a mesma camisa. "O problema é que, se a gente fica bravo, aí é que o apelido pega mesmo", diz o deputado.

Outros têm a alcunha originária justamente de seus trabalhos anteriores à vida pública. Givaldo Carimbão (PSB-AL) e Chico das Verduras (PRP-RR), por exemplo, trabalharam vendendo carimbos e verduras, respectivamente.

Os nomes pelos quais ficaram conhecidos, por mais que despertem a antipatia de alguns poucos que se queixam da falta de categoria, destacam-se entre os demais pela mnemônica. Mesmo que muitos não gostem dos apodos, todos concordam: preferem vencer nas urnas a impor o nome da pia de batismo.

Ratinho Junior (PSC-PR), que herdou o apelido do pai, famoso apresentador de tevê, reconhece que pode ter sido prejudicado no último pleito, quando perdeu a prefeitura de Curitiba para Gustavo Fruet (PDT), por causa da antipatia de eleitores das classes A e B com o nome. "Uma boa parcela da população acha que não há problema. Temos que saber conviver com essa diferença", declarou na época, resignado.

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