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Partidos lidam com escândalos de forma diversa

Apesar da similaridade nos escândalos internos, PT, PSDB e DEM têm adotado estratégias diferentes na maneira de tratar os envolvidos. No calor da crise, os democratas dissolveram o diretório do Distrito Federal na semana passada e, ainda que tardiamente, pressionaram o governador José Roberto Arruda e o vice Paulo Octávio a deixar a legenda.

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  • Arruda: pivô do mensalão do DEM
  • Azeredo: cabeça do mensalão tucano

Brasília - Cenas de políticos com dinheiro nas meias ou rezando para agradecer o recebimento de propina podem até chocar o eleitor, mas devem ficar de fora do debate presidencial de 2010. A oito meses das eleições, partidos governistas e de oposição dão sinais de que vão manter a ética bem distante dos principais temas de campanha. A tendência é que o assunto só receba destaque se for puxado pela sociedade.

O efeito foi provocado pelo escândalo no Distrito Federal. A divulgação do mensalão do DEM, em novembro do ano passado, teve o efeito de um gol de empate no final do segundo tempo em uma partida para definir quem tem menos ética na política brasileira. Desdobramentos como a prisão do governador José Roberto Arruda e a renúncia forçada do vice Paulo Octávio (ambos eleitos pelo DEM) tiraram da oposição ao presidente Lula a credibilidade para criticar os desleixos do PT no mensalão do governo federal, de 2005. Do mesmo modo, o PSDB também enfrenta denúncias de ter criado um esquema nos mesmos moldes do mensalão petista quando o senador tucano Eduardo Azeredo era governador de Minas Gerais, em 1998.

"Qualquer ataque, de ambos os lados, será difícil de ser sustentado", afirma a cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade de São Paulo (USP). Para o professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Romano, o tema está saturado e terá baixa influência na decisão de voto. Em uma análise histórica, ele explica que a sociedade brasileira está cansada de ver os políticos tratarem o assunto com "falso moralismo".

"Ao mesmo tempo em que não aguenta mais a corrupção, o eleitor não aceita o discurso do sujeito que se apresenta como campeão da moral", afirma Romano. Ele cita que a falta de ética tem sido abordada da mesma maneira na política desde a Era Vargas, quando a UDN pregava o fim do "mar de lama" no governo, na década de 1950. Em 1960, Jânio Quadros foi eleito presidente tendo como símbolo uma vassoura que iria varrer a "bandalheira" da política nacional.

Discurso similar foi usado pelos militares no golpe de 1964 e por Fernando Collor de Melo, o "caçador de marajás", em 1989. A integridade ética também foi usada por Lula e pelo PT na canpanha de 2002. Quatro anos depois, o bloco PSDB/DEM/PPS levantou a mesma bandeira, denunciando o mensalão do PT, mas não obteve sucesso eleitoral. "Do ponto de vista da propaganda política no Brasil, a ética tornou-se um conceito que não funciona mais."

Apesar do cenário pouco animador, organizações como o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) prometem não deixar o tema esfriar. Na semana passada, o grupo, que reúne 44 entidades de todo o país, reforçou a campanha pela ficha limpa dos candidatos. Eles entregaram mais 77 mil assinaturas favoráveis ao Projeto de Lei 518/2009, que pretende proibir a candidatura de políticos com condenação na Justiça. Ao todo, a proposta conta com o apoio formal de 1,6 milhão de brasileiros.

"Os candidatos podem até fugir do debate sobre ética, mas o assunto continua sendo um clamor da sociedade", diz o diretor do MCCE, Carlos Moura. Para ele, é importante que o Congresso Nacional se esforce para aprovar a proposta ainda em 2010 – embora o texto só passe a valer para as eleições municipais de 2012. O feito seria uma maneira de os parlamentares que buscam a reeleição mostrarem preocupação com o tema.

Apesar do empenho do movimento para aprovar o projeto da ficha limpa, o histórico de deputados e senadores deixa claro que haverá resistências. Quando o texto foi apresentado, no ano passado, outras dez propostas similares estavam engavetadas no Senado e na Câmara. A mais antiga é de 1993 e está pronta para ser votada no plenário da Câmara desde novembro de 2001. Além disso, até novembro de 2009, 129 deputados e 21 senadores era alvos de processos no Supremo Tribunal Federal.

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