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O corpo fala

O que dizem os punhos cerrados dos petistas condenados no mensalão

Gesto simboliza a luta socialista. E a ideia de que o PT foi punido pela causa que defende está por trás da reação do partido às prisões

Dirceu (esq.) e Genoino (dir.) de punho cerrado e braço erguido, ao serem presos: gesto da Internacional Socialista | Adriano Lima/Folhapress ; Eduardo Knapp/Folhapress
Dirceu (esq.) e Genoino (dir.) de punho cerrado e braço erguido, ao serem presos: gesto da Internacional Socialista (Foto: Adriano Lima/Folhapress ; Eduardo Knapp/Folhapress)
Joaquim Barbosa: PT alega que ministro abusou de sua autoridade nas prisões do mensalão |

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Joaquim Barbosa: PT alega que ministro abusou de sua autoridade nas prisões do mensalão

Ao levantarem os punhos cerrados enquanto eram presos, o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino resgataram um antigo gestual da Internacional Socialista – organização mundial que luta pelas causas da esquerda. A ideia de que os petistas estão sendo punidos justamente pela "causa" que defendem, numa espécie de revanche dos setores conservadores da sociedade, está por trás da reação do PT ao resultado do julgamento do mensalão – que se difere substancialmente do comportamento dos demais partidos, que geralmente buscam se desvincular dos envolvidos em escândalos de corrupção.

O cientista político da PUCPR Mário Sérgio Lepre avalia que setores do PT creem na equivocada ideia de que os crimes cometidos por Dirceu, Genoino e outros petistas durante o mensalão seriam justificados exatamente pela "causa" e pelo histórico político de suas lideranças. "É uma visão de que um erro ‘pequeno’ seria justificado pelo bem maior", afirma, se referindo ao projeto do partido para o país.

Segundo Lepre, o discurso de enfrentamento com o Judiciário e a imprensa ajuda a mobilizar a militância ao redor do PT e serve como fator de união. Mas o cientista político avalia que essa atitude é uma "faca de dois gumes": ao mesmo tempo que mobiliza a base, o partido desagrada a outros setores da sociedade ao fazer a defesa pública de condenados. Isso pode ser um fator prejudicial nas eleições do ano que vem, diz Lepre.

O professor de Comu­­ni­­cação Social da Univer­­sidade Tuiuti (UTP) Álvaro Nunes Larangeira, porém, discorda de Lepre. Para ele, o mensalão já causa danos à imagem do PT desde 2005, e mesmo assim o partido conseguiu sair vitorioso em duas eleições presidenciais sucessivas.

Vítima

Larangeira, cuja tese de doutorado aborda as estratégias comunicacionais do PT durante o mensalão, afirma que o gesto dos punhos cerrados e a reação dos petistas após as prisões demonstram que o partido se vê como vítima do Judiciário. "É uma forma de externar essa visão e levar o embate do campo jurídico para o campo político", afirma ele. Não por acaso, o ex-presidente Lula declarou, na quinta-feira, que a reeleição da presidente Dilma Rousseff será a resposta do PT às prisões dos petistas.

O comportamento do PT difere significativamente de outros partidos de políticos envolvidos em escândalos de corrupção. O ex-governador de Brasília José Roberto Arruda, envolvido no mensalão do DEM, foi pressionado pela cúpula da legenda a deixar o partido – e, antes desse escândalo, ele já havia sido forçado a deixar o PSDB por adulterar o painel de votações do Senado. O PSDB também evita falar sobre o mensalão tucano, que envolve o ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo – que segue filiado ao partido.

Larangeira explica que, enquanto a maioria das legendas do país tem baixa identificação com seus filiados, o PT é mais consistente, e funciona, de fato, como um partido. Isso faz com que os militantes petistas defendam seus condenados. "Os outros partidos não tem uma identificação ideológica e renegam suas crias em nome do moralismo", afirma.

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