• Carregando...
 | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

A série

A série de reportagens "Democracia em Construção", que será publicada até o próximo domingo, busca mostrar quais são as teorias políticas contemporâneas que tentam aprofundar a democracia. Na próxima semana, o tema será informação e poder.

Leia mais

• Comunidade e Democracia – A Experiência da Itália Moderna, de Robert D. Putnam

• Esferas da Justiça, de Michael Walzer

• Democracia na América, de Alexis de Tocqueville

Entrevista

Vida comunitária é um treino para a cidadania, diz filósofo

Leia entrevista completa com Michael Walzer, filósofo norte-americano e ex-professor da Universidade Harvard

O que um clube de observação de pássaros pode ter a ver com o fortalecimento da democracia? Em princípio, nada. Mas no fundo a relação pode existir, de acordo com uma tese que há mais de 20 anos vem dividindo opiniões entre filósofos e cientistas políticos. Escrito na década de 1990, Comunidade e Democracia, do cientista político norte-americano Robert Putnam, tenta provar que a existência de um governo eficiente e democrático tem estreita relação com a vida cívica local. Quanto mais as pessoas participam de qualquer tipo de grupo, clube, associação, mais a sociedade tende a ser forte e a ter condições de ter um bom governo.

Putnam baseou seu trabalho em uma situação encontrada na Itália. Até os anos 1970, os italianos só tinham um governo central, em Roma, e prefeituras. Quando foram implantar os governos regionais, o pesquisador passou a pesquisar a administração pública. Acompanhou esse desenvolvimento por 20 anos. Descobriu que os governos do Norte do país acabaram sendo muito mais eficientes do que o do Sul.

Ele cruzou os dados para ver quais variáveis explicavam o resultado. A única correlação que explicava todos os resultados, segundo o cientista político, era a atividade cívica dos cidadãos. Onde havia mais civismo, onde as pessoas se associavam e tentavam perseguir objetivos comuns, o governo ia bem. Onde as relações eram frias – e ao invés de laços de cooperação havia hierarquia e obediência à autoridade – o governo ia mal. Nesses locais, diz Putnam, falta "capital social".

Segundo o professor de Ciências Sociais Ednaldo Aparecido Ribeiro, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), a tese de Putnam pôs dados novos em uma teoria que já vinha se apresentando há 200 anos – pelo menos desde que o filósofo francês Alexis de Tocqueville visitou os Estados Unidos e elogiou a vida social dos norte-americanos. "A contribuição dessa segunda geração reside na apresentação de dados que possibilitam testar diretamente o efeito dos padrões de valores, atitudes e comportamentos sobre o funcionamento das instituições", afirma.

Contraponto

Nem sempre, porém, a tese de Putnam tem sido bem-vista. Segundo José Leon Szwako, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná, muitos pesquisadores acreditam que o norte-americano não conseguiu estabelecer de maneira definitiva a relação entre bom governo e vida cívica ativa. Pelo menos não no que diz respeito ao estabelecimento de uma democracia melhor, mais inclusiva.

"O vetor final do associativismo pode não ser democrático. Pode não levar à inclusão", diz Szwako. "Veja o caso do casamento gay, por exemplo. Acabou sendo resolvido, por enquanto, no Brasil, pelo Judiciário. O Legislativo, onde a pressão democrática poderia funcionar, não trata desse e de outros temas quentes até por existirem frações da sociedade que estavam articuladas, associadas, contra esses direitos."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]