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Edifício Essenfelder: desapropriação, por R$ 19 milhões, provocou críticas. Para a OAB, novo Fórum seria mais urgente | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Edifício Essenfelder: desapropriação, por R$ 19 milhões, provocou críticas. Para a OAB, novo Fórum seria mais urgente| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Longa espera por nova estrutura

Themys Cabral

A OAB-PR teme que a destinação de R$ 91 milhões do TJ para a desapropriação do Edifício Essenfelder, no Alto da Glória, adie os planos de construção do Fórum Cível de Curitiba. O prédio, na esquina da Rua Mauá com a Avenida João Gualberto, será a nova "Sede Mauá" do TJ. A aquisição do imóvel gerou polêmica entre profissionais do Direito da capital, que viam mais prioridade para investir no novo Fórum – uma reivindicação de muitos anos dos advogados paranaenses.

Os problemas no atual Fórum Cível de Curitiba são velhos conhecidos dos advogados e da população. As soluções prometidas também vêm de longa data. Já em 2010, uma inspeção feita pelo Conselho Nacional de Justiça no Paraná criticou o espaço reduzido para os cartórios do Fórum Cível. Um diagnóstico informal do Poder Judiciário, feito pela OAB-PR em 2007, também já mostrava o problema.

De acordo com a OAB-PR, o prédio-esqueleto que ficou por anos abandonado no Centro Cívico de Curitiba serviria ao novo Fórum. Mas jamais foi concluído para este fim, sendo destinado a abrigar o Palácio das Araucárias, do governo estadual, em 2007. Por fim, surgiu o projeto do Centro Judiciário, em 2006, um complexo que seria construído no terreno da antiga Penitenciária do Ahú.

Com tantas idas e vindas, advogados paranaenses têm mostrado preocupação diante da falta de solução para o impasse. "Aquele esqueleto no Centro Cívico era a prova de que como o problema é antigo", afirma o advogado Alfredo de Assis Gonçalves Neto, presidente da OAB-PR entre 1995 e 1997. O advogado Edgard Luiz Cavalcanti de Albuquerque, presidente da OAB-PR entre 1998 e 2000, lembra que, durante a sua gestão, chegou a tomar posse simbolicamente do prédio-esqueleto como forma de chamar atenção para o problema.

Com a notícia da desapropriação do Edifício Essenfelder, a OAB-PR chegou a questionar as prioridades do Judiciário paranaense. "Não digo que vai inviabilizar, mas esta desapropriação deve retardar esta obra [do Fórum Cível]. O gargalo está no primeiro grau e não no segundo grau [o TJ]", diz o atual presidente da OAB-PR, José Lúcio Glomb. "Enquanto não houver um grande esforço para se construir o Fórum Cível, e que isto seja efetivado, novas aquisições para outras finalidades levam descrédito. Os recursos financeiros primeiro deveriam observar essa ordem de prioridade [o Fórum Cível]."

Glomb lembra que o problema no Fórum já se arrasta por quase três décadas. "Curitiba precisaria de mais dez varas cíveis, mas o prédio não comporta ampliação", diz. Glomb, porém, reconhece os avanços do Judiciário paranaense nos últimos anos. "A atual administração tem feito efetivos progressos, mas ainda não é o suficiente. Há um descompasso entre o que existe e a real necessidade de estrutura."

A construção da nova sede do Fórum Cível de Curitiba deve finalmente sair do papel até o início de agosto. Essa é a expectativa do presidente do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ), Miguel Kfouri Neto. De acordo com ele, a obra está atrasada por questões técnicas do processo de licitação. Isso deve ser resolvido ainda nesta semana.

"A primeira etapa da obra deve ser lançada, se Deus quiser, até o início do próximo mês", diz Kfouri. O assunto voltou à tona recentemente após o anúncio da desapropriação do Edifício Essenfelder, no Alto da Glória, que passará a ser uma das sedes do TJ. A desapropriação, por R$ 91 milhões, gerou polêmica, pois há anos a seccional do Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) vem alertando sobre os problemas da atual sede do Fórum Cível e pressionando pela construção de um novo espaço (leia mais na reportagem abaixo). A OAB-PR esperava que essa obra tivesse prioridade no planejamento do TJ.

Críticas

A precariedade das instalações da sede atual do Fórum Cível de Curitiba foi um dos pontos criticados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em relatório divulgado em julho de 2010. O relatório apontou uma centena de distorções de ordem administrativa e financeira no TJ que poderiam provocar desperdício de recursos e morosidade no julgamento de processos.

Embora o TJ tenha trabalhado para atingir as metas propostas pelo CNJ para corrigir essas distorções, pelo menos uma delas ainda está pendente de cumprimento integral – a obra do novo fórum.

Segundo o juiz auxiliar da presidência do tribunal e responsável pelo cumprimento das metas do CNJ, Francisco Cardozo Oliveira, desde o ano passado o TJ já empenhou recursos no orçamento para a construção do novo Fórum. A obra só não iniciou em razão do trâmite do processo de licitação.

Oliveira explica que na licitação da primeira etapa do Fórum Cível, em março, três empresas compareceram ao pregão eletrônico: as empreiteiras Cassol, DM e a OTT. Na fase da habilitação técnica, as três foram impugnadas pela comissão de licitação, mas apenas a Cassol recorreu. Segundo Oliveira, no caso dessa empresa, a comissão aferiu que o engenheiro que tocaria a obra tem atestado técnico que não atende a toda a especificação do edital. As outras tinham prazo para impugnar o recurso da Cassol, mas não o fizeram.

Assim, a habilitação será decidida pela presidência do TJ. Kfouri já adiantou que deve aceitar a habilitação da Cassol. Para ele, a empresa foi inabilitada por um detalhe técnico sanável. "Era uma exigência exagerada que adiou em 30 dias uma construção que já estava atrasada."

A partir da homologação da habilitação, o TJ do Paraná precisa definir o preço com a empresa e determinar o início da obra. O valor da primeira etapa é estimado em R$ 14,5 milhões para a instalação da estrutura de 16 mil metros quadrados no terreno da antiga Penitenciária do Ahú. Uma segunda etapa, que prevê o acabamento do edifício, ainda precisa ser licitada. Desse modo, o custo final do novo Fórum deve ficar em torno de R$ 45 milhões. Ao final da obra, o espaço físico do novo fórum será dobrado em comparação ao das varas cíveis hoje existentes na capital.

Novo relatório

O relatório do CNJ de 2010 é o último dado objetivo a respeito dos problemas de infraestrutura da Justiça Estadual. Em 2011, uma inspeção do CNJ reavaliou a Justiça paranaense. Mas o novo relatório só deve ser divulgado em setembro.

PromessaTribunal garante que a desapropriação não atrasará o novo Fórum

O TJ descarta a possibilidade de a desapropriação do Edifício Essenfelder adiar a construção do novo Fórum Cível de Curitiba. O juiz auxiliar da presidência do TJ, Fernando Cardozo Oliveira, garante que um investimento não impede o outro e que a desapropriação não afetará a obra do novo fórum, já prometida ao Conselho Nacional de Justiça. "Quando o processo de desapropriação foi decidido, a licitação do Fórum Cível já estava em andamento havia bastante tempo. O dinheiro para a construção do Fórum já está empenhado e só serve para este fim específico", explica Oliveira.

O presidente do TJ, Miguel Kfouri Neto, assegura que o Fórum também é prioridade. "Um grande erro é imaginar que não estamos sensíveis à necessidade de melhora de atendimento dos advogados e do público em geral. Nós estamos fazendo um grande esforço para proporcionar um serviço melhor para a população", diz ele. Segundo Kfouri, a aquisição do Prédio Essenfelder, que era de propriedade dos empresários Seme e Faissal Raad, também vai melhorar o atendimento. A ideia do TJ é que sejam transferidas para a nova sede 14 varas de atendimento ao público. Também devem ser transferidos o departamento que processa todos os recursos do TJ, a estrutura do Funrejus, a Escola da Magistratura e 55 gabinetes de desembargadores e 60 de juízes substitutos. Os atuais inquilinos têm até meados de outubro para desocupar o prédio.

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