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Estar fora do Brasil nos últimos meses tem suas vantagens (e também desvantagens). Um ponto positivo é ficar menos suscetível à “contaminação” de conteúdos diversificados, em grande quantidade e muito velozes – principalmente a partir das redes sociais – sobre a crise de legitimidade política dos poderes constituídos brasileiros. Esses conteúdos, que se aproximam mais de ruído que de informação, na maioria das vezes têm a função de dificultar a formação de opinião.

Destacam-se fatos mais estridentes, radicais e “explosivas” composições de texto e imagem (feitas por profissionais) com o objetivo de confundir e não esclarecer. Esse é o dilema da sociedade da transparência. E com ele precisamos aprender a conviver.

CRISE POLÍTICA: Acompanhe as últimas notícias sobre o Impeachment da presidente Dilma

O Brasil vive uma crise? Sim, é claro que vive. Uma crise institucional aguda. Uma crise que se dá pela baixa qualidade dos representantes públicos da atual geração (sem isso não teríamos uma presidente da República sem nenhuma vivência de política partidária e eleitoral).

Podemos pensar, também, o ano de 2015 como um ponto de inflexão. O que queremos da nossa democracia a partir daqui?

Por outro lado, não vejo uma crise social crônica. Quem vive essa crise são muitos países europeus que eu 2014 registraram duas mortes para cada nascimento em muitos países da região. Essa sim é uma crise social crônica e silenciosa. A do Brasil é aguda e estridente; crise da maturidade política.

Nossas instituições democráticas, inclusive a previsão de impeachment, estão chegando aos trinta anos. Não dá para achar se temos uma democracia jovem. Ao contrário, nossas instituições precisam demonstrar que amadureceram e que não se deixam levar por emoções vazias ou “paixões de verão”.

Nossa crise está nos três poderes, ainda que os meios de comunicação enquadrem apenas o poder Executivo de maneira geral, o que é explicado pela nossa cultura presidencialista. Mas também da baixa capacidade política da presidente Dilma Rousseff, que não consegue ser líder político.

O governo Dilma Rousseff pode ser julgado politicamente? Claro que pode. O que diferencia Dilma dos governadores de Estado que também deram suas “pedaladas fiscais” em 2014 para fechar o orçamento em uma situação de pré-recessão? A diferença está no fato de que esses governadores atuam politicamente. Mas a crise também está no(s) legislativo(s). O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foi “abatido” em pleno voo pela opinião pública.

Pode até continuar no cargo, mas não tem sustentação moral. Basta uma olhada rápida na agenda oficial do presidente da Câmara para perceber que nenhuma instituição de peso agendou audiência com ele. Mas a crise também está no Judiciário, que resolveu ultrapassar os limites constitucionais para fazer “justiça antecipada” à manutenção do “bom nome” do STF.

Há uma queda generalizada da qualidade dos agentes públicos que operam a política brasileira. O que acontecerá agora, com o início do processo de impeachment, não se sabe. Mas pode-se garantir que qualquer resultado de curto prazo será melhor do que a situação atual. Pelo menos contribuirá para reduzir o “ruído”.

O processo pode ser rejeitado já na primeira votação do relatório e isso encerrará a dúvida sobre se o governo Dilma vai até 2018 ou não. Ou, o processo pode se “arrastar” até 2016, ser votado e ter 342 votos favoráveis ao impedimento da presidente. Esse resultado será melhor que a manutenção da crise aguda que parece tirar o fôlego do País a cada nova semana. Está cansativo e monótono.

Podemos pensar, também, o ano de 2015 como um ponto de inflexão. O que queremos da nossa democracia a partir daqui? A continuidade das investigações e julgamentos pela Justiça federal de atos de corrupção? A migração das investigações do Ministério Público Federal para os ministérios públicos estaduais? Ou alguém acha que com os mesmos agentes públicos e mesmas empresas atuando nos estados e municípios a corrupção está restrita ao governo federal? Ou queremos quebrar a sequência de investigações e julgamentos? Para alguns, seria ideal.

O único palpite que eu arriscaria sobre o futuro é que Dilma Rousseff sairá de cena em 2018 ou antes, se impedida pelo Congresso. Restarão os demais atores políticos que já estavam e continuarão operando o sistema representativo brasileiro.

*Emerson U. Cervi é cientista política da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

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