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Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil | Reprodução
Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil| Foto: Reprodução

Factóide faz parte da política nacional

Os factóides, segundo cientistas políticos, fazem parte da política nacional. Os especialistas na área alertam ainda para o fato de a mídia ter uma função importante nesse processo, uma vez que é a intermediária entre o produtor e o receptor dos factóides.

"Os factóides fazem parte da ação política. É o famoso jogar para a imprensa. Como vivemos em um sociedade de informações, eles ganham várias dimensões", analisa o cientista política Mário Sérgio Lepre, autor do livro "Caos partidário paranaense". Para ele, os factóides podem ser tanto fatos verdadeiros como mentiras. "Nesse caso (mentiras), o factóide não se sustenta. O fato desmente o factóide. A realidade e o tempo desmentem o factóide."

Segundo Lepre, o governador Roberto Requião é um especialista nessa forma de agir. "Ele tem essa tendência clara, pois fala demais e joga palavras ao léu. O Requião é conhecido pelo que ele fala", disse o cientista político. Para ele, o ex-prefeito de Londrina e atual deputado estadual Antônio Belinati (PP) é outro que se encaixa nesse perfil. "São políticos mais populistas."

Já para o cientista político Renato Monseff , da UFPR, os factóides são um forma de esperteza dos políticos, para desviar o foco do assunto que realmente interessa. "Essa forma de agir não contribui em nada para elevar a qualidade da discussão política, o que faz com que os políticos fiquem ainda mais desacreditados."

Para Monseff, deveria haver um comissão de avaliação nas empresas de comunicação para se verificar o que realmente importa ser publicado. "Sem isso, com essas artimanhas os políticos definem a agenda." Segundo ele, Requião, por exemplo, tem uma fala mais agressiva e o que o governador diz tem repercussão. "O Requião é contundente no que fala e isso gera maior impacto."

Aliados do governador, porém, dizem que Requião não é um criador de factóides. O deputado Waldyr Pugliesi, líder do PMDB na Assembléia diz que o governador tem, na verdade, posições em favor do interesse público. "Não tem nada de factóide. Vejam o caso dos transgênicos: há um mercado cativo (para orgânicos) na Europa. E a participação da Copel no pedágio vai jogar as tarifas abusivas para baixo."

A oposição ao governo Roberto Requião na Assembléia Legislativa também tem seus factóides. Neste ano, criou suspeitas contra o governo, amplamente divulgadas à imprensa, sem conseguir apresentar ou obter provas consistentes.

Em pelo menos dois casos ficou demonstrado que as denúncias oposicionistas eram infundadas: a suposta inexistência de entradas USB (para pen drive) nas televisões laranjas compradas pela Secretaria Estadual de Educação; e gastos com cartões corporativos da parte de membros do governo estadual, que teriam chegado ao valor de R$ 120 mil em uma única viagem.

No caso das televisões, a oposição havia denunciado que os 22 mil aparelhos, além de terem sido comprados por valor acima do mercado, não teriam um item previsto no edital de licitação: as entradas USB. Mas ao menos a denúncia de que os televisores não tinham entrada para pen drive era falsa. O líder da oposição, Valdir Rossoni (PSDB), porém, afirma que ainda faltam explicações do governo sobre o preço dos aparelhos. Ele lembra que a Cequipel, empresa vencedora da licitação, é especializada em venda de móveis e não em eletrodomésticos, além de ter sido a maior doadora da última campanha de Requião.

Já a acusação de que o governo estaria fazendo uma "farra" com dinheiro público em viagens oficiais partiu do deputado Ademar Traiano (PSDB), que interpretou equivocadamente os dados do site Gestão do Dinheiro Público, no início de julho. Ao analisar a rubrica orçamentária "pouso", na página de internet, o deputado entendeu que o gasto de R$ 120 mil teria ocorrido em uma única pousada – o que posteriormente foi desmentido.

Outro factóide da oposição foi a ameaça de investigar o contrato da Sanepar com a Pavibrás por meio de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI). A Pavibrás foi contratada para realizar obras de esgoto no litoral por R$ 69 milhões, acabou recebendo R$ 130 milhões e deixou parte das obras paradas. A CPI, porém, nem sequer foi pedida.

Valdir Rossoni ainda denunciou irregularidades nos contratos de apólices de seguro entre a Sanepar e a Pavibrás. Apontou como grave o fato de que, na tomada de preço para firmar o contrato de seguro, a Sanepar teria consultado três seguradoras, duas delas "fantasmas". A denúncia ficou, porém, só no discurso. O deputado admite que não levou as suspeitas adiante, nem encaminhou documentos ao Ministério Público.

Mas Rossoni diz que agora a estratégia da oposição vai ser diferente. "A partir de segunda-feira vamos agir de forma diferente. Em primeiro lugar, iremos fazer tudo através da Justiça. Em caso de dúvidas, vamos encaminhar denúncia ao Ministério Público", assegura Rossoni.

O líder do governo na Assembléia, Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), não considera que esses episódios da oposição sejam factóides. Para ele, a oposição vem agindo de forma correta, buscando fiscalizar o Executivo. "Esses temas foram abordados porque envolvem a gestão pública." Segundo Romanelli, os questionamentos que a oposição tinha sobre esses assuntos foram respondidos.

"Eles estão no direito deles de se contrapor ao governo. Mas muitas coisas são levantadas e, na prática, não se vê resultados", diz o líder do PMDB, Waldyr Pugliesi. "É lógico que o papel da oposição é cutucar o governo permanentemente."

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