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Após três horas de debates acalorados e até bate-boca, o presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), resolveu aceitar o apelo da oposição e desistiu de unificar a terceira e a quarta representação contra Renan Calheiros (PMDB-AL) - uma investiga se o presidente do Senado usou laranjas para comprar veículos de comunicação em Alagoas e a outra apura se ele participou de suposto esquema de corrupção em ministérios comandados pelo PMDB. Quintanilha manteve, no entanto, o senador Almeida Lima (PMDB-SE), aliado de Renan, como relator de uma das representações, sem definir qual delas o membro da tropa de choque renanzista irá comandar. O relator do processo que sobrar será decidido nesta quarta-feira, de acordo com o presidente do colegiado.

Quintanilha decidiu ainda acatar o cronograma de trabalhos proposto pela oposição, que fixa um prazo de 30 dias para que sejam conduzidas as investigações das três últimas representações contra Renan. Com isso, o senador João Pedro (PT-AM) não apresentou seu relatório referente ao caso Schincariol. Apesar da definição do prazo, Quintanilha fez questão de ressaltar que não garante que até novembro, ou mesmo dezembro, os processos estarão finalizados:

- Não dou garantia nenhuma de que os relatórios serão votados em dezembro. Se os relatores acharem necessário mais prazo, eu darei - disse.

A decisão foi bem recebida pela oposição. O líder do DEM, José Agripino (RN), deixou a reunião classificando o adiamento como uma "saída razoável".

O novo prazo de 30 dias pode ser prejudicial a Renan. É que até lá o plenário do Senado poderá votar uma das propostas de emenda constitucional (PEC) que acabam com o voto secreto. Há pelo menos duas PECs que tratam do assunto prontas para apreciação: uma de autoria do ex-senador e atual governador do Rio, Sérgio Cabral, que propõe o fim do voto secreto apenas nos processos de cassação de parlamentares; outra do senador Paulo Paim (PT-RS), que prevê o voto aberto para qualquer votação.

Casagrande cogita recorrer ao STF

Almeida Lima foi um dos relatores da primeira representação contra Renan, que investigou se ele teve contas pessoais pagas por um lobista de uma empreiteira. Renato Casagrande (PSB-ES), outro dos relatores da primeira representação contra Renan, afirmou que Quintanilha deveria ter escolhido um outro relator para garantir a isenção do processo. Ele cogita recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).

- Se eu fosse escolhido, não aceitaria. Assim como ele não deveria ter aceitado. A escolha dele tira a isenção do processo e aprofunda a crise no Senado - disse.

Mas o clima na sessão do Conselho de Ética esquentou mesmo quando o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), pediu a palavra:

- Faço um apelo ao bom senso, essa escolha parece uma provocação - atacou Agripino.

Sempre explosivo, Almeida Lima não aceitou as críticas e rebateu o líder do DEM:

- Não vejo condições morais e éticas para que o senador Agripino me questione - rebateu Almeida Lima, que se envolveu ainda em um bate-boca com Cristovam Buarque (PDT-DF).

- Que questões morais são essas? - irritou-se Agripino.

Quintanilha tentou acalmar os ânimos, argumentando que a indicação de Almeida Lima não representa uma tentativa de abafar o caso Renan:

- Não houve intenção de provocar quem quer que seja. Respeito todos desse conselho - disse.

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), sugeriu um sorteio com os nomes do demais membros do conselho que ainda não foram escolhidos para relatar processos. Para ele, a escolha de Almeida Lima foi um erro de Quintanilha.

- Ele escolher, de novo, como relator, uma pessoa de posição tão conhecida, extrapola a razoabilidade, a sobriedade (do processo) - argumenta.

O corregedor da Casa, Romeu Tuma (DEM-SP), considerou que a unificação dos dois processos seria "misturar dois fatos completamente diferenciados".

Renan diz que escolha deve ser vista com naturalidade

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), concede entrevista ao chegar ao Congresso - Agência Senado

Já Renan se mostrou tranqüilo e disse que não compete a ele comentar a escolha do novo relator.

- Da outra vez, escolheram o Casagrande, a Marisa Serrano, e eu também não disse nada. É o presidente que escolhe, é a competência dele - disse.

Antes mesmo da oficialização da escolha de Almeida Lima, o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), e o senador Gilvam Borges (PMDB-AP) apostavam no arquivamento sumário da terceira representação, assinada pelo PSDB e pelo Democratas, que solicita a investigação da denúncia de que Renan teria usado laranjas na compra de duas rádios e um jornal em Alagoas. Como a operação teria sido realizada em 1998, os peemedebistas alegam que a denúncia refere-se a um fato anterior ao atual mandato de Renan, que começou em 2002, embora na ocasião da compra ele já fosse senador.

A quarta representação contra Renan, apresentada pelo PSOL, refere-se à denúncia de que o presidente do Senado participaria de um esquema de cobrança de propinas nos ministérios controlados pelo PMDB. A denúncia foi feita pelo ex-genro do lobista Luiz Garcia Coelho, amigo de Renan Calheiros.

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